EXAME.com (EXAME.com)
Camila Pati
Publicado em 25 de janeiro de 2013 às 05h00.
São Paulo – Assim como as entrevistas de emprego, os processos de seleção de trainees têm dado mais atenção às qualidades comportamentais dos candidatos.
“A tendência é buscar profissionais diferenciados, aqueles jovens que têm brilho nos olhos, maturidade, desprendimento e vontade, por isso a entrevista foca na questão comportamental”, diz Manoela Costa, gerente da Page Talent. Ela lembra que perguntas neste estilo geralmente não são eliminatórias, mas podem mostrar o potencial do candidato para se sair bem durante o programa de trainee.
É certo que cada processo tem as suas particularidades. “A seleção para trabalhar em uma empresa de bens consumo vai ser bem diferente daquela que seleciona trainees na área de engenharia”, explica Manoela.
No entanto, algumas questões são comuns à maioria dos processos seletivos e os candidatos têm que estar preparados para respondê-las. Exame.com consultou especialistas para saber quais as perguntas mais frequentes feitas aos aspirantes a uma vaga de trainee. Confira quais são elas e o que está avaliado a partir das respostas.
1 Qual a sua estrutura familiar?
Os candidatos podem até achar estranho, mas de acordo, com Caroline Cobiak, coordenadora da área de novos profissionais da Across, é comum as entrevistas começarem com perguntas ligadas à família e aos relacionamentos.
“A gente começa querendo saber o lado pessoal”, diz Caroline. Para Manoela, quando esta pergunta aparece, o objetivo é conhecer o candidato. “E também para tornar o clima mais amigável”, diz.
Segundo Caroline, o intuito de perguntas neste estilo é saber como é a relação com pais e irmãos. “Queremos saber se os pais, por exemplo, participam ou influenciam a tomada de decisões na vida do candidato”, explica. Caroline lembra que, muitas vezes, integrar um programa de trainee envolve deslocamento, mudança de cidade.
“O objetivo é saber também como a família vai lidar com isso, o quanto seria díficil essa mudança ou não”, explica. Questões sobre namoro e como seria encarada a distância - se for preciso disponibilidade para mudar de cidade - também podem aparecer, segundo Caroline.
2 Você tem algum hobby?
Mais uma vez, o entrevistador quer saber um pouco mais sobre a vida pessoal do jovem profissional. “Queremos entender quais as coisas importantes para ele. Pode parecer estranho para os candidatos mas damos muita ênfase nessa parte”, diz Caroline.
Por exemplo, se é um jovem que tem o hábito de surfar todos os fins de semana, o entrevistador vai querer saber como seria para o candidato morar em uma cidade distante do litoral, se for esta a oportunidade em questão. “Queremos saber quais as prioridades desse candidato”, explica.
3 Relate uma situação difícil que você tenha enfrentado e se saído bem.
A situação em questão pode ter ocorrido durante um estágio ou uma vivência internacional, por exemplo. “Para quem não estagiou ou não fez intercâmbio, exploramos a vida acadêmica ou pessoal”, diz Caroline.
Liderança, trabalho em equipe, comunicação e planejamento são competências avaliadas com base nas respostas dadas pelos candidatos. Com esta pergunta, é possível identificar, de acordo com a especialista, como ele resolve um problema, se toma atitude, se arrisca.
“Ou se propõe soluções para resolver queremos ver se ele corre atrás ou fica esperando alguém mandar fazer por que aí é um jovem que ainda em um nível de estágio, não de trainee”, diz.
Caroline lembra que não vale apresentar um mundo cor-de-rosa, sem problemas. “É impossível que ele nunca tenha tido nenhum problema, e se ele vem com este discurso a gente vai procurar até achar uma situação”, diz.
4 Relate um problema que você não conseguiu resolver. Como você reagiu?
O aprendizado decorrente de uma situação como essa é o que está sendo medido, segundo Caroline. “O objetivo é ver o que ele aprendeu a partir deste feedback negativo, se mudou a postura”, diz.
Um trabalho em que não tenha sido bem sucedido, uma sugestão de projeto não aceita. A partir do relato, pode-se perceber se o candidato prima pela flexibilidade, e como é a agilidade em dar resposta em meio a condições adversas. “Queremos ver se é uma pessoa que fica quieta quando não é a ideia dela que é aceita, por exemplo”, diz Caroline.
5 Já teve alguma vivência internacional? Qual foi o aprendizado?
Muitos candidatos chegam a um processo de seleção de trainee com um intercâmbio na bagagem. Quando o período de intercâmbio faz parte do currículo do jovem, o entrevistador explora qual é o ganho cultural com experiência internacional.
“A gente quer saber do que de fato ele aprendeu, como foi o intercâmbio, se ele interagiu com diferentes contextos ou se só ficou entre os brasileiros”, diz Caroline.
Vale lembrar que muitos programas de trainee têm etapas fora do Brasil. “A experiência passada é levada em consideração, mas não é uma questão eliminatória”, diz Manoela.
6 Já fez estágio? O que esta experiência trouxe de positivo para o seu desenvolvimento?
Entender a contribuição de um estágio - se o candidato já teve essa experiência - é o que o entrevistador quer ao fazer esta pergunta, segundo Caroline. O que ele aprendeu, o que deu certo, o que deu errado. Todas estas questões vão ser investigadas durante a entrevista.
7 Como era a relação com chefe e colegas de trabalho?
Muitos programas de trainee tem o chamado “job rotation”, ou seja, antes de ser designado para a área de atuação, o trainee passa por diversos departamentos para entender melhor a estrutura organizacional da empresa.
Por conta disso, a maneira como ele se relaciona com colegas e superiores no trabalho é um ponto a ser verificado, segundo Manoela. “É importante saber como essa pessoa transita, entre a direção da empresa, e entre seus pares”, explica.
8 Como você gerencia o seu tempo?
De acordo com Manoela, é o dinamismo do candidato que está sendo posto a prova, com esta pergunta. Capacidade de realização de tarefas ao mesmo tempo e a agilidade são aspectos que encantam os recrutadores.
9 Por que você escolheu esta empresa?
Muita atenção a esta pergunta! Segundo as duas especialistas consultadas, invariavelmente, os candidatos vão se deparar com esta questão durante os processos seletivos, uma vez que a tendência é buscar pessoas alinhadas à cultura da empresa.
“É para entender o que motivou a escolha”, diz Caroline. Manoela concorda. “As empresas querem saber o que fez com que ele se identificasse, e qual o real interesse em trabalhar lá”, diz.
A pergunta também é um termômetro do critério usado pelo candidato na hora de se inscrever nos processos de seleção. “Muitos candidatos participam de diversos processos , ao mesmo tempo, e muitas vezes a gente percebe que não há critério na escolha”, diz Caroline.
10 Por que você deve ser contratado?
Segundo Manoela, é o momento de o candidato expor seus pontos fortes. “Quais são os diferenciais dele?”, diz a gerente da Page Talent. Para responder a esta pergunta o autoconhecimento é fundamental, pois só assim o candidato saberá quais as habilidades e competências que mais se destacam e também no que ele considera que pode agregar valor, caso seja aprovado.