Alunos na sala de aula de uma universidade no Rio: educação é a área preferida no crowdfunding (Andre Vieira/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2014 às 09h40.
São Paulo - No mundo das "vaquinhas" online, o chamado crowdfunding, a educação é a área em que as pessoas mais querem doar dinheiro.
No entanto, é também aquela em que há um menor número de projetos. É o que mostra a pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo do Brasil, do site Crowdfunding Catarse.
Um questionário foi apresentado a 3.336 pessoas entre agosto e setembro do ano passado.
Na pesquisa, educação ficou à frente em uma lista de 26 áreas, que incluíam Religião, Negócios Sociais, Mobilidade e Transporte e Ciência e Tecnologia.
O engajamento na internet para ajudar projetos voltados ao ensino ou ao financiamento de estudos é tão grande que plataformas de financiamento coletivo direcionadas exclusivamente a propostas de educação vêm sendo criadas.
Nos Estados Unidos, a DonorsChoose (em tradução livre, "doadores escolhem") faz enorme sucesso com projetos propostos pelos professores de escolas públicas.
A plataforma existe há mais de dez anos e é uma das mais experientes no ramo de crowdfunding. Ao todo, já arrecadou mais de US$ 243 milhões para mais de 458 mil projetos, ajudando 11,4 milhões de estudantes de 55 mil escolas.
Segundo o pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e especialista em crowdfunding Rodrigo Davies, agora novas plataformas estão surgindo em países onde o sistema público de educação não tem recursos suficientes.
"No Peru, por exemplo, a PeruChamps arrecada dinheiro para promissores jovens que não têm recursos para realizar seus projetos", conta.
Universitários
No Brasil, a primeira plataforma de crowdfunding voltada à educação foi fundada por três estudantes universitários. Gabriel Richter, Pedro Thomas e Renan Ferreirinha montaram, no ano passado, o site O Formigueiro.
Inspirada no DonorsChoose, a plataforma só traz projetos de escolas públicas e com baixo custo de execução, de até R$ 2 mil.
Em nove meses, a organização que nasceu despretensiosamente em um sofá de uma cafeteria no Rio já juntou R$ 8 mil para seis projetos e ajudou 250 crianças e jovens de diversas partes do País.
"A gente lançou o site em agosto, com diversas dúvidas se ia funcionar, mas está dando muito certo. O meu sonho é que cada escola pública brasileira tenha ao menos um projeto financiado pelo O Formigueiro", afirma Ferreirinha, de 20 anos.
Ele é estudante do 2.º ano da Universidade Harvard e pretende, no futuro, trabalhar com educação. "Eu fiz uma escola pública de qualidade semelhante às mais caras do Rio. Fui transformado pela educação e quero multiplicar isso."
Na semana passada, ele viajou para Sobral, no Ceará, e estabeleceu a primeira parceria do site com uma rede de ensino público.
Agora, todas as escolas da rede municipal da cidade do sertão nordestino podem inscrever projetos educacionais para serem financiados coletivamente.
A rede de Sobral é considerada referência no ensino no País. As reformas lá implementadas desde 2000 elevaram em mais de 90% o índice de alfabetização e zeraram a taxa de abandono até a 5.ª série do ensino fundamental.
Uma das principais mudanças foi a maior participação de diretores e professores na reestruturação do sistema.
Com pouco
O valor arrecadado para cada projeto no site pode parecer pouco para promover um impacto significativo na vida dos alunos. Mas, em Sobral, os professores estão acostumados a fazer muito com pouquíssimo dinheiro. Nas escolas de meio período, o repasse da secretaria para despesas de manutenção (que não inclui o salário dos funcionários) é, em média, de R$ 2.500 por unidade escolar. "Há um compromisso na rede de fazer com qualidade e gastando pouco. Em outras palavras, somos pobres, sabemos disso, mas temos um compromisso de ser os melhores", afirma o secretário adjunto, David Pitombeira.
EUA
Outra modalidade de crowdfunding que cresce no Brasil são as vaquinhas para financiar o estudo de jovens que passaram em universidades dos Estados Unidos.
Com sistema diferente do nosso, as melhores universidades americanas são particulares e também as mais caras. Elas chegam a custar, para alunos internacionais, até US$ 70 mil por ano só com as mensalidades.
Aprovado em quatro universidades dos EUA (Yale, Columbia, Cornell e New York University) e mais cinco no Brasil (USP, Unicamp, ITA, IME e UFRJ), Luis Fernando Machado Poletti Valle, de 17 anos, virou personagem de reportagem do Estado há dois meses.
"Meus pais não têm condições de pagar. O crowdfunding é a minha última opção." Com ele, um grupo de jovens na mesma situação busca recursos pelo site Benfeitoria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.