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Xangai acelera produção e aplicação de robôs humanóides com apoio institucional

Cidade aposta em dados, treinamento e fundos públicos para expandir uso real dos robôs humanóides

Ameca, robô humanoide da Engineered Arts (Engineered Arts/Divulgação)

Ameca, robô humanoide da Engineered Arts (Engineered Arts/Divulgação)

China2Brazil
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Agência

Publicado em 21 de maio de 2025 às 14h36.

Xangai amplia investimento em robôs humanóides com foco em dados, treinamento e capital paciente. Empresas como AgiBot e Fourier lideram a corrida tecnológica na China.

No Vale dos Robôs de Zhangjiang, em Xangai, engenheiros da Fourier Intelligence ajustam a força de preensão do robô humanóide GR-2. Com 1,75 metro de altura, o modelo segue para um centro de reabilitação, onde executará tarefas de treinamento terapêutico.

A 50 quilômetros dali, na nova área de Lingang, unidades do robô Yuanhang A2 passam pelos testes finais na linha de produção da AgiBot. Esses robôs serão destinados a fábricas de automóveis e concessionárias, atuando como operadores digitais e vendedores automatizados.

O avanço da indústria de robôs humanóides em Xangai se apoia na base industrial local, na cadeia integrada do Delta do Rio Yangtzé e no suporte institucional. Com isso, os robôs humanóides deixam os laboratórios e ocupam cenários reais de aplicação.

Dados ampliam capacidade de decisão dos robôs

A indústria prioriza a coleta de dados para melhorar a autonomia e a adaptabilidade dos robôs. Diferentemente das gerações anteriores, que operavam com comandos pré-definidos, os novos modelos dependem de grandes volumes de dados extraídos de cenários reais.

Segundo Hu Jingping, vice-diretora de Assuntos Públicos da AgiBot, a empresa inaugurou em setembro a primeira fábrica de coleta de dados do setor. No local, 100 robôs treinam diariamente e produzem dezenas de milhares de registros. Para cada tarefa — como servir água —, os robôs repetem a ação centenas de vezes até atingir o padrão exigido.

Como o custo desse processo é elevado, o governo de Xangai assumiu a liderança. Em janeiro, a cidade inaugurou o primeiro centro nacional de treinamento de robôs humanóides heterogêneos. Com 5.000 m², o espaço é operado pelo Centro Nacional de Inovação de Robôs Humanóides, com participação de empresas estatais, universidades e centros de pesquisa.

No centro, robôs das empresas AgiBot, Fourier, Kepler e Shanghai Electric treinam ações como caminhar, dobrar cobertores, lavar pratos, apertar parafusos e soldar. A expectativa é gerar até 10 milhões de registros em 2025, criando o maior banco de dados do setor na China.

De acordo com Jiang Lei, cientista-chefe do Centro Nacional de Inovação, o treinamento com dados diversos evita erros conhecidos como “ilusões da IA”. Ele afirma que o centro atua como uma fábrica de dados que fornece informações para empresas e impulsiona o desenvolvimento do setor.

Código aberto e apoio financeiro impulsionam inovação

Em 2024, o centro lançou o Qinglong, primeiro robô humanóide de tamanho real com design universal e código aberto. A iniciativa acompanha o lançamento da comunidade OpenLoong, voltada ao compartilhamento de dados entre desenvolvedores do mundo todo.

Segundo Xu Bin, diretor-geral do centro, o objetivo é facilitar o acesso a tecnologias básicas e acelerar a construção de um ecossistema industrial colaborativo. Ele compara o projeto ao sistema Android, que ampliou o acesso ao desenvolvimento de smartphones.

Desde 2023, o governo central da China destaca a importância do “capital paciente” — recursos voltados a projetos de longo prazo e alto risco. Em resposta, Xangai criou um fundo de mais de RMB 10 bilhões para atrair investimento privado em robôs humanóides.

Além do fundo principal, distritos como Pudong e Baoshan lançaram iniciativas próprias. Pudong criou um fundo específico voltado à inteligência incorporada e grandes modelos. Baoshan lançou o Fundo Shoubao Zhiye, com cerca de RMB 500 milhões. O Centro Nacional de Inovação prepara um fundo adicional de RMB 200 milhões, com apoio da Comissão Municipal de Ciência e Tecnologia.

Wang Bing, diretor do incubador de robôs humanóides de Xangai, afirma que a inovação depende de capital de longo prazo. Ele destaca que os avanços atuais resultam de anos de investimento contínuo.

Empresas aceleram produção e lançamento de novos modelos

Com apoio institucional e financeiro, empresas do setor intensificam suas atividades. A Fourier concluiu uma rodada de financiamento Série E de quase RMB 800 milhões. Em parceria com o Centro Médico Internacional de Xangai, a empresa desenvolve o primeiro centro de reabilitação baseado em inteligência incorporada. O robô GR-1 já possui mais de 100 unidades entregues. Novos modelos, como o GR-2 e o Fourier N1, já estão no mercado.

A AgiBot recebeu investimento da Tencent na rodada B, atingindo valor de mercado de RMB 15 bilhões. Em janeiro, a empresa finalizou a milésima unidade do robô universal. Em março, lançou o Lingxi X2, robô bípede capaz de andar de bicicleta. No setor de componentes, empresas como Kinco Automation, Shanghai Moons' Electric e Hesai Technology ampliam sua participação no mercado.

Robôs já operam em hospitais, residências e fábricas

O Vale dos Robôs de Zhangjiang concentra laboratórios, fábricas e centros de treinamento. Cerca de 3.000 engenheiros trabalham na região, onde mais de 20 startups surgem a cada ano. A cadeia industrial cobre desde o desenvolvimento de componentes até a produção final e aplicação dos robôs.

Segundo Zhang Shaozheng, gerente de produção da Zhiyuan, a maturidade da cadeia de suprimentos local acelerou a fabricação de robôs humanóides. Ele afirma que muitas peças são semelhantes às usadas em veículos elétricos, o que facilita a adaptação industrial.

Os robôs de Xangai já atuam em hospitais como assistentes de enfermagem, em residências como auxiliares domésticos e em fábricas como operadores de linha de montagem. Jiang Lei, do Centro Nacional de Inovação, projeta que, no futuro, os robôs humanóides terão presença semelhante à dos smartphones na vida cotidiana.

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