Campo de plantação de trigo 18/12/2012 REUTERS/Enrique Marcarian (Enrique Marcarian/Reuters)
Lucas Agrela
Publicado em 17 de abril de 2019 às 10h04.
Quando tempestades de granizo atingiram os 2.400 hectares que Trevor Scherman semeia todo ano com ervilhas, trigo, canola e lentilhas, a primeira providência dele não foi dirigir até lá para verificar o estrago, mas checar seu iPad.
Nove miniestações climáticas da empresa canadense Farmer’s Edge e imagens de satélite da Planet, sediada em São Francisco, na Califórnia, traçam para Scherman uma avaliação específica de cada uma de suas lavouras. As estações medem condições do solo, humidade e temperatura no ar e na raiz das plantas, velocidade e direção do vento e até o ponto de condensação da água.
Essas companhias fazem parte de uma nova onda de alta tecnologia para ajudar fazendeiros a enfrentar um inimigo antigo que se tornou mais caprichoso e violento, o mau tempo. Enquanto isso, vendedoras de sementes como Bayer, Syngenta e DowDuPont pesquisam material genético para desenvolver plantas resistentes ao clima rigoroso.
“Estamos vendo neste momento um novo paradigma na produção de milho e soja”, disse Al Dutcher, meteorologista especializado em agricultura que trabalha para o governo estadual de Nebraska, nos EUA. “Os avanços tecnológicos estão mais rápidos do que os problemas.”
Os investimentos em empresas de tecnologia agrícola estão em alta — foram US$ 6,7 bilhões nos últimos cinco anos — e o número de acordos com firmas de venture capital também vem aumentando, segundo a Finistere Ventures, de San Diego.
Até outubro de 2018, foram assinados 28 acordos de capital incentivador para fabricantes de sensores e equipamentos agrícolas inteligentes, além de 19 acordos envolvendo companhias especializadas em imagens.
Enquanto isso, empresas tradicionais do ramo de sementes procuram formas de proteger as plantas dos novos padrões climáticos. Essas companhias estão explorando a carga genética de variedades de milho da África que sobrevivem semanas sem água, além de culturas da Ásia que têm proteção natural contra doenças que se proliferam em climas quentes e úmidos.
“Para os agricultores, o maior fator de risco é e sempre foi o clima”, disse Nathan Fields, responsável pelas áreas de produção e sustentabilidade da Associação Nacional de Produtores de Milho dos EUA. “Está ficando mais dramático, mas eles se adaptaram no passado. Eles estão acostumados. É mais intenso, mas a semente produzida hoje, o germoplasma, está gerando plantas incríveis capazes de suportar muito disso.”
Em se tratando de milho, a próxima inovação chegará na primeira metade da próxima década. Bayer e BASF estão desenvolvendo sementes que limitam a altura das plantas para que suportem ventanias sem quebrar ou ter a raiz deslocada, explicou Bob Reiter, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Bayer.
A batalha não é fácil. O clima está mais errático do que nunca. Em um único dia, na passagem do furacão Florence, lavouras ao redor de Wilmington, na Carolina do Norte, receberam o equivalente a um mês de chuva em um único dia. Uma fazenda pode ser castigada pela seca, enquanto outra, a apenas 150 quilômetros de distância, pode ser alagada.
Companhias como a Reaktor Space Lab, sediada em Helsinki, na Finlândia, apostam que dados de todos os tipos ajudarão os fazendeiros a enfrentar a mudança climática. Em novembro, a empresa lançou um satélite que orbita a Terra a cada 95 minutos e captura imagens que detectam todo o espectro da luz, permitindo análises de nutrientes do solo, humidade e teor de clorofila nas plantas. Satélites pertencentes a governos podem custar US$ 300 milhões, mas esses satélites do tamanho de uma caixa de sapatos vão custar de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões, baixando o custo para obtenção de imagens.