O estudo levanta a questão: se tantas mulheres se sentem mal com seus corpos, qual é o real impacto disso na saúde? (Thinkstock/ kieferpix)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2015 às 21h24.
Estudos acadêmicos podem ser fascinantes... e muito confusos. Decidimos tirar todos os jargões científicos e explicá-los para você.
O cenário
Com toda a pressão para as mulheres parecerem esticadas, magras e eternamente jovens, a autoobjetificação infelizmente é a regra nos dias de hoje.
Os pesquisadores começam a acreditar que o autojulgamento não afeta só nosso estado mental – a vergonha do corpo pode nos deixar fisicamente doentes.
A ideia é que os padrões estritos de beleza – que contribuem para a vergonha do corpo – muitas vezes fazem as mulheres se sentirem mal a respeito de suas funções corporais (como menstruação e suor).
Isso pode fazer as mulheres tentar esconder essas funções, o que por sua vez pode causar problemas de saúde.
Para investigar, a pesquisadora Jean Lamont, da Universidade Bucknell, realizou dois pequenos estudos.
A preparação
No primeiro estudo, Lamont pediu que 177 estudantes universitárias respondessem um questionário com frases como
“Sinto vergonha quando tenho de usar tamanhos maiores de roupa”; “Tenho confiança de que meu corpo vai comunicar o que é bom para mim”; e “Sempre me sinto vulnerável a doenças”.
As participantes tinham de responder o quanto concordavam ou discordavam das afirmações. Lamont usou as respostas para medir a vergonha que cada participante tinha do próprio corpo, como elas respondiam ao corpo e como avaliavam sua própria saúde.
Depois, as mulheres relataram quantas infecções tiveram nos últimos cinco anos – como bronquite, pneumonia e candidíase – além de episódios de náusea, dor de cabeça e diarreia. Cada mulher também avaliou sua saúde numa escala de um a cinco.
Mas Lamont queria acompanhar os resultados num prazo mais longo, para garantir que eles não sofressem influência de depressão, cigarro ou índice de massa corporal (IMC).
Então ela fez uma versão longitudinal do estudo para controlar essas três variáveis.
Nessa versão, ela pediu que 181 estudantes respondessem o mesmo questionário em dois pontos diferentes do semestre, uma vez em setembro e outra em dezembro (época em que há mais ocorrência de doenças infecciosas como gripe, bronquite etc., segundo o estudo).
Os resultados
Finalizados os dois estudos, Lamont descobriu que mulheres que tinham mais vergonha do corpo deram notas mais baixas para sua saúde e relataram mais infecções desde a adolescência. Os resultados se mantiveram no grupo controlado para depressão, cigarro e IMC.
Além disso, o segundo estudo mostrou que mulheres com mais vergonha do corpo tiveram mais infecções entre o primeiro e o segundo questionário.
Isso sugere que a vergonha do corpo relatada pelas mulheres em setembro pode ter contribuído para infecções reportadas em dezembro.
Por que isso acontece? Lamont sugere a seguinte correlação: a vergonha do corpo indica má saúde, porque esse sentimento pode levar as mulheres a prestar menos atenção aos sinais do corpo e a avaliar incorretamente o estado de saúde.
A conclusão
O estudo levanta a questão: se tantas mulheres se sentem mal com seus corpos, qual é o real impacto disso na saúde?
Isso é algo que ainda não se sabe – a escala do estudo foi muito pequena, e os resultados têm limitações, pois Lamont dependia dos sujeitos do estudo para obter os históricos de saúde (um problema conhecido nesse tipo de pesquisa).
Ainda assim, os estudos sugerem que estar de mal com o corpo pode potencialmente prejudicar a saúde física, além de oferecer insights sobre o porquê dessa relação.
De qualquer modo, que esse estudo seja mais um motivo para amar o próprio corpo. Sentir-se culpada por um pedaço de chocolate, ou se penitenciar porque você não é parecida com celebridades ou modelos photoshopadas pode ter consequências muito mais graves além do mau humor.