Modelo: a impressão 3D pode ser usada em aulas de anatomia (BioArchitects/Divulgação)
Marina Demartini
Publicado em 19 de março de 2017 às 08h00.
Última atualização em 20 de março de 2017 às 10h45.
São Paulo – A impressão 3D já é usada em algumas áreas, desde a construção de prédios até a criação de comidas. Na medicina, espera-se que, em um futuro não tão distante, ela seja utilizada para salvar as vidas de milhares de pessoas que esperam por um órgão.
Enquanto isso não acontece, algumas empresas e universidades já estão encontrando outras aplicações para a tecnologia no mundo médico. As ideias vão desde o planejamento cirúrgico até o uso de modelos para substituir os cadáveres das aulas de anatomia.
Conversamos com Felipe Marques, CEO da BioArchitects, empresa brasileira que desenha e imprime próteses, para entender essas e outras aplicações da impressão 3D na medicina. Segundo ele, irá demorar pelo menos dez anos para que modelos tridimensionais de órgãos com vascularização, como coração, sejam usados em transplantes.
Outras partes do corpo humano, como pele e cartilagem, já estão sendo desenvolvidas para transplantes em pacientes vítimas de queimaduras. Contudo, falta a aprovação de agências regulatórias para colocar o produto no mercado. Além disso, a bioimpressão também já é uma alternativa para empresas de cosméticos que não querem usar mais animais em seus testes.
Confira abaixo algumas das aplicações que já são realidade no Brasil:
Felipe Marques afirma em entrevista a EXAME.com que é possível imprimir modelos em 3D com tamanhos e texturas que simulam órgãos e outras parte do corpo humano. “Em alguns países, o uso de simuladores impressos em 3D para a realização de treinamentos é comum, mas no Brasil isso ainda não é tão conhecido”, explica.
Ele conta que um modelo impresso pela BioArchitects já foi útil em uma cirurgia de aneurisma abdominal. Nesse tipo de procedimento é preciso colocar uma prótese na aorta para impedir que a área lesionada se rompa. “Nós criamos um modelo/simulador para que o médico pudesse treinar a entrada pela artéria até a hora que ele precisasse posicionar a prótese”, diz o CEO.
Além disso, os simuladores podem ser usados em faculdades de medicina para complementar o material didático. Segundo Marques, o acesso a cadáveres está cada vez mais complicado. Por isso, peças tridimensionais confeccionadas em escalas e cores diversas podem ser uma alternativa.
As impressoras 3D também podem ser usadas para a criação de modelos em tamanho real que replicam órgãos e outras parte da anatomia do paciente. Assim, o médico poderá estudar a patologia e planejar quais instrumentos irá usar antes de entrar em uma sala de cirurgia.
Marques explica que a impressão é feita a partir de um exame de tomografia ou de ressonância magnética. “O que nós fazemos é uma réplica do órgão da pessoa para que o médico possa diminuir custos e ainda otimizar o tempo da cirurgia. É bom para o cirurgião e para o paciente.”
Ele conta que a BioArchitects desenvolveu uma peça para um médico que faria uma cirurgia de costela. “O cirurgião geralmente precisa dobrar as placas durante um procedimento desse tipo, porém, isso foi feito antes com a placa impressa em 3D.” Desse modo, foi possível reduzir o uso de materiais e, consequentemente, o custo da cirurgia em até 22 mil reais.
Nesse campo, uma das entidades pioneiras no país é o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), em Campinas, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A instituição atende casos do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo os mais comuns de reconstituição óssea resultantes de anomalias genéticas, tumores e acidentes.
Uma das aplicações mais comuns da impressão 3D é a criação de próteses. Com elas, o usuário pode ter uma peça artificial personalizada com tamanho e encaixe exatos.
Segundo Marques, o produto é totalmente impresso em titânio na BioArchitects e custa, em média, cinco mil reais. “Por ser uma tecnologia muito nova, ela vai ser primeiro usual na área privada e depois na pública”, acredita o CEO.
Recentemente, uma equipe de pesquisadores do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) criou uma prótese facial humana com a tecnologia da impressão 3D. O paciente que recebeu o implante havia perdido parte do rosto em decorrência de um câncer.
Os especialistas usaram uma técnica chamada de fotogrametria, em que uma série de fotos é tirada de ângulos diferentes para a criação de uma malha digital da face. O formato da prótese é calculado com base no lado oposto do rosto. Depois que os testes de encaixe são feitos, a impressão é feita e pigmentada para ser colocada no paciente.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda não dá aval para próteses personalizadas – apenas peças de tamanhos definidos podem ser fabricadas. A entidade, entretanto, fez uma parceria com o CTI para regulamentar o uso da impressão 3D na medicina.