Estamos vendo a web morrer? (.)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2010 às 09h58.
São Paulo - A edição de setembro da revista norte-americana Wired está dando o que falar. O motivo é o extenso artigo de capa da publicação, assinado pelo editor-chefe Chris Anderson e pelo Michael Wolff. "A web está morta", anuncia o periódico. Mas os autores tratam de deixar clara a diferença entre web e internet, para não parecer que são adeptos das mesmas ideias do cantor Prince: "a web está morta. Vida longa à internet".
O texto explora a tendência de que o tráfego de dados na internet, ao menos nos Estados Unidos, já é muito mais ocupado por vídeos e troca de arquivos P2P do que pela World Wide Web. Esse caminho para o qual a humanidade estaria caminhando é impulsionado principalmente pelo modelo de computação móvel do iPhone, segundo Anderson. "É um mundo onde o Google não pode dominar, onde o HTML não manda", afirma. Um infográfico elaborado pela empresa Cisco a partir de dados da Cooperative Association for Internet Data Analysis (Caida) ilustra os argumentos dos jornalistas (veja abaixo).
"Embora nós amemos o ambiente aberto e sem restrições da web, estamos abandonando-o por serviços mais simples e elegantes que simplesmente funcionam", diz Anderson. Ele afirma que uma das mais importantes mudanças no mundo digital nos últimos anos foi a migração da "largamente aberta web" para plataformas semifechadas que usam a internet para transportar dados mas não o navegador para exibir. "Produtores e consumidores concordam: a web não é o ponto culminante da revolução digital", resume.
O artigo explica que esse novo paradigma reflete "o curso inevitável do capitalismo". Wolff diz que a web passou a ser controlada por poucas pessoas de mídias tradicionais, mais do que por empreendedores que pensam dentro da utopia coletivista da rede. Dados da empresa de análise Compete mostram que os 10 maiores sites detinham 31% dos pageviews dos Estados Unidos em 2001, 40% em 2006 e agora têm cerca de 71%. "O controle que a web tomou do mundo verticalmente integrado, de mídias de cima para baixo, pode, com uma pequena revisão da natureza do uso da internet, ser tomado de volta", afirma o jornalista.
A Wired ainda entrou em contato com Tim O'Reilly e John Battelle, que criaram o conceito de Web 2.0, para debater a tese da morte da web. Segundo a revista, O'Reilly concordou que a web é a fase "adolescente" da evolução da internet e que o que estamos vendo é uma mudança em direção a uma fase mais fechada nos ciclos da rede. Battelle, por outro lado, não quis entrar na discussão.
Os críticos logo apareceram para contestar as ideias da publicação. O site BoingBoing, por exemplo, classificou o gráfico utilizado no artigo como "suspeito" por não levar em consideração o crescimento no tráfego total da internet ao longo do tempo. "Na verdade, entre 1995 e 2006, o total de dados que circularam na web passou de 10 terabytes por mês para 1 milhão de terabytes (ou 1 exabyte)", escreve Rob Beschizza no site. Com um novo gráfico, Beschizza tenta mostrar que a proporção de tráfego na web de fato caiu em relação ao total, mas que, em termos absolutos, houve crescimento na circulação de dados pela mesma plataforma.
O assunto está aberto para discussão no site da Wired. Até a tarde desta quarta-feira (18), já havia mais de 100 comentários de leitores distribuídos entre as diversas matérias que tratam do tema.
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