Tecnologia

Vende-se o TikTok: Oracle, de Larry Ellison, deve sair vitoriosa na corrida pelo app chinês nos EUA

Negociações para a venda do TikTok seguem envoltas em incertezas, com questões geopolíticas e tecnológicas ainda a serem resolvidas antes de um possível acordo

Publicado em 19 de setembro de 2025 às 15h50.

A novela do TikTok nos Estados Unidos pode (finalmente) ter chegado aos seus capítulos finais. Isso porque nesta sexta-feira, 19, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o acordo de venda para uma empresa americana foi aprovado pelo presidente da China, Xi Jinping.

Embora os detalhes da decisão ainda não tenham sido confirmados, são fortes os indícios para uma possível compra por parte de um consórcio americano liderado pela Oracle, multinacional de tecnologia fundada pelo bilionário Larry Ellison e que, nas últimas semanas, tem ganhado cada vez mais força e espaço em Wall Street.

Segundo informações da Bloomberg divulgadas na segunda-feira, 15, o plano prevê um controle de 80% dos americanos sobre o app, com participação acionária ainda não definida de Oracle, Silver Lake e Andreessen. Isso faria com que a chinesa ByteDance, controladora do TikTok, ficasse com apenas 20% da fatia da empresa sob território americano.

Nesta sexta-feira, Trump afirmou em seu perfil na rede social TruthSocial que ele e Xi Jinping "avançaram em muitas questões importantes, incluindo comércio, fentanil, a necessidade de pôr fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a aprovação do Acordo TikTok."

O presidente chinês, Xi Jinping, no entanto, não confirmou se um acordo final foi realmente alcançado sobre a questão.

"O governo chinês respeita os desejos da empresa e está satisfeito em ver as empresas conduzindo negociações comerciais com base nas regras de mercado para chegar a uma solução que esteja conforme as leis e regulamentações chinesas, ao mesmo tempo, em que equilibra os interesses de todas as partes", disse Xi, citado pela agência de notícias Xinhua.

O interesse de Trump em utilizar sua diplomacia transacional para concretizar um acordo com o TikTok acabou abafando as preocupações de segurança nacional que haviam fundamentado a legislação bipartidária que inicialmente estabeleceu um prazo para a venda do aplicativo até janeiro.

O presidente assinou várias ordens executivas prorrogando o prazo da lei, embora a base legal para desconsiderar a legislação e permitir que o app continue operando não seja totalmente clara. Depois da notícia sobre o provável acordo, às 13h33, no horário de Brasília, os papéis da empresa subiam 1,69%.

Por que os EUA querem o TikTok?

O empreendedor chinês Zhang Yiming fundou a ByteDance em 2012 com a ambição de criar uma empresa de internet global.

Inspirado por figuras icônicas da tecnologia, como Steve Jobs, da Apple, e Larry Page e Sergey Brin, do Google, Zhang sonhava em fazer seus aplicativos se espalharem pelo mundo de maneira semelhante ao que aconteceu com gigantes como Google, Facebook e WhatsApp.

A visão de Zhang era que a ByteDance pudesse ultrapassar fronteiras e se tornar um nome tão reconhecido quanto essas empresas, transformando a internet global com suas inovações.

A partir daí, nasceu o TikTok, um dos aplicativos mais influentes e polêmicos da última década.

Desde o seu lançamento, o TikTok cresceu a uma velocidade impressionante, conquistando milhões de usuários ao redor do mundo, especialmente entre o público jovem.

Seu crescimento acelerado, no entanto, colocou a ByteDance em uma situação difícil já em 2020: uma disputa geopolítica entre os Estados Unidos e a China, que ameaçava diretamente a continuidade do TikTok no mercado americano.

O governo dos Estados Unidos, preocupado com questões de segurança nacional, há cinco anos apontou o TikTok como um risco devido ao seu vínculo com a China e a coleta de dados sensíveis de seus usuários americanos.

Isso levou a uma pressão crescente sobre a ByteDance para que tomasse medidas para reduzir sua participação no aplicativo e garantir que ele continuasse operando nos EUA sem colocar em risco a privacidade dos dados dos usuários.

Com o TikTok atingindo mais de 1,59 bilhão de usuários globalmente em 2025, a ByteDance agora enfrenta o desafio de equilibrar sua ambição global com as complexas demandas regulatórias do mercado americano.

A China vai vender?

Em meio a isso, Yiming e sua empresa buscam alternativas para preservar o impacto do TikTok e garantir sua continuidade, ao mesmo tempo, em que tentam cumprir as exigências do governo dos EUA, que considera o aplicativo uma ameaça à segurança nacional.

A venda da operação americana do TikTok depende da aprovação do governo chinês, pois o algoritmo que alimenta a plataforma é classificado como tecnologia estratégica de acordo com as leis de exportação da China.

Desde 2020, o governo chinês exige licenças especiais para a transferência de softwares de recomendação, como os usados por plataformas de vídeo e redes sociais.

Isso significa que qualquer tentativa de vender a tecnologia central do TikTok a uma empresa estrangeira precisa ser autorizada formalmente pelas autoridades chinesas.

Para Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, o anúncio parece mais uma "fumaça" do que, de fato, um acordo definido — e o algoritmo do TikTok é justamente a parte mais espinhosa no jardim de Trump e Xi Jinping.

"Não se sabe se o algoritmo do TikTok está ou não incluído nesse possível acordo. Claro, você tem os usuários, o conteúdo, muitas outras coisas que poderiam ter valor, mas o algoritmo em si não parece estar no jogo", diz em entrevista à EXAME

Para o analista, para acontecer qualquer avanço real, será necessário resolver a questão do algoritmo e a complexa interdependência entre as leis dos dois países. Agora, o futuro do TikTok (e da Oracle) está nas mãos de Trump e do governo chinês.

"É difícil dizer que não é um factoide. Todas as outras vezes que surgiram boatos sobre a venda, nenhuma delas resultou em algo concreto assinado", afirma. "De concreto, ainda não temos nada. É esperar para ver."

O que a Oracle ganha?

Para a maioria dos analistas do mercado, o potencial acordo é mais um ponto positivo para a Oracle.

De acordo com o analista Gil Luria, do banco de investimentos americano D.A. Davidson, a transação Oracle-TikTok é "favorável" para as ações da multinacional de Ellison.

Segundo ele, grande parte do backlog atual da Oracle vem do contrato de US$ 300 bilhões com a OpenAI, o que representa um risco de concentração para a empresa.

Mas a aquisição do TikTok ajudaria a diversificar esse portfólio e reduzir o risco, ao mesmo tempo, em que fortaleceria ainda mais sua posição no mercado de nuvem e sua relação com grandes plataformas de consumo digital.

Para a Mizuho Americas, representada por Siti Panigrahi, a venda do TikTok à Oracle seria uma decisão positiva, pois garantiria que o TikTok "provavelmente continuará sendo um grande cliente" da Oracle Cloud Infrastructure, uma vez que grandes concorrentes como Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure não estão envolvidos na compra.

Analistas do Bernstein SocGen Group, divisão de pesquisa e gestão de investimentos do banco francês Société Générale, também veem o acordo como uma oportunidade para a Oracle se tornar "mais relevante com empresas de internet do consumidor" e, assim, fortalecer sua posição no mercado de tecnologias de inteligência artificial. Para eles, o benefício também existe para o TikTok, que pode ver na Oracle uma oportunidade de melhorar sua infraestrutura sem interferir na experiência do usuário.

Já a Morningstar, embora acredite que o acordo traga benefícios à Oracle, com um "upside limitado", ainda mantém uma estimativa de valor de US$ 330 por ação, com uma contribuição moderada à receita no curto prazo.

Apesar das boas novas para os investidores, a aprovação do acordo ainda não é garantida, pois o governo chinês pode decidir barrar a venda do TikTok com base nas leis de controle de exportação.

Como apontam os analistas do Carnegie Endowment for International Peace, Pequim poderia usar regulamentos de exportação como uma justificativa para bloquear a vendaa, uma vez que permitir a alienação de um ativo digital estratégico como o TikTok poderia ser visto como um sinal de fraqueza no contexto da crescente tensão geopolítica com os EUA.

O perigo, agora, é scrollar demais na sua for you page e perder as últimas atualizações sobre o affair que já dura mais de cinco anos.

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