17 de junho de 2025 às 14:54
Carlos Nobre, cientista climático da USP, observa um grande paradoxo: apesar de haver "maior consciência pública e empresarial sobre a emergência climática", setores como a agropecuária "resistem às políticas de mitigação", mesmo sendo fortemente afetados pelas mudanças do clima.
Para Nobre, a articulação por trás do Projeto de Lei 2.159/2021, que flexibiliza o licenciamento ambiental, é "uma estratégia coordenada, com forte influência da bancada ruralista" que representa 60% do Congresso, visando afrouxar regulamentos ambientais em nome do crescimento.
"Essa articulação transcende governos específicos", diz Nobre, lembrando que a pressão por desmatamento e exploração predatória usa argumentos falaciosos baseados em comparações com países desenvolvidos, como EUA e China, cujos processos de desmatamento ocorreram séculos atrás.
Nobre critica a resistência da agropecuária às políticas climáticas, uma atitude "difícil de entender", já que o setor tem sido "muito prejudicado pelos eventos climáticos", mas, em vez de se adaptar tecnologicamente, busca "compensações governamentais" para lidar com os danos.
Sobre a COP30, que será realizada em Belém, Nobre vê uma "oportunidade única para redefinir prioridades globais climáticas". Ele destaca que 23% das emissões globais vêm do uso da terra, com a agropecuária e o desmatamento como principais responsáveis.
Nobre também acredita que a COP30 pode posicionar o Brasil como líder em um modelo de "desenvolvimento sustentável na Amazônia", onde a "conservação e o desenvolvimento econômico caminham juntos", sendo essencial para a estabilidade climática global.