Cambridge Analytica: consultoria usou diversos testes para coletar dados de usuários no Facebook (Luke MacGregor/Bloomberg)
Victor Caputo
Publicado em 17 de abril de 2018 às 11h56.
Última atualização em 17 de abril de 2018 às 11h58.
São Paulo – Uma ex-diretora da consultoria Cambridge Analytica afirma que o vazamento de dados de 87 milhões de usuários do Facebook é apenas o começo e que o número de atingidos é muito maior.
Brittany Kaiser era diretora de desenvolvimento de negócios e é a segunda ex-funcionária da companhia a delatar a empresa. Kaiser testemunhou hoje aos membros do congresso britânico sobre o assunto (leia a íntegra aqui, em inglês).
De acordo com ela, o teste desenvolvido pelo acadêmico Aleksandr Kogan (chamado This Is Your Digital Life) e que serviu como base para a coleta de dados no Facebook era apenas um dos testes que serviam como fonte para a Cambridge Analytica.
"Eu gostaria de dar ênfase ao fato que os questionários e dados de Kogan/GSR não era o único questionário conectados ao Facebook e a única base de dados que a Cambridge Analytica usou", afirmou ao parlamento britânico.
“Estou ciente, em um sentido geral, de que uma ampla gama de pesquisas foram feitas pela CA ou seus parceiros, geralmente com um login no Facebook - por exemplo, o questionário 'sex compass'.”
Ela esclarece que não tem informações específicas, mas especula que pessoas atingidas pelo vazamento de informações particulares devem ser “muito mais do que 87 milhões”.
Para entender o caso:
Em seu testemunho, ela afirmou que, ao entrar na empresa, viu que times interdisciplinares com psicólogos, cientistas de dados e criativos trabalhando para o desenvolvimento de pesquisas para coletar dados.
“Em minhas apresentações, eu costumava dar exemplos a clientes, se você entrar no Facebook e encontrar aqueles testes virais. Eles não eram todos criados pela Cambridge Analytica ou afiliados, mas essas aplicações eram desenhadas especificamente para coletar dados de indivíduos usando o Facebook como ferramenta para isso”, disse, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Além de um teste com cunho sexual, o Sex Compass, ela afirma ter conhecimento de ao menos mais um, que analisava o gosto musical dos usuários. Ela reforça que ambos os testes eram completamente separados daquele desenvolvido por Kogan.
Em uma entrevista ao site Bustle, a ex-diretora Brittany Kaiser faz um grave alerta. “Qualquer pessoa no mundo pode manipular americanos se quiserem sem sequer trabalhar com uma empresa americana porque a indústria de dados permite isso”, diz.
Anteriormente, o Facebook já havia dito que faria uma auditoria em busca de outros apps além do This Is Your Digital Life que pudessem ter coletado dados de usuários para fins irregulares.
A rede social vem enfrentando questionamentos duros desde o vazamento de dados foi revelado por meio de um ex-funcionário da consultoria Cambridge Analytica.
A empresa perdeu bilhões em valor de mercado e seu CEO e cofundador Mark Zuckerberg foi convocado para prestar esclarecimentos em dois dias de entrevistas no congresso americano.
Os efeitos na confiança do público também foram muito negativos. Uma consultoria norte-americana fez uma pesquisa sobre a confiança de cidadãos na rede social.
De acordo com o Ponemon Institute, 27% dos entrevistados disseram que não acreditam que o Facebook protegeria seus dados. O número despencou em comparação à confiança dos usuários em 2017: na época, 79% acreditavam que o Facebook protegeria os dados dos usuários.