Cascavel: a prioridade, no entanto, é poder sintetizar a proteína, ou seja, produzi-la em laboratório sem ter de extraí-la do veneno (Tigerhawkvok / Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2012 às 13h48.
Rio de Janeiro - Uma substância extraída do veneno da cascavel pode aumentar a expectativa de vida de pacientes com câncer de pele, segundo experimentos realizados por pesquisadores brasileiros, por enquanto em ratos de laboratório.
A cromatina, uma proteína isolada do veneno desta serpente sul-americana, aumentou em até 70% a sobrevivência de ratos com câncer de pele (melanoma), informou nesta quinta-feira o Instituto Butantã, responsável pela descoberta.
A proteína também ajudou a retardar significativamente o desenvolvimento do tumor ou inclusive a inibir sua formação totalmente, segundo o Butantã, instituto vinculado à Secretaria de Saúde do estado de São Paulo.
Os responsáveis pelo estudo inédito descobriram que a proteína é capaz de induzir a morte das células, mas que sua ação tóxica é exclusiva sobre as células do melanoma, ou seja, que não afeta outras células do organismo.
O Instituto Butantã, um organismo especializado no estudo de animais venenosos como serpentes, aranhas e escorpião, se destacou pelo desenvolvimento de diferentes remédios e vacinas a partir de substâncias extraídas dos venenos.
Segundo os pesquisadores do Butantã, a cromatina tem grandes vantagens em comparação com outras drogas para tratar o câncer devido a que é facilmente solúvel em diferentes substâncias e a que não provoca graves reações alérgicas.
A substância, além disso, aparentemente não interfere no processo de divisão celular das células normais, ao contrário de outras drogas anticancerígenas, que se acumulam dentro do tumor.
Isso devido a que a cromatina apenas permanece por 24 horas dentro do tumor.
Essa mesma característica, segundo o Butantã, permite pensar no desenvolvimento de uma futura droga que apenas teria que ser aplicada em uma dose diária para tratar o câncer.
Como a substância diferencia as células cancerígenas das normais, os pesquisadores também a estão testando como ferramenta biotecnológica para detectar essas diferenças e ajudar no desenvolvimento de novos remédios de combate ao câncer.
"Dessa forma demonstramos que a cromatina serve como protótipo para o desenvolvimento de novas drogas com propriedades parecidas", explicou a pesquisadora Irina Kerkis, coordenadora do projeto, em declarações citadas no comunicado.
Os pesquisadores admitem que ainda é preciso realizar outros testes em animais e até em humanos para pensar na possibilidade do desenvolvimento de um novo fármaco.
A prioridade, no entanto, é poder sintetizar a proteína, ou seja, produzi-la em laboratório sem ter de extraí-la do veneno, antes de experimentá-la em humanos.
"A partir de então poderemos realizar os testes clínicos (com humanos), desde que todos os resultados sejam bem-sucedidos. Poderemos ter remédios contra o melanoma e outros tipos de câncer em até cinco anos", segundo Irina.