Carreira

3 sinais de que seu talento virou uma maldição para sua carreira

O sonho de ser reconhecido como o futuro líder da sua empresa pode virar um pesadelo. Veja se você está caindo nessa armadilha

Executivo nervoso com o próprio talento (xalanx/Thinkstock)

Executivo nervoso com o próprio talento (xalanx/Thinkstock)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 13 de maio de 2017 às 06h00.

Última atualização em 13 de maio de 2017 às 06h00.

São Paulo — Ter um grande talento e ser reconhecido como o futuro líder da sua empresa é o sonho de qualquer profissional. O que poucos imaginam é que essa situação aparentemente perfeita pode se tornar um pesadelo.

Não é raro que muitos jovens promissores se sintam aprisionados pelas expectativas da empresa, como se nunca pudessem sair do papel de “top performers”. É quando o talento vira uma espécie de maldição, dizem Jeniffer e Gianpiero Petriglieri, professores de comportamento organizacional na escola INSEAD, em artigo para o site da “Harvard Business Review”.

Os pesquisadores acompanharam executivos com esse perfil ao longo de 20 anos e perceberam que algumas dinâmicas bastante desfavoráveis se repetiam no médio prazo. Com o desejo de se provarem merecedores dos “aplausos” dos seus gestores, muitos profissionais evitavam desafiar processos ou pedir ajuda para suas tarefas.

O resultado disso é que, ironicamente, as qualidades que os haviam transformado nas estrelas da empresa começaram a desaparecer. Eles passaram a operar em modo automático, sem correr riscos, mais ou menos como todos os outros.

A isso se soma o peso de serem os “heróis” da empresa. “As outras pessoas idealizam o talento dos ‘high potentials’ como uma defesa contra o futuro incerto da companhia”, afirmam os professores da INSEAD. “Os talentosos sentem esse fardo e, se o futuro não é tão brilhante quanto todo mundo esperava, será culpa deles”.

À medida que a competência vai se transformando em estigma, esses profissionais sentem que o seu próprio futuro na organização também está em cheque, e fazem tudo para garantir a sua sobrevivência.

Para não decepcionar as expectativas de chefes, colegas e subordinados — para não mencionar as suas próprias — eles começam a encarar cada nova oportunidade como uma obrigação, e cada novo desafio como um teste.

Inseguro e agarrado ao status quo, o futuro líder vira apenas um funcionário modelo.

Isso porque os riscos deixam de ser oportunidades para o aprendizado e passam a ser evitados a qualquer custo. “É assim que pessoas especiais se tornam comuns”, escrevem os Petriglieri. Em vez de expandir suas habilidades, elas só arriscam movimentos que já dominam bem.

Para evitar esse caminho pouco promissor, é importante identificar sinais de que isso pode estar acontecendo com você. Os especialistas listam três, que você verá a seguir:

1. Você sente que precisa provar o seu talento o tempo todo

Um comportamento tipicamente humano diante de um feedback positivo é saboreá-lo...mas só por alguns instantes. Pouco tempo depois, o prazer do reconhecimento se dissipa e dá lugar ao medo de que surjam expectativas novas e mais difíceis de atender.

Isso é reforçado pela promessa de que haverá aumentos ou promoções caso o seu desempenho se mantenha nas alturas. No esforço de fazer com que isso aconteça, você pode cair numa espiral de ansiedade para mostrar a todos que pode lidar com qualquer desafio da forma mais perfeita possível.

O resultado é o excesso de trabalho e o esgotamento físico e mental. E o pior: por mais que você se esforce, sempre terá a impressão de que não está sendo reconhecido.

2. Você não age naturalmente

Profissionais “amaldiçoados” pelo próprio talento costumam ser muito preocupados com a própria imagem, embora sintam no fundo que gostariam de ser mais autênticos. Preocupados em reafirmar constantemente o seu próprio valor, eles deixam de agir com espontaneidade porque acreditam que só podem expor o seu lado mais brilhante.

Essa situação pode gerar um sentimento de falsidade e inadequação. Muitos acabam sonhando em conseguir um novo emprego, em que possam ser livres para ser eles mesmos, afirmam os professores da INSEAD.

O mecanismo é parecido com o que a psicóloga Alice Miller descreve como o “drama da criança talentosa”. Constantemente apontada pela família como inteligente e curiosa, a criança aprende a esconder seus sentimentos e necessidades para não decepcionar os pais. Com o tempo, essa prática trará uma enorme sensação de vazio e dificuldade para se autoconhecer. Não é muito diferente do que ocorre com os executivos tachados como "top performers" nas empresas.

3. Você está sempre adiando projetos interessantes

Quando entram na armadilha criada pelo próprio talento, muitos profissionais deixam de enxergar valor no presente. Eles imaginam que, se fizerem exatamente o que a empresa quer no momento atual, terão enormes recompensas no futuro. Com isso, o agora perde totalmente a graça e o sentido.

Na prática, isso significa que deixarão de se dedicar a trabalhos prazerosos e importantes para eles se não forem "investimentos" a longo prazo. Em outras palavras, é como se o presente merecesse ser sacrificado em nome de um futuro glorioso — que talvez nunca chegue.

Cedo ou tarde, esse comportamento trará frustração e um desligamento gradativo dos seus próprios objetivos de carreira. Logo a empresa também perceberá isso. Afinal, os resultados de um trabalho feito apenas por obrigação costumam ser medíocres.

Tenho esses sinais. E agora?

De acordo com Jennifer e Gianpiero Petriglieri, a “maldição” do talento é bastante comum e poderosa, mas pode ser quebrada.

O primeiro passo para se livrar dela é assumir o seu próprio potencial sem deixar que ele “possua” você. Em termos mais simples, isso significa não acatar servilmente todas as tarefas transmitidas a você pelos seus gestores, apenas para não decepcioná-los.

Dizer “não” de vez em quando não significa ser rebelde; trata-se simplesmente de estabelecer prioridades e pôr certos limites, quando necessário. “Tenha em mente quais são as suas necessidades e quais são os desejos dos outros, sem deixar que nenhum deles acabe por consumir você”, recomendam os professores.

Muitas vezes, a única forma de não escravizar a si mesmo é pedir ajuda. Não é porque você é visto como um profissional talentoso e promissor que precisa ter sempre todas as respostas. Ao contrário, saber quando buscar o apoio de outras pessoas é um sinal de maturidade e autoconhecimento, duas competências raras e essenciais.

Outra recomendação dos pesquisadores da INSEAD é trazer toda a sua personalidade para o escritório — e não só o lado mais polido dela. “Os nossos maiores talentos costumam brotar de feridas e esquisitices, do lado mais áspero e menos conformistas de nós mesmos, escrevem eles. “Não lute contra essas fontes mais sombrias do seu talento; aprenda a canalizá-las”.

Em tempo: os empregadores também precisam fazer a sua parte. Em vez de rotular os jovens mais promissores como “futuros líderes”, o que estimula comportamentos artificiais e conservadores, as empresas deveriam oferecer apoio prático para que eles progridam. “O melhor jeito de desenvolver líderes é oferecer ajuda para que aprendam a liderar”, concluem os especialistas.

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