15 de maio de 2025 às 14:40
Na comunidade de Miramar, em Eunápolis, ao sul da Bahia, agricultores familiares de fazendas de cacau, café e pimenta-do-reino lutavam há anos contra a invasão da erva-baleeira.
A planta, nativa da Mata Atlântica, se espalha com muita facilidade, e ocupa as áreas destinadas a pastagens e cultivo. Agora, a erva pode se tornar uma fonte de renda para as famílias.
A planta tem valor medicinal: o óleo essencial extraído das suas folhas pode ser usado como um anti-inflamatório e analgésico natural, com grande potencial de venda na indústria farmacêutica.
O uso como pomada contra dores musculares tem gerado um aumento nas vendas: um quilo do óleo essencial gera aproximadamente R$ 2 mil, podendo chegar a até R$ 3 mil, em renda.
Por isso, uma parceria da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e da indústria de celulose Veracel busca capacitar os agricultores familiares para que possam obter uma renda extra a partir da extração do óleo essencial da baleeira.
O processo, no entanto, esbarra por mudar a mentalidade dos produtores, e tornar a planta, antes vista como uma ameaça, em uma oportunidade de negócios.
A UFSB já atua na comunidade Miramar desde 2014, com o intuito de fortalecer e incentivar a agricultura familiar e disseminar as melhores técnicas de agroecologia. A Veracel, que opera na região, entrou na iniciativa em 2019.
A pesquisadora e especialista em responsabilidade social da Veracel Celulose, Dra. Carolina Kffuri, conta que a quantidade de mudas da maria-preta surpreendeu os pesquisadores envolvidos no projeto. “Para os olhos do botânico, foi uma maravilha", conta.
Apesar de conhecerem, a erva-baleeira era vista como uma praga na região. “Quando chegamos lá, perguntamos ‘Quem aduba essa planta para ela crescer desse jeito?’ e os agricultores responderam ‘Adubo? Não, adubo de maria-preta é o facão’”, conta.
Além do corte das mudas, a população também costumava atear fogo na área invadida para destruir a planta. A equipe colheu mudas de diferentes áreas para estudar em laboratório e identificar as propriedades.
Para que o óleo possa ser utilizado pela indústria farmacêutica, é necessário que contenha ao menos 2% de compostos fitoterápicos: alfa-humuleno e trans-cariofileno, compostos anti-inflamatórios e relaxantes. Os resultados dos testes mostraram uma concentração superior a 2%.
Os alunos e pesquisadores envolvidos no projeto passaram a capacitar os agricultores e suas famílias sobre os usos e o potencial econômico da maria-preta, além dos métodos de colheita, armazenagem e extração do óleo.
“Nenhum agricultor conhecia o óleo da erva-baleeira ou sabia para que ele servia. Eles usavam como chá, mas na pele realmente é uma novidade. Há poucos grupos de agricultura familiar nesse mercado, pois ele é mais elitizado”, explica a professora da UFSB, Dra. Narezi.
Uma das ações tomadas para engajar novamente as famílias de agricultores foi a compra garantida: todo o óleo extraído seria adquirido pelo Instituto Fotossíntese, que revende para a indústria sem ganho financeiro. O plano deu certo. Atualmente, 12 famílias de agricultores partici
Cada família pode colher até 250 quilogramas de folhas, o que gera por volta de 2,5 quilos de óleo essencial. O lucro médio é de R$ 5 mil, valor que ajuda a pagar o aluguel das fazendas em que produzem suas culturas.