Cultura de inovação: atitudes simples dentro das organizações podem trazer resultados fortes (UberImages/Getty Images)
Em tempos de recessão, o empreendedorismo tem sido a saída para muitos profissionais. Empresas como Uber, Airbnb e Spotify, por exemplo, surgiram logo após a crise global de 2008. A missão é mais complicada quando envolve grandes empresas, com estruturas pesadas e sem muita mobilidade. Assim como navios transatlânticos, uma simples manobra representa um grande esforço e um tremendo desafio. Mas está longe de ser uma tarefa impossível.
Segundo Marcelo Nakagawa, professor do Insper, a criação de cultura de empreendedorismo a partir de atitudes simples dentro das organizações pode trazer resultados fortes. “As empresas precisam enxergar a inovação como uma oportunidade, e não como uma ameaça”, diz ele.
É por isso que muitas corporações têm buscado a agilidade vista em startups, por exemplo, para o seu dia a dia. Não há um manual de instruções, mas alguns comportamentos profissionais influenciam positivamente a companhia. Veja abaixo seis dicas que podem ajudar nesse processo.
A ideia de que é preciso se adaptar aos novos tempos e à tecnologia não pode vir somente dos jovens que acabaram de entrar na companhia. Presidentes, vice-presidentes, diretores e todos os cargos mais altos precisam adotar o discurso.
De acordo com Nakagawa, além de mudarem o pensamento, os executivos precisam ir atrás de informações do que há de mais inovador no setor. Visitar companhias e conversar com executivos – inclusive concorrentes – que estão um passo à frente nessa transformação é fundamental para alcançar melhores resultados.
Apesar de o tema inovação estar em voga nos discursos de muitos executivos, alguns se perdem na definição. O professor Thales Teixeira, da Harvard Business School, explica que inovação é a combinação de algo novo e útil. Se for apenas uma novidade, trata-se de criatividade.
Mas o que é útil para um setor pode não ser para o outro. É necessário ter metas bem definidas de aonde a empresa quer chegar e em quais áreas quer inovar. É preciso lançar novidades? Ou mudar a forma como sempre fabricou os produtos? Será preciso criar um novo mercado?
Pode parecer algo simples, mas, segundo Nakagawa, é comum enxergar a inovação apenas como uma forma de reduzir custos internos. “Aumento das vendas ou redução dos gastos são consequências de um processo bem-feito”, diz ele.
Errar faz parte de qualquer processo criativo. Se a companhia não permitir que falhas aconteçam, jamais vai conseguir alcançar inovações efetivas. Mais: não vai ter funcionários em busca de soluções que possam alterar o patamar da empresa. Cabe ao líder aproveitar as gerações mais novas, como a Y e a Z, que querem deixar a sua marca no lugar onde trabalham. O dinheiro, muitas vezes, é secundário. Por isso, se não houver esse estímulo internamente, a empresa poderá perder seus talentos.
Foi o caso das empresárias Barbara Almeida e Mariana Penazzo. Antes de fundarem a Dress & Go, startup de aluguel de vestidos para festas, ambas trabalharam em grandes companhias. A falta de estímulo e a sucessão de projetos engavetados fizeram com que elas buscassem alternativas fora do mercado corporativo. “O principal motivo de ter saído para abrir minha empresa foi justamente por sentir falta de ver o impacto do meu trabalho”, diz Barbara. “Sabia que isso não era explorado onde eu estava.”
Investir na educação ajuda a melhorar os resultados e a reter talentos valiosos. Há uma infinidade de cursos sobre inovação. É possível encontrar pela internet programas de ensino e mentoria de renomadas universidades estrangeiras. Muitos deles, inclusive, são gratuitos.
Em diversos momentos, no entanto, é importante buscar cursos presenciais. Há instituições de ensino, como o Insper, que possuem cursos totalmente voltados para a inovação e o empreendedorismo. A troca de conhecimento entre alunos e professores em uma sala de aula pode resultar em diversas ideias para o negócio. Além disso, o networking entre colegas de turma é muito valioso no dia a dia da empresa.
Trazer novas companhias, com serviços já desenvolvidos, pode acelerar o processo de empreendedorismo. Empresas como Itaú, com o Cubo, e Porto Seguro, com a Oxigênio, criaram espaços para dar estrutura para startups – e, quem sabe, utilizá-las para a melhoria de processos das companhias. “Para acelerar esse processo, é preciso criar programas e iniciativas que unam as duas pontas”, diz Henrique Vaz, CEO da CleanCloud, plataforma de gerenciamento de computação em nuvem. “Na maior parte das vezes, grandes empresas sequer sabem da existência de startups que entregam soluções que encaixariam perfeitamente com seus produtos.”
A Telefónica é outro exemplo de empresa que busca a inovação interna, mas sem fechar os olhos para as oportunidades externas. O executivo Renato Valente comanda a Telefónica Open Future e a aceleradora Wayra, também mantida pela companhia espanhola. A empresa já investiu mais de 6 milhões de reais em cerca de 60 empresas. Além do retorno financeiro, essas iniciativas trouxeram soluções internas para a companhia e até a criação de novos produtos, como o 156 Digital, plataforma de comunicação entre prefeitura e cidadão comercializada pela Vivo. “Nosso principal desafio é mostrar para as pessoas o quanto a inovação é importante”, diz Valente.
Diversas empresas sonham em criar produtos que revolucionam o mercado e o jeito de as pessoas consumirem, como aconteceu com o desenvolvimento do Google ou do Facebook. No entanto, segundo Nakagawa, só é possível alcançar tamanha inovação quando o foco total da empresa e das pessoas está no produto ou serviço.
Para uma empresa tradicional desenvolver algo disruptivo, é necessária a criação de uma área independente, que não seja influenciada por burocracias internas ou funcionários pouco motivados. Coisas pequenas, como o bloqueio de determinados sites pelo departamento de TI da empresa, por exemplo, podem representar grandes barreiras para uma empresa que pretende ser reconhecida como inovadora.