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10 mil empregos na indústria de defesa

Investimentos para a construção de submarinos, helicópteros e veículos blindados fazem empresas retomarem contratações

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2013 às 16h24.

São Paulo - Embalada por uma carteira de encomendas bilionárias, a indústria de defesa no Brasil se prepara para um período de expansão — e geração de cerca de 10.000 postos de trabalho nos próximos cinco anos.

As vagas são impulsionadas pelo plano do governo federal de reaparelhamento das Forças Armadas, com investimentos previstos de cerca de 40 bilhões de reais em um período de 20 anos. O programa inclui acordos já fechados com empresas nacionais e estrangeiras para a construção de submarinos, helicópteros e veículos blindados no país, além da definição neste ano da compra de 36 caças supersônicos.

Companhias como a fabricante de helicópteros Helibras e a Iveco, de caminhões, já começaram a contratar e estão investindo em treinamento e ampliação das fábricas. "As empresas que atuam no segmento estão se reestruturando para crescer", diz o almirante Carlos Afonso Pierantoni, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde). 

A Iveco, empresa do grupo Fiat, com sede em Sete Lagoas, Minas Gerais, foi escolhida para projetar um novo veículo blindado para o Exército. A companhia começa a produzir este ano uma frota piloto com 16 unidades, de um total de 2 044 encomendadas para os próximos 20 anos.

Para isso, vai criar um departamento específico para tocar o projeto, com cerca de 30 profissionais das áreas de engenharia, produção, vendas, qualidade e finanças. Outros quatro técnicos e um engenheiro que trabalharam no protótipo serão mantidos na equipe, entre eles, o mineiro Marcos Blaster, de 34 anos, especialista em desenho industrial.

Marcos foi promovido no início deste ano e teve um aumento salarial de 60% — o salário na área varia de 4.000 a 6.000 reais. "Aprendi a lidar com equipamentos de última geração, usados somente nessa indústria", diz Marcos.

Também falta gente

Encontrar profissionais capacitados como Marcos é um dos principais obstáculos das cerca de 200 empresas que atuam no setor de defesa. Essa indústria é conhecida por trabalhar com alta tecnologia e costuma desenvolver produtos inovadores que mais tarde serão adotados pelo mercado civil.


"Em potências militares como Estados Unidos e Rússia, o setor reúne alguns dos melhores pesquisadores do país", diz o consultor Fernando Arbache, doutor em inteligência de mercado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). No Brasil, no entanto, essa capacidade de inovação decaiu nas últimas três décadas.

Prejudicadas por cortes nas verbas para as Forças Armadas, muitas empresas do setor fecharam as portas. Aquelas que permaneceram direcionaram a produção para o mercado civil e, em boa parte, deixaram de formar pessoal qualificado para os negócios na área militar. Por isso, a retomada dos investimentos deve gerar uma briga por gente especializada.

A Abimde, por exemplo, firmou uma parceria com o Instituto Militar de Engenharia (IME) para criar o primeiro mestrado em engenharia de defesa no país. A turma estreante começa em agosto, com 30 alunos. Além de engenheiros e técnicos, esse setor também deve demandar advogados, economistas e profissionais de comércio exterior, uma vez que exportar é fundamental na área.

"É necessário ter uma escala maior que a do mercado interno para sustentar os altos investimentos", diz Luiz Alexandre Fuccille, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

A Aeroeletrônica, que faz sistemas eletrônicos para aeronaves, com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, está investindo na formação de engenheiros e cientistas da computação para contornar a falta de mão de obra. A empresa tem como meta ampliar o quadro de funcionários de 140 para 300 até 2013 e atingir um faturamento de 100 milhões de dólares anuais — um aumento de 400%.

"Estamos contratando até universitários nessas áreas para treinar aqui dentro", diz Vitor Neves, diretor executivo. Nos últimos três anos, a companhia enviou 25 jovens profissionais à matriz, a Elbit Systems, em Israel, para participar de um programa de especialização de dois anos.

O gaúcho José Eduardo Klippel, de 25 anos, faz parte da turma que voltou de lá em 2009. Ele foi contratado antes mesmo de completar o curso de engenharia elétrica e, quando retomou suas funções no Brasil, tinha um salário 30% maior. "O conhecimento está evoluindo rapidamente neste setor e há um mercado promissor para quem se mantém atualizado", diz José Eduardo.

Tecnologia nacional

Experiências internacionais como a de José Eduardo devem se tornar mais frequentes no setor. Muitos dos contratos para aquisição de equipamentos estrangeiros preveem produção conjunta com empresas no país e intercâmbio de profissionais. A fabricação de 50 helicópteros militares, encomendados pelo governo ao grupo francês Eurocopter, será feita em parceria com a subsidiária do grupo no Brasil — a Helibras.


A empresa, com sede em Itajubá, Minas Gerais, iniciará no mês de março a construção de uma nova linha de montagem e um centro de desenvolvimento de produto, para o qual serão contratados 45 engenheiros, com salários de 5.000 a 8.000 reais.

Parte desse pessoal viajará à França neste ano para treinamento. A ideia é que, até o fim do projeto, pelo menos 50% do helicóptero seja produzido no país. "Vamos mais que dobrar a produção e o quadro de funcionários", diz Eduardo Mauad, vice-presidente. 

A Helibras promoveu este ano o administrador de empresas paulistano Marco Wagner dos Santos, de 30 anos, à gerência comercial do projeto. Marco vai se mudar em março para Brasília, com um pacote de remuneração que inclui aumento salarial de 15%, carro e subsídios para moradia.

Há oito anos na empresa, ele já passou pelas áreas de logística e vendas e, na maior parte do tempo, atendeu clientes da área militar, o que lhe rendeu até um convite para trabalhar no Exército. O bom relacionamento com os militares e o gosto pela área de defesa o credenciaram a assumir o novo posto.

"Trabalho muito próximo do cliente. Tenho que entender bem do assunto e respeitar seus valores, como hierarquia e disciplina", diz. Para Marco, bater continência é parte do negócio.  

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