7 de maio de 2025 às 10:48
Mais do que um evento climático isolado, a pior enchente da história do Rio Grande do Sul foi um retrato cruel da emergência do clima. As primeiras pancadas de chuva começaram no dia 27 de abril, mas foi no início de maio que a situação saiu completamente do controle.
Em 6 de maio de 2024, o estado vivia sua maior tragédia em décadas: cidades inteiras submersas, comunidades isoladas, rodovias transformadas em rios e dezenas de mortos e desaparecidos.
As enchentes, que afetaram mais de 400 municípios e desalojaram mais de 81 mil pessoas, escancaram omissões graves: ocupação irregular e infraestrutura inadequada. Estudo revelou que 35% a 40% dos atingidos na região metropolitana estavam em áreas com sistemas de proteção falhos.
Agora, um ano depois, as lições ecoam e clamam por ação global imediata -- com foco em adaptação climática e desenvolvimento de cidades mais resilientes. A reconstrução segue em curso e exige o envolvimento de várias frentes.
Uma das iniciativas não governamentais é o RegeneraRS, movimento voltado a mobilizar recursos para regeneração e com foco em soluções de habitação, educação, infraestrutura e apoio a negócios gaúchos.<br />
O fundo filantrópico de R$ 40 milhões, formado pela Família Gerdau Johannpeter e empresas como Gerdau, Vale, Grupo Fleury e outras, já aprovou 16 projetos e destinou R$ 13 milhões, com potencial de alavancar até R$ 378 milhões em investimentos privados e filantrópicos.
"A lógica é conseguir agregar capital para o RS e também ser um instrumento financeiro catalisador que vai crescendo no tempo em prol da recuperação e regeneração", explicou à EXAME, Tarso Oliveira, coordenador executivo do RegeneraRS.
Há também a Coalizão RS, que reúne a sociedade civil, universidades e o poder público para acelerar a reconstrução com governança colaborativa e foco na sustentabilidade. O acordo de cooperação será assinado em 7 de maio, em Porto Alegre, capital gaúcha.
Para especialistas, a questão da habitação segue sendo um dos maiores desafios da reconstrução. Visando acelerar a solução, o RegeneraRS tem apoiado projetos como o "2 por 1", que constrói 31 casas com metodologias sustentáveis em Porto Alegre.
Até então, o Plano Rio Grande, Programa Estadual de Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul como resposta às enchentes, já destinou um total de R$ 6.928.605 para ações, a exemplo de recuperação de estradas e pontes.
No entanto, soluções estruturais, como a construção de sistemas de contenção de cheias, ainda encontram obstáculos técnicos e burocráticos.<br /> Neste sentido, um dos projetos do RegeneraRS promove a regeneração urbana e comunitária: é o Favela 3D, na Vila Costaneira.
No campo econômico, o fundo atua para auxiliar pequenos negócios afetados e já concedeu R$ 30 milhões em crédito para 378 empreendedores gaúchos.<br />
Além dos desafios estruturais, muitos municípios enfrentam dificuldades na execução de recursos e na articulação com o governo estadual e federal. Pensando nisso, o RegeneraRS tem trabalhado com escritórios de projetos para agilizar o processo de liberação de recursos.
A Coalizão RS, lançada nesta quarta-feira (7) em parceria com Instituto Caldeira e universidades locais, busca fazer esta articulação entre a sociedade civil para criar um modelo de reconstrução mais eficiente e sustentável.