Examinando: O celular te espiona? Entenda relação entre dados e algoritmos

Com enorme quantidade de dados depositada na internet, empresas da informação analisam "comportamento digital" do usuário para conteúdos personalizados

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Eu tenho certeza que em algum momento você já teve a impressão de que o seu celular estava te espionando. Depois de conversar com alguém por mensagem, ligação, ou até mesmo pessoalmente, do nada começou a aparecer vários anúncios no Google e nas suas redes sociais exatamente sobre o que você estava falando. 

Aí você se perguntou se o microfone do seu celular estava te ouvindo. Depois a preocupação aumenta e você já fica na dúvida se não tem alguém te olhando pela câmera do notebook. Às vezes a gente até coloca uma fita tampando só pra garantir, não é? Mas será que toda essa preocupação tem fundamento ou são só teorias da conspiração? No Examinando de hoje, nós vamos te mostrar como e porque o Google sempre te mostra exatamente o que você quer comprar. 

Quem nunca perdeu vários minutos ou até algumas horas fazendo testes que aparecem nas redes como “Qual super-herói você é” ou “responda estas sete perguntas e descubra suas chances de ser um milionário”. Eu sei que você já fez isso. Mas e se eu te contar que esses testes pegam de você muito mais que o seu tempo, eles registram os seus dados. 

Você daria suas informações pessoais como número de conta, número de celular, seus documentos, seu endereço ou os lugares que você mais visita para alguém que você não conhece? Eu imagino que sua resposta seja não. Mas e se eu te contar que você faz sim isso, todos os dias?  

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"Quando usa os serviços do Google, você confia a nós sua informação". Essa é a primeira frase do termo de Política de Privacidade do Google. Aquele mesmo que a gente quase nunca abre e só marca como “li e concordo” quando vamos criar um e-mail. Nesse documento, a maior empresa de informação do mundo diz várias coisas, inclusive todos os dados que ela coleta de você.  

Seu nome, seu endereço, sua idade, seu e-mail. O modelo do seu telefone, sua operadora, o plano que você contrata com ela e como você usa ele. As palavras que você usa com mais frequência nos e-mails e no seu Whatsapp. Todos os e-mails que você escreveu ou recebeu, incluindo os spam. Os nomes, endereços e números de todos os seus contatos. Isso são só algumas das informações que o Google pega de você todos os dias. 

Até as fotos, vídeos e áudios que você faz com o seu smartphone, sem publicar em nenhum lugar, o Google também tem acesso. Mesmo se você apagar tudo do seu celular. E esse registro também passa por todos os seus movimentos na internet. Todos os sites que você visitou, a frequência e o que você viu dentro de cada um deles. Em qual idioma você pesquisa as coisas, e a hora em que você navega. Com quem conversou, quais vídeos você procura e as músicas que mais escuta.

É a partir de todos esses dados que a internet sabe te mostrar exatamente o que você quer comprar e quais lojas e sites você prefere. Mas não é só isso. Você também é monitorado por tudo que você faz nas redes sociais. Cada conteúdo que você curte, compartilha, publica, comenta. Todo esse seu movimento online é registrado e o Google identifica o seu “comportamento digital”. 

É como se eles tivessem uma pasta guardada com o seu nome e absolutamente todas as informações sobre você. Provavelmente o Google sabe mais sobre você do que o seu melhor amigo. E assim quase fica fácil saber exatamente as coisas que você gosta e que podem te interessar. Eu digo quase fácil porque pra reunir, guardar todos esses dados e cruzar com informações de vendas de lojas e sites ou seja o que for, a empresa usa algoritmos muito avançados que custaram muito dinheiro para serem desenvolvidos, mas que agora com certeza valem o investimento.   

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É por isso que o especialista em segurança digital Lee Munson diz a seguinte frase: “O Google sabe muito sobre você, certo? E de quem é a culpa? Sua, claro”. Ele também fala que “a informação é a nova moeda de troca” e isso vai bem de encontro ao clichê que afirma que os dados são o novo petróleo. E eles são valiosos mesmo, tanto que são até mesmo motivo de brigas judiciais. 

Uma das grandes, senão a maior, envolve uma empresa norte-americana chamada Cambridge Analytica e outra que você conhece mais, o Facebook. A rede social foi acusada de ter liberado sem consentimento os dados de mais de 50 milhões de pessoas para a empresa que analisa dados. E as suspeitas são de que a Cambridge Analytica tenha conseguido essas informações através de um teste psicológico que as pessoas faziam pelo Facebook. Mas o grande problema foi que a empresa usou não só as informações das pessoas que fizeram o teste, mas também de todos os amigos do Facebook desses usuários. 

Esses dados teriam sido usados para influenciar os eleitores a votarem em Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos em 2016. A denúncia foi feita pelos jornais The New York Times e The Guardian e levantou dúvidas sobre como os dados das bilhões de pessoas que estão nas redes são usados por grandes corporações. E o debate central é exatamente esse. Nós damos os nossos dados ao Google e às grandes empresas todos os dias, a todo momento.

E se pensarmos que a vida tem ficado cada vez mais digital é quase impossível que não seja mais assim. As operações bancárias são feitas pela internet, compras, pedidos. É algo que provavelmente não vai mais voltar a ser como era décadas atrás. Ou seja, no fim, nós quase que precisamos disponibilizar os nossos dados. Do outro lado, há a responsabilidade das empresas no uso dessas informações e também dos governos e unidades reguladoras em criar normas para o uso das informações digitais. 

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