Carreira

'Fidelização do capital humano' é estratégia central para o crescimento da Randon

Ao mesmo tempo, Alexandre Randon, vice-presidente do grupo, reconhece que é mais fácil demonstrar reconhecimento pelas pessoas em empresas que estão crescendo

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h32.

Há mais de meio século, os irmãos Raul e Hercílio Randon iniciaram um pequeno negócio de reforma de motores industriais em Caxias do Sul, na serra gaúcha. A pequena oficina tornou-se a maior fabricante de carrocerias de caminhões do país. À frente da empresa desde sua fundação, Raul Randon, um autodidata que detestava a escola e a abandonou antes de completar o primário, procurou implementar uma política de recursos humanos que garantisse a satisfação dos funcionários com o objetivo de dar às empresas do seu grupo níveis de qualidade e resultados capazes de fazer sorrir acionistas e clientes. As empresas Randon figuram entre as primeiras do país a publicar balanço social (desde 1994) e a implementar um programa de participação nos resultados (em 1990). "O que movimenta o ser humano é a sua motivação", diz Alexandre Randon, vice-presidente do grupo formado por sete empresas: cinco do setor de auto-peças (Randon Implementos, Fras-Le, Freios Master, Jost e Suspensys), uma de veículos pesados, a Randon Veículos, e uma de serviços, a Randon Consórcios.

Parte dos bons resultados da Randon nos últimos anos, é atribuída à motivação de seus colaboradores. Em 2004, o faturamento líquido desse grupo de empresas foi de 1,6 bilhão de reais, com um dos melhores lucros líquidos de sua história, de 124,8 milhões de reais. E o retorno não é apenas financeiro. Este ano, pela quarta vez, algumas das empresas do grupo Randon estão entre as melhores para trabalhar no Brasil. Fras-Le e Master estão entre as 150 melhores. A Randon Implementos aparece, pela segunda vez consecutiva, entre as 10 melhores para se trabalhar. "É sinal que as pessoas percebem que a empresa reconhece seu trabalho", diz Randon. Para ele, o reconhecimento, financeiro ou não, ajuda numa tarefa difícil que a direção da empresa chama de fidelização do capital humano. "Queremos buscar todo o potencial das pessoas e sabemos que práticas meritocráticas são o principal combustível para que elas dêem tudo de si", diz Randon.

A mais visível dessas práticas é a remuneração variável. Desde 1990, a Randon Implementos distribui resultados entre os funcionários. Nos últimos dois anos, os 2 500 funcionários desta empresa do grupo receberam pelo menos 2,5 salários a mais. Algumas pessoas, entretanto, conforme metas setoriais atingidas, receberam até seis salários a mais no ano passado. Esse reconhecimento monetário é baseado no cumprimento de metas pré-estabelecidas baseadas em indicadores gerais e setoriais. Não há metas individuais, já que a Randon estimula o trabalho em times.

Honra ao mérito

O reconhecimento às pessoas que estão na empresa há muitos anos, por meio de homensagens, é um dos mais citados pelos funcionários da Randon. Num jantar anual, os funcionários que completam 25, 35 ou 40 anos de empresa, juntamente com suas famílias, gerentes e diretores recebem prêmios como viagem ao Nordeste com acompanhante e 15 dias extras de férias, além de jóias e até plano de saúde vitalício extensivo ao cônjuge. "Esse tipo de reconhecimento estimula as pessoas a permanecer na empresa", diz Randon.

É claro que ninguém permanece numa empresa apenas para contar o tempo e ser premiado por isso. Na Randon, para permanecer é preciso se desenvolver e crescer junto com a empresa. Para que os funcionários tenham clareza sobre a carreira que podem trilhar na Randon, desde 2003 a empresa tem o sistema de gestão por competências que estabelece os critérios de estruturas de cargos, avaliação de desempenho, plano de desenvolvimento e política de remuneração. Cada pessoa conhece exatamente o perfil de seu cargo e todas as possibilidades de crescimento vertical e horizontal. Anualmente, cada funcionário tem um encontro de avaliação com seu líder e discute os pontos em que pode se desenvolver mais e aqueles em que melhorou ao longo do ano. Para cada melhoria, a pessoa recebe uma pontuação. Conforme os pontos adquiridos, ela pode ter um novo enquadramento salarial.

Paralelo a isso, a empresa oferece, desde 2001, o programa Crescer, voltado à capacitação de líderes e equipes e à formação e desenvolvimento contínuo dos funcionários. Existe um centro de educação na empresa, no qual já foram ministradas mais de 350 000 horas de treinamento a funcionários de todos os níveis. Há programas específicos para o desenvolvimento de competências para diretores, gerentes, coordenadores, especialistas e engenheiros de produto. Há cursos voltados ao desenvolvimento de competências técnicas, à educação formal (ensino médio, graduação, pós-graduação e idiomas), cursos voltados ao trabalho em equipe e até educação à distância, com oferta de cursos de desenvolvimento técnico e comportamental pela internet. "Cabe a cada um querer se desenvolver", diz Randon. "E à empresa, reconhecer, com justiça, quem está crescendo."

Fábrica de idéias

Uma das formas de fazer isso é por meio da valorização das idéias dos funcionários que são efetivamente implementadas. Os 2 400 funcionários da Randon Implementos geram cerca de 3 000 idéias por ano, uma média de 1,2 idéias por funcionário. A maioria das idéias é de melhorias no processo produtivo. Os funcionários sugerem coisas como o melhor aproveitamento de uma chapa de aço mudando o tipo de corte, reduzindo o refugo ou reaproveitando esse refugo para fazer peças menores. A cada idéia implementada, seu autor recebe entre 150 e 400 reais. O valor é calculado com base na economia gerada e levando em consideração se o trabalho foi realizado em equipe ou individualmente e se a idéia beneficia apenas um local de trabalho ou toda a comunidade da empresa. Os autores das 20 melhores idéias do ano ganham uma viagem.

A Randon também reconhece o crescimento de seus funcionários priorizando, sempre, o recrutamento interno quando há uma vaga disponível. "Olhamos primeiro internamente para aproveitar nossos programas de desenvolvimento", diz Randon. O interessante no caso da Randon, é que por ser um grupo de empresas, as pessoas podem se candidatar a vagas em qualquer uma delas, ampliando muito o leque de oportunidades, especialmente porque todas estão crescendo e se internacionalizando. Para garantir que haverá justiça nessa seleção interna, os critérios exigidos para cada cargo são amplamente divulgados. As pessoas conhecem o perfil necessário quando se candidatam e são avaliadas por mais de uma pessoa. "Ninguém pode ser promovido por um convite direto de alguém da sua ou de outra área", diz Randon. "Há um processo de seleção e todos passam por ele." Para Randon, o discurso e a prática precisam estar muito próximos. "Se as pessoas sentirem que existem cartas marcadas, todo o trabalho vai por água abaixo."

Crescimento

Para Alexandre Randon, é mais fácil demonstrar o reconhecimento pelas pessoas em empresas que estão crescendo. "As oportunidades estão no crescimento", diz. Por isso, foi fundamental a visão de seu pai, fundador da Randon, de que a globalização das economias era questão de tempo. Em meados dos anos 80 ele percebeu que, se continuasse a caminhar sozinha, sua empresa não chegaria muito mais longe. "Fizemos uma opção clara pelo crescimento através de sócios que tenham tecnologia de ponta em áreas onde nós não a temos", diz Astor Schmitt, diretor corporativo da Randon.

Os frutos dessa estratégia são a Jost Brasil Sistemas Automotivos, uma associação entre a Randon Participações e a empresa alemã Jost-Werke AG, um dos mais importantes fornecedores de sistemas de conexões para a indústria de caminhões. Além da Jost, a Randon tem joint-ventures com a americana Meritor Automotive Inc., na Freios Master, inaugurada em 1987, e na Suspensys. Ter parceiros internacionais também ajuda na hora de reconhecer o mérito dos funcionários. Muitos fazem intercâmbio na sede das parceiras para aprimorar seus conhecimentos e, muitas vezes, têm oportunidade até de trabalhar no exterior.

Com o crescimento apresentado nos últimos anos, a Randon está sentindo a necessidade de preparar mais pessoas para posições estratégicas. Nas sete empresas do grupo há 10 diretorias, 40 gerências e mais de 200 cargos de liderança. Neste momento, há três funções gerenciais abertas. Para preencher essas vagas, a empresa vai ter que promover pessoas em todos os níveis. Preocupada com essa situação, a Randon lança em setembro o programa de sucessão de gestores. Ele vai identificar os high potencials e criar um banco de potenciais que serão desenvolvidos para ocupar cargos importantes.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Carreira

Samsung nomeia primeira mulher CEO fora da família fundadora

10 aplicativos para aprender inglês de graça

Com essas 10 dicas, você cria um perfil “campeão” no LinkedIn

15 frases que marcaram CEOs e podem alavancar a sua carreira