Tecnologia

Usada por bancos e esquecida por programadores, Cobol ganha fôlego

Chamada de ELPaaS, tecnologia da Heirloom converte Cobol para Java e torna possível rodar as aplicações em servidores UNIX ou na nuvem

mainframe (Getty Images)

mainframe (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 14h41.

Última atualização em 23 de abril de 2018 às 11h40.

Ainda muito utilizado por bancos, a linguagem de programação velha de guerra COBOL enfrenta uma escassez de programadores no mercado, e migrar para uma nova não é tão simples quanto parece. Mas uma startup norte-americana chamada Heirloom Computing quer tornar as coisas um pouco mais fáceis. Dona de uma tecnologia capaz de converter para Java as aplicações desenvolvidas na complexa e antiga linguagem, a empresa está chegando ao Brasil em parceria com a DTS, companhia especializada em migração de tecnologias legadas – e promete rodar o COBOL até mesmo na nuvem.

Chamada de ELPaaS (sigla para Enterprise Legacy Platform-as-a-Service), a ferramenta é uma forma interessante para se “libertar de duas prisões”. Isso, claro, nas palavras de dois dos responsáveis por ela: Frayne Sunahara e Randy Fowler, executivos da empresa.

A primeira das prisões mencionadas por eles é a da dependência de mão de obra especializada na linguagem, cada vez mais rara. Ela é substituída em parte por desenvolvedores que criam em Java, capazes de ler e entender o novo código e até mesmo de adicionar funções a ele. A segunda prisão, por sua vez, é a do uso dos Mainframes, as máquinas utilizadas para rodar e gerenciar os dados relativos às aplicações em COBOL. Como o novo código rodará em um ambiente virtualizado em Java, torna-se possível usar servidores em UNIX tradicionais ou até mesmo uma nuvem pública ou privada de uma companhia, que é outro ponto interessante da tecnologia.

Adaptação – O processo de conversão (que, garante a dupla da Heirloom, não é uma simples tradução) se dá por meio de um plugin. Ele cria o código-fonte em Java, baseado no original em COBOL, e depois compila a aplicação. Como é flexível – e até “livre demais”, segundo Fowler –, “o Java pode entender como o COBOL se ‘sente’ ou se comporta pelas conversões”.

As migrações ainda mantêm a lógica de funcionamento original, evitando que o conhecimento da aplicação seja perdido, e rodam como se estivessem na linguagem antiga. De acordo com Sunahara, nenhuma limitação foi encontrada até agora na migração, e as aplicações já foram testadas em pelo menos 30 plataformas de nuvem diferentes.

A mudança não exige grandes adaptações, já que desenvolvedores em COBOL e em Java podem, de certa forma, entender o código. Fowler ainda lembra que isso abre um leque interessante de possíveis implementações no sistema, graças à boa variedade de APIs na linguagem mais nova. Fora que, no caso de bancos, facilita a comunicação entre equipes de desenvolvimento interno (COBOL) e de caixas eletrônicos e smartphones (Java), que “são duas tribos diferentes”, nas palavras de Sunahara.

Preço e manutenção – Os custos de migração também têm um retorno de seis meses a dois anos, de acordo com experimentos feitos pela companhia. O preço da manutenção, no entanto, já depende de outros fatores, como tamanho dos servidores UNIX ou da alocação na nuvem – esse último fator, calculado de acordo com a demanda. São pontos que empresas maiores, que eventualmente possuem um Mainframe, podem ver como um obstáculo, embora sejam até menos relevantes a companhias menores, que não arcam com os custos de uma máquina do tipo.

Questão de segurança – O Java tem chamado atenção negativamente quando o assunto é segurança. Em cada pacote de atualizações liberado pela Oracle, boa parte dos updates está relacionada a brechas no software. Para tentar passar mais confiança aos clientes, a Heirloom tem uma parceria no exterior com a EMC, empresa responsável por grandes servidores, que são, na teoria, devidamente blindados contra eventuais ataques.

Aqui no Brasil, a parceria é com a VMWare, que é parte da EMC. Dessa forma, espera-se que as mesmas soluções de segurança adotadas pela empresa principal também cheguem à tecnologia da Heirloom distribuída por aqui.

É uma tática interessante adotada pelas duas companhias, mas mesmo Sunahara admite que qualquer sistema é vulnerável de alguma forma a quebras de segurança. Evitar um ataque 0-day, por exemplo, seguirá praticamente impossível – mas medidas tomadas rapidamente podem evitar que maiores estragos sejam feitos nas companhias.

Contrato e distribuição – O contrato entre a Heirloom e a DTS foi assinado no final do ano passado, e tem validade indeterminada. Ele começa a valer já neste ano, e, segundo Fernando Parra, presidente da DTS, as vendas da tecnologia têm início neste mês, junto com a campanha de marketing e com a saída da certificação. O objetivo da parceria é atender a 10 casos de migração de tecnologia só em 2014.

Fim do COBOL? – Vale mencionar que, apesar de tudo, a tecnologia de migração ainda não significa um ponto final para a vida da velha linguagem de programação. Segundo os dois representantes da Heirloom, ambos com algumas dezenas de anos de experiência em desenvolver em COBOL, ela ainda tem muitas capacidades que muitas outras não têm. Para lidar com dinheiro, por exemplo, a linguagem segue como uma das mais indicadas.

Mas as empresas, de acordo com eles, precisam se adaptar para sair desse mundo, especialmente pela dificuldade que há em fazer uma alteração em um sistema baseado em COBOL. É preciso analisar com cuidado, é claro, mas uma migração parcial para Java é um começo – e já simplifica a adição de um recurso ou modificação em uma aplicação de cartão de crédito, por exemplo.

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