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Um papa para os tempos modernos: como Francisco navegou entre tradição e inclusão

Lia Rizzo

22 de abril de 2025 às 17:47

Alberto PIZZOLI /AFP

O jesuíta que nunca buscou ativamente ser papa transformou a igreja. Francisco ultrapassou os limites tradicionais do papado ao enfrentar, sem hesitação, os temas mais delicados de nossa época.

Tiziana Fabi/AFP

Do Vaticano, não apenas observou o mundo contemporâneo, mas mergulhou em suas complexidades, transformando a Santa Sé em instrumento ativo na luta contra desigualdades e na defesa de causas urgentes.

Seu pontificado abraçou batalhas diversas: mediou conflitos internacionais, condenou perseguições religiosas, ergueu a bandeira da preservação ambiental, abriu espaço para mulheres em funções eclesiásticas, estendeu a mão à comunidade LGBTQIA+ e fortificou a proteção de menores.

Filippo MONTEFORTE / AFP/AFP

Primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro, primeiro latino-americano e primeiro não-europeu desde o século VIII, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio trouxe a perspectiva dos marginalizados para o centro da Igreja.

Remo Casilli/Reuters

A escolha do nome "Francisco" não foi casual: a inspiração foi em São Francisco de Assis, símbolo máximo da humildade e simplicidade.

Desde a primeira aparição na varanda da Basílica de São Pedro, em março de 2013, o pontífice sinalizava que seu papado seria marcado por uma volta às origens dos valores cristãos: austeridade, proximidade com os pobres e cuidado com a natureza.

Laurie Chamberlain/Getty Images

Sem perder a oportunidade de causar impacto, transitou entre declarações de abertura e conservadorismo doutrinário, deixando sua marca na história como um líder de aparentes contradições, mas de indiscutível coragem para enfrentar temas espinhosos.

Cris Faga/Getty Images

"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", declarou em 2013, abrindo uma janela de diálogo que seus antecessores mantinham fechada.

Contudo, a mesma autoridade que não hesitou em defender a união civil entre pessoas do mesmo sexo também condenou o casamento homossexual nos termos da Igreja, definindo-o como "um ataque destrutivo aos planos de Deus".

/AFP

Sobre o aborto, demonstrou a mesma dualidade entre compaixão e firmeza doutrinária. Concedeu aos padres "o arbítrio para absolver o pecado do aborto àqueles que o possuem e a quem, com o coração constrito, busca o perdão".

Isabella Bonotto/Anadolu Agency via Getty Images/

No entanto, o Papa não deixou de comparar o aborto a "contratar um matador de aluguel para resolver um problema".

Na luta contra os abusos sexuais que mancharam a imagem da Igreja, Francisco adotou tom inflexível: "Por favor, lembrem-se bem disto: tolerância zero com os abusos contra menores ou pessoas vulneráveis".

Yara Nardi/Reuters

Foi além das palavras, reorganizando a Cúria Romana e garantindo que a proteção dos menores se tornasse parte fundamental da estrutura de governo da Igreja.

Andrew Medichini/Reuters/

Para tentar reconciliar as diferentes vozes, convocou em 2023 um sínodo que debateu temas como o papel das mulheres na Igreja. Embora as conclusões tenham recomendado maior participação delas nos cargos de governo eclesiástico, ficaram aquém do que muitos progressistas desejavam.

Sobre a falta de liderança mundial para enfrentar a crise climática, escreveu e se pronunciou em críticas contundentes: "A terra, nossa casa, começa a parecer cada vez mais um imenso monte de lixo".

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Sua saúde frágil nunca o impediu de falar com franqueza sobre temas cotidianos. Criticou o uso excessivo de celulares entre jovens, comparando-os a uma "droga".

Reprodução/Exame

Também foi sincero ao declarar que não sentia saudades de sua Argentina natal, para onde jamais retornou após assumir o pontificado: "Para a Argentina, não volto mais, não tenho saudades dela. Vivi lá 76 anos. O que me aflige são seus problemas".

Francisco foi alvo de críticas tanto de conservadores quanto de progressistas. Para os primeiros, avançava rápido demais em questões de moral sexual e inclusão; para os segundos, suas posições sobre homossexualidade e o papel das mulheres permaneciam excessivamente tímidas.

Chris Helgren/Reuters/

A morte do papa, ocorrida nesta segunda-feira (21), encerra um capítulo de transformações e tensões no catolicismo mundial.

O próximo conclave determinará se o caminho aberto por Francisco será aprofundado ou revisado, mas suas palavras e gestos já pertencem à história de uma instituição milenar que, sob sua liderança, ousou olhar para o futuro sem abandonar suas raízes.<br /> <br />

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