Concurseiro: trabalhar para o governo tem suas vantagens, mas não é para todo mundo (Creative Commons)
Claudia Gasparini
Publicado em 26 de maio de 2015 às 15h08.
São Paulo - Não é de hoje que cargos conquistados em concursos públicos são concorridos. Mas o projeto de trabalhar para o governo parece estar ganhando cada vez mais adeptos nos últimos anos.
O principal motivo são os altos salários iniciais oferecidos pelo governo, explica Eduardo Ferraz, consultor de carreira e autor do livro “Seja a pessoa certa no lugar certo” (Editora Gente, 2013).
“A remuneração para profissionais em início de carreira, como advogados ou engenheiros, acabou se tornando muito maior na esfera pública do que na privada”, diz ele. “Isso pode ser muito atraente para quem está começando”.
Ser concursado também é o sonho de quem busca estabilidade - um valor de peso em tempos de incerteza econômica.
Segundo Ferraz, o único problema com todo esse entusiasmo pela carreira pública é idealizá-la. "Algumas pessoas acham que passar num concurso será a solução para todas as adversidades da vida", diz ele.
Infelizmente não é bem assim. Depois de passar por um processo seletivo longo e difícil, o candidato pode descobrir com o tempo que o serviço público é completamente incompatível com a sua personalidade.
Veja a seguir alguns indícios de que o Estado pode não ser o seu empregador ideal:
1. Você gosta de mudanças
A propalada estabilidade dos empregos públicos tem o seu lado B: na maioria dos casos, a rotina do servidor sofre raras alterações. Pelo menos se o referencial de comparação forem os empregos na iniciativa privada. “Não adianta dizer que você ‘enjoou’ de um determinado projeto ou de departamento”, diz Ferraz. “É bem mais difícil mudar de lugar”.
2. Você se motiva por desafios
Segundo Marcus Bittencourt, advogado e professor do Damásio Educacional, a estrutura pesada da máquina pública costuma trazer muitos obstáculos para atingir resultados inéditos e bater metas. Além de assustar quem está acostumado a desafios frequentes, a situação pode trazer o receio de estagnação profissional.
3. Você quer subir rápido na carreira
A carreira pública pode ser muito frustrante para quem tem pressa de chegar ao topo. Isso porque a progressão é tipicamente lenta, demora décadas. "As promoções demoram a acontecer porque dependem de diversos trâmites burocráticos", explica Ferraz.
4. Você tem necessidade de inovar
De acordo com Rodrigo Lelis, professor do Universo do Concurso Público, a maioria dos empregos públicos abre pouco espaço para a inovação. "Não é um limite tão rigoroso, já que novas ideias para aumentar a eficiência são sempre bem-vindas”, diz ele. O problema é que há um rígido controle burocrático de cada procedimento, às vezes estabelecido em lei, que não dá margem para certas mudanças.
5. Você quer fazer fortuna
É verdade que os salários iniciais são melhores na esfera pública, mas não há limite de renda para os mais competentes nas empresas. Por isso, diz Bittencourt, quem quer ganhar muito dinheiro pode acabar se decepcionando. "No fundo, quem procura uma carreira pública deve buscar um significado maior em sua vida profissional, sua missão na sociedade, e não procurar apenas um bom salário”, afirma o professor.
6. Você gosta de liberdade
Bittencourt diz que empregos no governo tendem a ser pouco flexíveis. Pessoas que buscam liberdade para agir e rapidez para fazer as mudanças acontecerem se dão melhor na iniciativa privada.
7. Você é muito competitivo
Para Ferraz, há menos espaço “brilhar” e se sobressair aos colegas num emprego público do que na iniciativa privada. “Não adianta trabalhar 12 horas por dia e esperar que você se destacará dos outros por causa disso”, afirma.
8. Você odeia burocracia
Se processos longos e engessados existem até em empresas privadas, que dirá em instituições governamentais. Pensada como forma de dificultar a corrupção, a burocracia é uma característica indesviável do serviço público. Por isso, diz Ferraz, se você não lida bem com “papelada”, é bom repensar sua inscrição no próximo concurso.