2 de maio de 2025 às 10:15
O que a COP30 no Brasil precisa para ser um sucesso? A resposta e as soluções, o mundo já conhece: acelerar a implementação de ações alinhadas com o limite de 1.5ºC de aquecimento do Acordo de Paris e endereçar recursos suficientes para a descarbonização.
Em coletiva de imprensa, Natalie Unterstell, presidente do Talanoa, disse que há 10 itens mandatados para esta edição da COP e dois são muito relevantes para a arquitetura do regime: alcançar o objetivo global de adaptação climática e garantir o fluxo de investimentos climáticos.
"O mínimo que a COP precisa é não ser um momento de celebração, mas sim de implementação. Devemos considerar Paris como partida e Belém como ponto de virada", destacou Natalie.
Na última edição em Baku, no Azerbaijão, o desenrolar do acordo final frustrou e os países desenvolvidos concordaram em alcançar apenas US$ 300 bi para financiamento climático, em meio a uma necessidade estimada na casa de trilhões de dólares.
Outra proposta do Brasil neste ano é criar um "círculo de presidências" que pode marcar uma nova fase de governança climática e a possibilidade de estabelecer uma espécie de "Conselho do Clima", assim como o de Direitos Humanos da ONU, complementou Unterstell.
No país sede, o presidente designado da COP é o embaixador André Corrêa do Lago, que atua conjuntamente com a CEO executiva Ana Toni e a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
A menos de 200 dias da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas na capital paraense, especialistas reunidos pelo Instituto Clima e Sociedade apontam que "a janela de ação é pequena e se fecha rapidamente" e a COP deve superar desafios geopolíticos complexos.
Thelma Krug, cientista renomada que acumula 13 anos como negociadora na Convenção do Clima como vice-presidente do IPCC, destaca que "desde a década de 80, batemos recordes de emissões" e que "ainda não tivemos um momento de inflexão", o que é preocupante.
Por outro lado, o otimismo prevalece e se torna unanimidade a importância de se ver "o copo meio cheio", além dos avanços já conquistados. Krug ressalta que os preparativos em Belém avançam, com o Brasil adotando uma abordagem inovadora e consultas profundas.
A presidente do Talanoa também ressalta o diferencial desta edição: a mobilização social. "A COP de Belém levará as pessoas às ruas e os movimentos sociais irão trazer suas demandas. Por isso, é essencial escutá-las".
A COP30 ocorre em um momento crucial para a ação. Com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, a crise do clima traz uma série de efeitos dramáticos para populações em todo mundo. Agora, saímos da fase de construção das regras e estamos voltados para a implementação.
Os especialistas são unânimes em destacar o papel da ciência na orientação das políticas climáticas. Krug enfatiza que "a ciência alimenta as decisões políticas" e lembra que, segundo o IPCC, "não estamos numa trajetória de limitar a temperatura média global no nível necessário".
O cenário atual é alarmante: "Chegamos a quase 1,6°C [de aquecimento global] em 2024", observa Krug, embora ressalte que "isso não invalida a possibilidade de chegarmos a 1,5°C" como meta.
Já Jorge Abache, professor de economia da Universidade de Brasília, traz a perspectiva econômica para a mesa e ressalta que o clima vai afetar todos os setores. Um estudo recente apontou que os desastres relacionados à mudança climática causaram mais de US$ 3,6 tri desde 2000.
Para Abache, a economia vai ajudar o clima. "Uma das formas de acelerar a descarbonização a nível global é fazer com que os investimentos verdes sejam rentáveis e entreguem benefícios para a agenda climática e também social", disse.
No caso do Brasil, há uma série de vantagens competitivas: matriz energética renovável e abundância de soluções baseadas na natureza e outras que podem ser "uma forma potente de descarbonizar via negócios mais atrativos".
Um dos desafios significativos para a COP30 serão as tensões geopolíticas, segundo os especialistas. Abache alerta que "mesmo que a Europa e China sigam empurrando a pauta climática, o congelamento dos EUA frente às medidas de Trump traz impactos muito negativos".
Neste cenário desafiador e complexo, Abache prevê uma necessária mudança de narrativa: "A agenda ESG deve passar por um novo posicionamento, com foco em questões como segurança nacional e economia, com uma reclassificação de várias medidas associadas ao clima".
Já Thelma Krug reconhece que embora tenhamos temporariamente ultrapassado o limite de 1,5°C em 2024, isso não significa necessariamente que a meta do Acordo de Paris deva ser abandonada nesta COP30 -- muito pelo contrário.
Natalie Unterstell reforça a mesma perspectiva, mas disse temer o risco de que "Belém normalize a lentidão, enquanto o planeta ferve", se referindo ao aquecimento global.