14 de maio de 2025 às 14:32
A era da divulgação voluntária está próxima de acabar. A partir de 2027, empresas brasileiras de capital aberto terão que reportar riscos climáticos com o mesmo rigor aplicado às demonstrações financeiras tradicionais.
As implicações deste momento de transição foram tema de encontro promovido pelo IBEF sobre Risco Climático, Compliance e Finanças Sustentáveis.
As normas IFRS S1 e S2, estabelecidas em junho de 2023 pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), instituíram pela primeira vez padrões globais para divulgação de informações sobre sustentabilidade.
Enquanto a S1 define requisitos gerais, a S2 foca especificamente em riscos climáticos, exigindo divulgação detalhada sobre emissões de gases de efeito estufa, planos de transição e análise de cenários climáticos.
Mas afinal, o que isso significa na prática? Para executivos financeiros brasileiros, representa uma transformação radical em suas responsabilidades.<br /> <br />
CFOs que hoje assinam demonstrações financeiras terão que assumir a mesma responsabilidade legal sobre dados climáticos.
É como adicionar um novo capítulo ao manual de governança corporativa – só que desta vez, o capítulo vem com auditoria externa e consequências legais.
"Agora a brincadeira virou coisa séria. Não é mais greenwashing, é plano de negócios", resumiu Edison Fernandes, sócio do FF Law e membro do Comitê de Pronunciamento Contábil, e um dos participantes da conversa no evento do IBEF.
A afirmação captura perfeitamente o momento: cada vez mais, sustentabilidade deixa de ser assunto de marketing para virar questão de balanço patrimonial. "Se um dia foi externalidade, hoje é internalidade", apontou o advogado.
Em outras palavras, aquilo que as corporações tratavam como "problema dos outros", como poluição, emissões, riscos climáticos, agora entra oficialmente nos livros contábeis.<br /> <br />
O executivo vai além: "É preciso ter um padrão para dizer que a liquidez é X, porque senão cada um vai fazer o que quiser." Traduzindo: assim como existe uma forma única de calcular o lucro líquido, haverá uma forma padronizada de reportar impactos climáticos.
Isso significa que o tradicional perfil do executivo financeiro, antes mais focado em números, planilhas e demonstrativos, precisará incluir a compreensão sobre emissões de carbono, riscos físicos do clima e planos de transição energética.
Ilustrando a urgência da regulação, Ana Lia Touso, Sócia de Sustentabilidade e Clima da Deloitte, trouxe um estudo da consultoria que mostrou um potencial de perda econômica na América Latina de 17 bilhões de dólares, caso as adequações não sejam seguidas.
Com o aumento de 3°C na temperatura global, o país enfrentaria 90 dias por ano com temperaturas acima de 35°C – impactando diretamente produtividade, agricultura e infraestrutura.<br /> <br />