Carro autônomo da Uber: empresa abandona projeto de desenvolver tecnologia internamente depois de 2,5 bilhões de dólares investidos (Aaron Josefczyk/Reuters)
Thiago Lavado
Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 18h50.
Última atualização em 7 de dezembro de 2020 às 20h49.
Chegou ao fim uma das mais ambiciosas apostas do mercado de tecnologia. A Uber vai abandonar o projeto de desenvolver seu próprio carro autônomo, segundo informações do jornal britânico Financial Times.
A empresa vai passar toda sua unidade de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia à rival Aurora, uma startup de veículos autônomos financiada por gigantes como Amazon e Sequoia. A Uber vai transferir 1.200 funcionários para a Aurora — que atualmente tem 600 empregados — além de investir 400 milhões de dólares. O gigante de transporte vai ter uma fatia minoritária na startup, atualmente avaliada em 2,5 bilhões de dólares, após um aporte de 530 milhões liderado pela Sequoia em 2019.
A Uber foi uma das primeiras a sonhar com a possibilidade de que carros autônomos pudessem ser uma alternativa viável para a operação da empresa, que investiu bilhões em pesquisa e desenvolvimento da tecnologia, entrou em disputas com o Google por causa de acusações de roubo de propriedade intelectual, e até mencionou os carros autônomos em seu prospecto de IPO, no ano passado, como uma tecnologia que poderia coexistir junto com os motoristas parceiros.
Apesar disso, a ambição da Uber começou a tomar um contorno diferente a partir de 2018, quando um carro da empresa atropelou e matou uma pedestre em Tempe, no Arizona, durante a fase de testes do projeto. Posteriormente, foi revelado que o software tinha falhas e que o motorista presente no veículo, que deveria tomar o controle caso algo desse errado, não estava prestando atenção.
De lá para cá, a divisão responsável pelo desenvolvimento de um carro autônomo dentro da Uber, chamada de Grupo de Tecnologia Avançada (ATG, na sigla em inglês), foi de mal a pior. Segundo informações de uma reportagem do portal The Information deste ano, a divisão apresentou resultados pequenos e estava repleta de disputas internas, com a direção da Uber preocupada se teria de investir mais dinheiro para salvar o projeto. A empresa colocou mais de 2,5 bilhões de dólares na ideia.
“O carro não dirige bem”, disse um gerente da ATG em um e-mail com um relatório de 1.500 palavras enviado ao CEO da empresa, Dara Khosrowshahi, que o The Information teve acesso.
O número de críticos do trabalho e dos problemas envoltos em torno da ATG tem crescido nos últimos meses e inclui ainda o antigo diretor de tecnologia da Uber, Thuan Pham, que deixou a empresa em maio, pouco antes de uma demissão massiva realizada pela companhia, que dispensou 25% de sua força de trabalho em todo o mundo.
“Nos últimos dois anos, eu periodicamente levantei preocupações com Dara sobre por que não estávamos fazendo progresso significativo na área de carros autônomos e especificamente clamei que ele fizesse perguntas específicas para abordar o assunto ele mesmo”, disse Pham à reportagem. “Como não houve responsabilidade e transparência?”
No ano passado, um consórcio entre a montadora Toyota e o conglomerado SoftBank aportou 1 bilhão de dólares na Uber para aprimorar a divisão de carros autônomos da empresa. As empresas farão parte da entrada da Uber na Aurora, que agora passa a valer 10 bilhões de dólares. Uber e seus parceiros terão 40% da Aurora, sendo que 26% serão exclusivos da empresa de transporte. Dara Khosrowshahi, presidente da Uber, passa a ser um membro do conselho executivo da startup.
Com o negócio, a Aurora não só quadriplica de valor como também ganha acesso a fornecedores e clientes: a empresa se aproxima da Toyota e ganha a possibilidade de negociar com a líder do mercado de viagens pagas no futuro.