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Universidade sem aulas pode dar certo? É o Projeto Minerva

O Projeto Minerva combina ferramentas tecnológicas, vivência internacional e uma didática radicalmente inovadora para revolucionar a universidade

Nelson e Kosslyn: uma universidade sem aulas (Divulgação/Divulgação)

Nelson e Kosslyn: uma universidade sem aulas (Divulgação/Divulgação)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 25 de agosto de 2014 às 09h12.

São Paulo -- O empreendedor Bob Nelson quer refazer do zero o conceito de universidade. Em seu Projeto Minerva, ele mescla ferramentas tecnológicas, vivências em diversos países e uma didática radicalmente nova para "substituir" a universidade tradicional. Seu objetivo é provocar uma revolução no ensino superior e arrastar junto até instituições prestigiadas como Harvard, Sorbonne e Oxford. 

As universidades atuais são, é claro, muito mais do que salas de aula. Muitas têm times esportivos, associações de alunos, bibliotecas, laboratórios, festas e ativismo político. 

Nelson – um americano de 39 anos que já fundou outras empresas antes e ganhou milhões de dólares com elas – acha que é possível oferecer cursos de elite a mais gente se essa cara estrutura for eliminada, restando apenas o essencial para o ensino. 

“Gasta-se demais em coisas que nada tem a ver com o ensino, como grandes campi e programas esportivos. Há muito pouco foco em educar os estudantes e foco demais em manter os empregos dos professores”, declarou Nelson ao jornal britânico The Independent.

Ele fundou, em 2010, o Projeto Minerva, uma startup com fins lucrativos, e recrutou Stephen Kosslyn, psicólogo e ex-coordenador de cursos da universidade de Harvard, para desenvolver uma nova didática.

Nelson gosta de dizer que a Minerva é a primeira universidade de elite fundada nos Estados Unidos em mais de cem anos. Com um investimento de 25 milhões de dólares do fundo Benchmark Capital, ele e Kosslyn criaram um programa de ensino de quatro anos.

Os cursos se dividem em cinco áreas. Já estão aprovados para entrar em funcionamento os de artes e humanidades, ciências sociais, ciências naturais e ciência da computação. A área de negócios ainda aguarda aprovação. Os cursos são realizados em parceria com o Keck Graduate Institute (KGI), parte de um consórcio de faculdades da Califórnia. 

Seminário à distância

Os cursos da Minerva não terão aulas regulares. Em vez disso, haverá uma série de seminários interativos realizados por meio de um sistema de videoconferência via internet. Em cada seminário, serão reunidos no máximo 20 alunos. O professor pode estar em qualquer lugar do mundo. Basta que tenha acesso à internet.

Os seminários serão sempre para discussões avançadas. A ideia é que cada aluno deve aprender os conceitos básicos por sua própria conta, seguindo cursos online (os chamados MOOCs, sigla em inglês de cursos online abertos e massivos) disponíveis em sites como Coursera, Udacity e Khan Academy.

“A razão por que podemos ir em frente com esse modelo pedagógico é que os MOOCs existem. Os MOOCs vão acabar tornando as aulas obsoletas”, disse Nelson ao site The Atlantic.

O jornalista Graeme Wood, do Atlantic, participou de um seminário experimental na Minerva – um dos muitos feitos para aperfeiçoar a didática antes do início dos cursos. O físico francês Eric Bonabeau era o professor. Wood conta que, a princípio, achou muito impessoal acompanhar um seminário na tela do computador. 

Bonabeau procurava estimular os participantes (além do jornalista, havia empregados da Minerva conectados) a interagir o tempo todo. Ele fez muitas perguntas e, em determinado momento, dividiu a classe em dois grupos virtuais, cada um encarregado de defender uma posição.

“Ninguém teve de trocar de cadeira. Bonabeau pressionou um botão e os estudantes do outro grupo desapareceram da minha tela, ficando apenas meus três colegas de grupo e eu. Usávamos um quadro de anotações compartilhado para registrar as ideias”, conta Wood.

No final, Wood achou a experiência exaustiva, mas eficiente para estimular o aprendizado. “Foi um período contínuo de engajamento forçado, sem alívio na forma de um intervalo em que minha atenção pudesse se dispersar”, escreveu ele.

Vivência internacional

Os primeiros 33 alunos da Minerva vão começar seus cursos em setembro. A faculdade já tem até uma residência de estudantes em São Francisco. Mas isso é só o começo. Nelson planeja abrir unidades em mais seis cidades.

Depois de um ano na Califórnia, os estudantes serão divididos em dois grupos. Uma turma vai para Berlim e outra para Buenos Aires. Nos anos seguintes, vão viver em Hong Kong, Londres, Nova York e Bombaim.

Esses universitários não terão times esportivos e nem atividades culturais num campus. “Mas vão viver nas cidades mais grandiosas do planeta”, diz Nelson. A ideia é que aproveitem o que cada cidade oferece para recreação e aprendizado.

A Minerva diz que aceita qualquer estudante que atenda a seus requisitos. Além de ter inglês fluente, é preciso ter sido excelente aluno no segundo grau para encarar o processo seletivo. Da primeira leva de 1.794 candidatos, foram aprovados apenas 45.

“Somos duas vezes mais seletivos que Harvard”, disse Nelson ao Independent. Não há limite de vagas. Os 33 alunos da primeira turma vêm de 13 países e só 20% são americanos.

O curso custa 10 mil dólares por ano. Somando-se despesas com moradia, alimentação, seguro-saúde e material didático, chega-se a um gasto estimado de 28.850 dólares por ano, sem incluir custos de viagem. 

O preço é baixo para uma universidade de elite. Em Harvard, por exemplo, um ano de estudo custa mais que o dobro disso. E a Minerva se dispõe a ajudar os alunos a conseguir financiamento caso precisem.

Se Nelson fracassar em seu projeto, é provável que a Minerva feche as portas em poucos anos e seja esquecida com o tempo. Se ele tiver sucesso, vai inspirar outras iniciativas ao redor do mundo, jogando um sopro de ar fresco na educação superior. 

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