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Maurício Grego
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h28.
Num mundo onde empresários, pesquisadores e hackers tornam-se celebridades de uma hora para outra, é notável que Joseph Licklider tenha permanecido tão pouco conhecido. Em 1962, dirigindo o Darpa, um obscuro laboratório de pesquisas do Departamento de Defesa americano, ele lançou as bases do que, anos depois, viria a ser a internet. Licklider, ou Lick, como gostava de ser chamado, era psicólogo. Ele foi o primeiro a prever uma relação mais pessoal do usuário com o computador, na época uma máquina misteriosa para cálculos militares.
Num ensaio profético, ele defendia a criação de centrais eletrônicas de conhecimento que "vão incorporar as funções das bibliotecas atuais junto com os avanços que virão na tecnologia de armazenamento e recuperação de informações". É a primeira descrição de que se tem notícia da futura internet. Na Guerra Fria, Licklider conseguiu dinheiro do Pentágono para custear as pesquisas que ajudariam a tornar real essa visão.
The Dream Machine, de M. Mitchell Waldrop (502 págs., ed. Viking Penguin, 29,95 dólares na Amazon. com), resgata o papel de Licklider como visionário. Cerca de 20% do livro é dedicado ao próprio Licklider. O restante aborda as muitas histórias paralelas que contribuíram para o avanço da tecnologia. A narrativa vai da criação do mouse, nos anos 70, à grande onda da internet, nos 90.
Apesar da paixão de Waldrop pelo tema, sua narrativa é feita com os pés no chão. Ao descrever as pessoas, ele evita estereótipos e não deixa de lado a competição e a inevitável tensão presentes no desenvolvimento da tecnologia. Waldrop entrevistou dezenas de veteranos da computação e vasculhou pilhas de documentos da época. Mas não chegou a conhecer Licklider, morto em 1990, nem teve acesso a nenhum texto inédito dele. Mesmo assim, The Dream Machine consegue envolver o leitor.