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4 dicas da neurociência para aprender uma língua mais rápido

Quer dar um salto no seu aprendizado de inglês, espanhol, francês ou qualquer outro idioma? Veja lições extraídas da neurociência para alcançar seu objetivo

Letras: lições valiosas para acelerar o domínio de um idioma (Thinkstock/IGraDesign)

Letras: lições valiosas para acelerar o domínio de um idioma (Thinkstock/IGraDesign)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 1 de abril de 2016 às 06h00.

Última atualização em 24 de abril de 2017 às 09h34.

São Paulo — Você gosta de dizer que seu inglês é avançado, mas lá no fundo sabe que o seu nível não passa do intermediário?

Saiba que você não está sozinho. A desaceleração do aprendizado de uma língua estrangeira, até o ponto em que o estudante estaciona num patamar mediano, tem até nome: “platô intermediário”.

Conhecido de muitos alunos e professores de idiomas, o fenômeno é extremamente comum no Brasil. E a razão pela qual tantas pessoas chegam a esse ponto de estagnação tem a ver com questões emocionais, diz a neurocientista Carla Tieppo, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

“Em geral, somos muito sensíveis a críticas à nossa forma de falar uma língua estrangeira”, explica ela. “Se, no início do processo de aprendizado, a pessoa se deparou com um professor que fez uma certa expressão facial quando ela pronunciou algo errado, ou fez uma correção sem muito tato, isso pode deixar marcas na relação dela com o idioma”.

Embora profundamente ligado às emoções, o processo também depende fortemente dos seus recursos cognitivos - o que não significa que conquistar a fluência dependa apenas do grau de inteligência verbal de cada um.

Por que algumas pessoas têm mais facilidade com idiomas?

Segundo a professora Carla, a velocidade com que cada indivíduo adquire domínio sobre uma língua está atrelada a múltiplos fatores.

Um deles é a disposição psicológica para o aprendizado. Você pode, por exemplo, deixar que esse processo seja contaminado pela vergonha e pelo medo da exposição. Uma outra postura, mais produtiva, seria estar aberto à tentativa e ao erro, sem impor a si próprio a obrigação de dominar tudo de cara.

Quem tem mais facilidade para línguas costuma ter muita curiosidade e enxergar o aprendizado como um desafio, e não como como um teste.

Também é preciso mencionar o papel das habilidades cognitivas de cada pessoa. A professora Carla destaca a chamada “memória de trabalho”, uma espécie de memória RAM do cérebro.

Como a comparação sugere, trata-se do componente cognitivo que permite processar vários níveis de informação ao mesmo tempo - no caso, dominar simultaneamente pronúncia, significado e regras gramaticais enquanto você se expressa. Quem tem habilidade com esse tipo de “malabarismo” de dados normalmente se sai melhor com idiomas.

Dito isso, as variáveis envolvidas nesse processo ainda não são totalmente conhecidas e continuam intrigando os cientistas.

Basta estudar as regras?

O húngaro Balázs Csigi, fluente em 7 línguas, defende que o processo de aprendizagem pode ser facilitado se o estudante fizer uma imersão na cultura do país que fala o idioma estudado.

“Memorizar palavras não é uma opção se você quer alcançar a excelência”, escreve o poliglota em artigo para o site Business Insider. “Em vez de aprender pela repetição, você precisa ir além da superfície e desvelar a cultura escondida atrás de cada palavra e expressão”.

Para justificar sua tese, o húngaro analisa o sentido da palavra inglesa “reasonable”, muito usada em expressões como “reasonable guy”, “reasonable time” ou “reasonable request”. Em português, o termo equivalente seria "razoável" ou “sensato”, mas é bem menos empregado do que em inglês.

A razão é cultural. Segundo Csigi, o uso frequente de “reasonable”, adjetivo que se origina de “reason”, tem a ver com a admiração da sociedade anglo-saxônica por conceitos como razão, ciência, lógica e senso comum.

Para assimilar essa ou qualquer outra palavra, diz ele, é preciso entender seu significado mais profundo para os povos que a empregam. Daí a importância de se estudar a cultura paralelamente às regras gramaticais e lexicais, e assim dar um salto no seu aprendizado.

Como dominar uma língua mais rápido?

Com base em conceitos e estudos da neurociência, é possível chegar a alguns conselhos práticos para acelerar o processo de aquisição de uma língua.

Veja a seguir 4 deles:

1. Insira seu aprendizado em um contexto
Imagine que você deva dizer em francês a frase “Preciso de um telefone com urgência” em duas situações diferentes: na sala de aula, durante um exercício oral, ou no meio de uma rua escura em Paris, após ter perdido os seus documentos. Em qual momento você exigirá mais do seu cérebro?

A resposta é óbvia. “Quanto maior for a necessidade de compreender uma língua ou se expressar nela, mais veloz será o aprendizado”, diz Carla. É por isso que tantas pessoas se desenvolvem rapidamente num idioma quando moram no exterior. A vida real é muito mais exigente do que as simulações: ou você aprende, ou não sobrevive.

Mas você não precisa necessariamente morar em outro país para ganhar fluência. Basta buscar contexto e necessidade para o aprendizado. Os videogames com áudio em inglês, por exemplo, são um ótimo recurso para esse fim. “Você precisa compreender o que está sendo dito para passar para a próxima fase e continuar jogando", afirma a professora da Santa Casa. "Isso traz um estímulo muito mais poderoso do que um exercício isolado na lousa”.

2. Assista a um mesmo filme estrangeiro 3 vezes
Outro método simples para impulsionar o seu aprendizado é ver três vezes um filme falado na língua que você está estudando. Na primeira, habilite as legendas em português. Na semana seguinte, veja tudo com legendas no idioma estrangeiro. Na terceira e última vez, dê o play no vídeo sem legendas.

Segundo Carla, essa é uma forma interessante de melhorar o seu processamento auditivo. Na terceira vez que assistir ao filme, sem legendas, você já conhecerá a história e talvez se lembre de vários diálogos.

Assim, você fará associações entre forma, som e significado, além de treinar o reconhecimento de várias palavras no outro idioma.

3. Ouça (muita) música
Este conselho vale especialmente para quem já teve contato com a língua estudada por meio de canções.

Você adora um determinado artista que canta em francês, espanhol ou inglês, por exemplo? Ao ouvi-lo - especialmente se tiver a letra da música em mãos - é provável que você tente compreender o que ele canta.

Está aí a grande contribuição da música estrangeira para o estudo de línguas, diz Carla. “A perspectiva de finalmente entender uma letra que você nunca entendeu traz muita motivação, que é uma condição básica para o aprendizado”, explica a especialista.

4. Use expressões na outra língua tanto quanto puder
Outra dica da neurocientista é empregar o idioma estrangeiro com a maior frequência possível na sua rotina - mesmo que seja entre frases em português.

De acordo com Carla, quanto mais você usar a língua em situações do dia a dia, mais rápido irá incorporá-la ao seu repertório - até o ponto em que as palavras sairão automaticamente da sua boca diante de cada acontecimento.

“Se você acha pedante dizer palavras estrangeiras no meio de uma conversa com outro brasileiro, pelo menos faça o exercício mentalmente”, diz a professora. “Ainda assim, falar em voz alta é mais aconselhável, porque permite ouvir a sua própria pronúncia e corrigi-la gradativamente”.

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