ESG

PL do licenciamento enfraquece esforços de preservação às vésperas da COP30, dizem especialistas

Sofia Schuck

17 de julho de 2025 às 15:37

Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados/

Na madrugada desta quinta-feira, 17, a Câmara aprovou por 267 votos favoráveis e 116 contrários, o projeto de lei que flexibiliza as regras do licenciamento ambiental e pôs em xeque os esforços brasileiros na preservação e combate à crise climática às vésperas da COP30.

/AFP

O texto, que estava em discussão há 20 anos, agora segue para sanção presidencial e ainda pode ser vetado pelo presidente Lula. Na prática, o licenciamento é obrigatório para qualquer atividade considerada potencialmente poluidora ou que utilize recursos naturais.

Ibama/Divulgação

O que mais preocupa na mudança é a possibilidade de 'autodeclaração', obtida por meio de um termo de compromisso assinado pelo próprio empreendedor, sem passar pelo rigor do órgão ambiental.

Getty Images/

Segundo especialistas ouvidos pela EXAME, não há dúvidas de que o licenciamento atual tem graves deficiências e precisa de reformas, mas o PL não é a solução e divide opiniões. Para ambientalistas, é um 'retrocesso' e um 'desmonte' da legislação brasileira em proteção ambiental.

Marcelo Camargo/Agência Brasil/

"O PL é uma negação da ciência e crise climática e é muito grave, pois enfraquece o pilar central da lei que é onde temos um espaço entre o uso de recursos naturais e ambiente saudável para a população", diz Ana Carolina Crisostomo, especialista em conservação do WWF-Brasil.

Talanoa/Divulgação

Para Natalie Unterstell, presidente do Talanoa, o licenciamento ambiental é um tipo de filtro: obriga empresas a avaliarem os impactos de suas obras antes de começar, e adotarem medidas para reduzir os danos. "Precisamos de mais agilidade, mas não de um processo mais frágil".

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André Castro Santos, Diretor Técnico da LACLIMA, ressalta que não se trata de mera burocracia e concorda que é legítimo o argumento de conferir maior segurança jurídica na legislação nacional, mas não da forma como sugere o novo texto.

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O avanço do projeto também representa uma derrota para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que vem sofrendo uma série de ataques do Congresso. Em reação nesta manhã, ela frisou que o governo tem compromisso em não sancionar a nova lei ambiental.

Fazenda Colombo/Divulgação

Por outro lado, entidades dos setores da agropecuária, energia, infraestrutura, mineração e indústria manifestaram apoio ao PL. Quem o vê com bons olhos, acredita que pode ser uma alavanca para o desenvolvimento do país ao ajudar na desburocratização, simplificação e destrave.

CCR/Divulgação

Ronei Glanzmann, CEO do MoveInfra, organização que representa as maiores companhias do setor de transporte, disse que "contribui para destravar obras de infraestrutura" e representa "um avanço na desburocratização".

Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images

Há um ponto de convergência entre os especialistas: o sistema atual precisa ser reformado. A discordância reside nos métodos aprovados e nos riscos que a nova legislação pode representar.

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Agora, o texto precisa ter a sanção de Lula. Caso o petista vete trechos ou todo o projeto, a decisão pode ser revista pelo Congresso. Ainda assim, integrantes do governo já disseram que as novas regras podem ser questionadas judicialmente e o debate está longe de acabar.

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