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Vigiar seu ex no Facebook pode afetar sua vida a longo prazo

Um terço das pessoas que estão em um relacionamento admite que olha “regularmente” a página do Facebook de seu ex-parceiro pelo menos uma vez por semana

Vigia: as pessoas ansiosas são mais propensas a perseguir parceiros atuais e antigos no Facebook (Thinkstock)

Vigia: as pessoas ansiosas são mais propensas a perseguir parceiros atuais e antigos no Facebook (Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2016 às 05h56.

São Paulo – Utilizar as mídias sociais tem seu prós e contras: melhora as conexões sociais e enriquece o compromisso nos relacionamentos, mas também aumenta a depressão e diminui a sensação de bem-estar.

Uma situação comum que pode levar a sentimentos negativos é o problema em lidar com o fim de um relacionamento na era do Facebook – quando o perfil do ex-parceiro está lá para ser visto e vasculhado, o que potencialmente pode causar uma incalculável angústia psicológica. Até mesmo o Facebook reconhece que nós não podemos nos segurar e introduziu uma ferramenta que impede que um usuário se depare com qualquer menção do ex-parceiro.

A minha pesquisa descobriu que um terço das pessoas envolvidas em um relacionamento admite que olha “regularmente” a página do Facebook de seu parceiro atual e, aproximadamente o mesmo número, admite que vigia seu ex-parceiro no Facebook pelo menos uma vez por semana.

A vigilância no Facebook é frequentemente vista como uma resposta típica e inofensiva ao término de um relacionamento, porém eu notei que essa perseguição na rede social pode obstruir o processo natural de esquecer um ex-parceiro. Mais especificamente, eu percebi que este tipo de vigilância estava associado a uma sensação muito maior de angústia durante o término, prolongando o anseio pelo ex-parceiro, provocando mais sentimentos negativos e mais desejo sexual pelo antigo namorado e menor crescimento pessoal.

Esta conclusão é apoiada por outros estudos, que mostram que aqueles que perseguem seus ex-parceiros no Facebook são seis vezes mais propensos a procurar por uma intimidade indesejável com o ex-namorados, como perseguir ou se aproximar deles, enviar cartas ou entregar presentes. Antigos parceiros podem entender isso como moderadamente ameaçador e, como resultado, podem sentir ansiedade e depressão.

Assim, as perguntas que devem ser respondidas são: alguns indivíduos são mais vulneráveis ao uso doentio e problemático de redes sociais como o Facebook? O uso excessivo pode criar problemas que antes não existiam?

A janela do Facebook para a vida dos outros

O uso problemático do Facebook é caracterizado por uma preocupação com a rede social que leva à utilização excessiva, a sentimentos de abstinência quando longe dele e, até mesmo, a algum grau de falta de comprometimento profissional e/ou social, como a negligência nos estudos acadêmicos ou relacionamentos íntimos. Um estudo recente revelou que as pessoas que são socialmente ansiosas, mas anseiam por companhia, são particularmente suscetíveis ao uso problemático do Facebook.

Estas pessoas podem preferir interagir no modo online do que pessoalmente, por que satisfaz seus desejos de pertencimento sem o estresse de encontrar alguém. E, é claro, com apenas um perfil online eles têm mais controle sobre como se apresentam para os outros. Contudo, esta preferência pela socialização online pode interferir com os relacionamentos ou com o desempenho na escola ou no trabalho caso se torne excessiva.

Entretanto, como este estudo coletou apenas dados correlacionais em um determinado momento, ele não pode estabelecer se o vício no Facebook é um sintoma de ansiedade social ou se é um distúrbio único. Talvez uma abordagem de pesquisa longitudinal – ou seja, examinar o fenômeno psicológico durante um longo período de tempo – pode melhor esclarecer raízes do vício no Facebook e suas consequências.

Por exemplo, outro estudo descobriu que a ansiedade social, a solidão e a depressão estão associados com o uso problemático da internet. Isto, por sua vez, foi relacionado a disfunções sociais e no trabalho. Porém, o estudo encontrou pouco apoio para o inverso – de que as disfunções levam ao uso problemático da internet, que, por sua vez, leva à ansiedade social, à solidão e à depressão. Isto sugere que o vício no Facebook e o uso problemático da internet é algo único, algo que contribui para problemas sociais e de trabalho para além dos efeitos mais conhecidos de ansiedade social, solidão e depressão.

Perseguição no Facebook

Desse modo, é exagero dizer que o Facebook torna adultos emocionalmente estáveis em perseguidores cibernéticos invejosos? Ou alguns indivíduos estão mais predispostos a um comportamento obsessivo do que outros?

Eu descobri que as pessoas ansiosas – ou seja, aquelas com baixa autoestima, com medo de serem rejeitadas e ciumentas – são mais propensas a perseguir parceiros atuais e antigos no Facebook. Eles podem monitorar os perfis do Facebook para se sentirem próximos a eles e para identificar quaisquer ameaças de rivais reais ou imaginários.

Não é inevitável que qualquer pessoa que use o Facebook se torne um usuário problemático, porém este tipo de vigilância nas mídias sociais contribui para o surgimento de sentimentos negativos após um término – muito mais do que as pessoas com transtornos de ansiedade podem sentir sem o uso do Facebook. De novo, isto sugere que a vigilância no Facebook não é apenas um sintoma de um transtorno de ansiedade, mas algo que vai além.

Então, o estudo aponta para a ideia de que o uso problemático do Facebook, seja ele um viciado pelo Facebook ou um perseguidor na rede social, possui seus próprios problemas que podem ser detectados além dos efeitos negativos de condições como a ansiedade, a depressão e a angústia pós-término que estão associados. Contudo, nós ainda não podemos dizer com certeza se as mídias sociais ou o Facebook são as raízes desses problemas, em vez das tendências psicológicas pré-existentes. Por enquanto, o júri ainda está deliberando. 

Este texto foi publicado originalmente no site The Conversation. Ele foi escrito por Tara Marshall, da Brunel University, Londres.

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