Lia Rizzo
7 de abril de 2025 às 10:09
O calendário diplomático e ambiental brasileiro está marcado por uma coincidência desafiadora: enquanto se prepara para presidir a COP30 em Belém, o país enfrenta um acalorado debate sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
A controvérsia, que já dividia opiniões no Brasil, tem sido abordada em fóruns estrangeiros, como o recente Diálogo de Petersberg, importante encontro preparatório para a COP30 realizado em Berlim na última semana de março.
Na reunião, que reuniu negociadores de cerca de 40 países para alinhar os principais temas da agenda climática global, André Corrêa do Lago, presidente-designado da conferência, foi diretamente questionado sobre o assunto.
Sua resposta, de que a exploração petrolífera na região "será uma decisão nacional" e não um "consenso como foi o Acordo de Paris", mostrou o quanto o tema se tornou um teste para a credibilidade da liderança brasileira.
O timing não poderia ser mais delicado. É fato que o Brasil tem construído sua credibilidade internacional em temas como serviços ecossistêmicos e reconhecimento do papel das florestas no equilíbrio climático.
Contudo, em sete meses o país recebe a Cúpula do Clima justamente na Amazônia, com a missão de liderar negociações climáticas cruciais, num espaço de protagonismo que cobra exemplo.
"O Brasil tem um papel muito relevante em colocar temas como os serviços ecossistêmicos na convenção do clima. Conseguimos incluir na convenção que a floresta preservada gera valor fundamental ao clima", destacou João Paulo Capobianco, secretário-executivo do MMA.
A insistência em ampliar a exploração de combustíveis fósseis, no entanto, envia sinais contraditórios. A possível liberação da exploração e a recente proposta de "revisão de portarias interministeriais" sobre áreas ambientais pode ser comparado a um "passar a boiada".
"A questão é que este é um momento que exige extrema coerência. Não podemos defender a proteção florestal globalmente e, ao mesmo tempo, flexibilizar medidas de segurança ambiental em nosso próprio território", pondera o experiente Capobianco.