Tecnologia

Woz: Se a Apple se acomodar, não será pela ausência de Jobs

Steve Wozniak, cofundador da Apple, acha que há risco de a empresa entrar em decadência; e, se isso acontecer, não será por causa da perda de Steve Jobs

Apesar de não ocupar nenhum cargo na Apple há muitos anos, Steve Wozniak se refere à empresa na primeira pessoa do plural (David Paul Morris / Getty Images)

Apesar de não ocupar nenhum cargo na Apple há muitos anos, Steve Wozniak se refere à empresa na primeira pessoa do plural (David Paul Morris / Getty Images)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 2 de outubro de 2012 às 16h21.

São Paulo — “Na última vez que a Apple ficou sem Steve Jobs, sua visão e lucratividade foram para o ralo. O que é diferente agora?” A pergunta foi feita por um internauta a Steve Wozniak durante um debate da série Ask Anything (pergunte qualquer coisa) no site Slashdot. “Há sempre um risco. E minha opinião pessoal é que, se a situação ficar ruim, poderia ter ficado ruim mesmo com Jobs lá”, respondeu o cofundador da Apple.

Wozniak, cofundador da Apple e criador dos dois primeiros computadores da empresa, não ocupa nenhum cargo nela há muitos anos. Mas é acionista da companhia e mantém uma ligação emocional com ela. Ele entra na fila para ser um dos primeiros a comprar cada novo iPhone lançado. E fala da Apple na primeira pessoa do plural. “Temos de ficar atentos para a possibilidade de a Apple voltar a explorar os mercados existentes apenas, em vez de nos surpreender com novas categorias de produtos”, disse ele.

Apesar do alerta, Wozniak diz que, em sua visão, a Apple está muito mais forte do que estava em 1984, quando Steve Jobs a deixou após uma disputa com o então CEO John Sculley. “Naquela época, a Apple era uma empresa de um produto só. Agora, somos fortes e diversificados. Se um produto vai mal, podemos nos recuperar com as receitas e lucros vindos de outras áreas”, diz ele.

“Temos computadores, laptops, iTunes, iPods, lojas de varejo, a loja online Apple Store, iPads. Também temos uma forte cultura de inovação bem compreendida, não só pelos gestores mas também pelos nossos clientes, que acabam definindo muito da direção que tomamos por meio de suas expectativas”, diz Wozniak.

Sem dúvida, a linha de produtos da Apple é muito mais ampla hoje do que era no passado. Mas o último relatório anual da empresa, referente ao ano fiscal de 2011, indica que 43% da sua receita naquele ano veio do iPhone. Essa porcentagem vinha crescendo e pode-se supor que será maior neste ano. É um produto do qual a Apple depende bastante.


Como se manter no caminho da inovação? Para Wozniak, é preciso contratar mais jovens talentosos: “Quando Steve Jobs voltou à Apple, passamos por um período de contratação de muitos jovens talentos. Uma sugestão é que procuremos fazer isso novamente.” É um conselho um tanto óbvio e nem sempre fácil de seguir. Grandes empresas têm até comprado startups para absorver seus melhores talentos, fenômeno que os americanos apelidaram de “acqui-hire”, mistura de aquisição com contratação.

Wozniak também se diz incomodado com a guerra de patentes entre as grandes empresas, em que a Apple vem marcando pontos contra sua rival Samsung. “Eu gostaria que, em vez mover esses processos judiciais todos, a Apple se sentasse e fechasse acordos de licenciamento mútuo de tecnologia com as outras empresas”, diz.

“Eles criaram coisas ótimas sem complicar a interface gráfica. São coisas como deslizar a palma da mão para capturar uma imagem da tela. Eu gostaria que meu iPhone fosse tão bom quanto possível, mesmo que outra empresa tenha criado alguns recursos antes”, afirma.

Wozniak chega a vislumbrar um iTunes para Android: “A Apple poderia licenciar o iTunes, talvez, ou ajudar o pessoal de outras plataformas a desenvolver versões para elas. Isso provavelmente não mudaria a participação no mercado de cada um. Mas nós, consumidores, sairíamos ganhando”, diz. É uma ideia que não deve encontrar apoio na sede da Apple, em Cupertino, e nem na vizinha Mountain View, onde fica o Google.

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