Tecnologia

Tanques e navios russos conquistam mercado de jogos on-line

Setor de jogos digitais está atraindo milhões de novos jogadores com títulos que apresentam cenas da Primeira Guerra Mundial

Visitante jogando um game em um dos estandes da feira Gamescom 2014, em Colônia (Ina Fassbender/Reuters)

Visitante jogando um game em um dos estandes da feira Gamescom 2014, em Colônia (Ina Fassbender/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2014 às 22h47.

Berlim - Enquanto a Europa se prepara para o centenário de batalhas épicas da Primeira Guerra Mundial, o setor de jogos digitais está atraindo milhões de novos jogadores com títulos que apresentam cenas do conflito que irrompeu uma geração depois.

Nesta semana, na conferência Gamescom em Colônia, Alemanha, o assunto predominante é a Segunda Guerra Mundial.

Embora ainda existam diversos jogos com alienígenas no espaço, criminosos urbanos e encanadores gordinhos, as cores que prevalecem no evento anual são as da camuflagem da era de 1940, o vermelho dos nazistas e o laranja ardente das explosões.

Fora do enorme saguão onde o evento está ocorrendo, as sacolas dos visitantes estão repletas de coisas como camisetas com desenhos de tanques e placas de identificação de soldados.

“Adoro poder jogar com coisas que são extremamente parecidas com as da Segunda Guerra”, disse David Flöhl, programador de 40 anos que mora em Colônia.

Para enfatizar, ele bateu na carcaça de um tanque soviético original exibido pela fabricante de jogos Gaijin Entertainment, de Moscou, que pretende publicar no quarto trimestre o título War Thunder, inspirado na Segunda Guerra.

No stand da grande rival da Gaijin, a Wargaming.net da Bielorrússia, jovens mulheres pavoneiam em uniformes justos de enfermeiras, marinheiras e soldadas da Segunda Guerra para promover os títulos da empresa: World of Tanks, World of Warplanes e, em breve, World of Warships.

No início deste ano, a japonesa Bandai Namco lançou “Enemy Front”, um jogo de atirador em primeira pessoa em que um jornalista americano sabota o Terceiro Reich atrás das linhas de combate; a Bethesda Softworks LLC tem o “Wolfenstein: The New Order”, que retrata a resistência dos combatentes aliados desafiando nazistas vitoriosos; o “Sniper Elite 3”, da 505 Games, recria a história de um atirador de elite no norte da África que tenta deter a Wunderwaffen, as superarmas de Hitler.

Jogadores soviéticos

A Ubisoft tem programado para o próximo ano o “Furious 4”, que apresenta uma história de humor negro reminiscente do filme “Bastardos inglórios”, de Quentin Tarantino.

O fenômeno da Segunda Guerra foi realizado por editores da Rússia e das ex-repúblicas soviéticas, onde até 3 por cento da população jogam regularmente esses jogos, de acordo com a Wargaming.

O legado da Segunda Guerra Mundial instilou um sentimento de sacrifício honroso em muitos programadores e jogadores, que nasceram na década de 1980 quando a Guerra Fria estava a todo vapor, disse Igor Matsanyuk, fundador da IMI, uma empresa de capital de risco que investe em jogos, mas que não colocou dinheiro na Gaijin ou na Wargaming.

Os jogadores na ex-União Soviética “têm a experiência cultural de uma guerra vitoriosa quando seus tanques de guerra vencem”, disse Matsanyuk.

“Os cenários da Segunda Guerra Mundial são menos relevantes para as pessoas dos EUA e do oeste da Europa, que não têm essa cultura”.

Pearl Harbor

Uma grande parte do atrativo dos novos lançamentos da Gaijin e da Wargaming se deve a que qualquer pessoa com uma conexão à internet que fizer o download do software pode jogar gratuitamente. Isso possibilita que os jogadores enfrentem centenas de milhares de outros participantes on-line.

As empresas ganham dinheiro com a venda de uma gama mais ampla de armas e outras engenhocas digitais.

Apesar de o War Thunder – que combina ação aérea e terrestre entre as forças Aliadas e do Eixo na Batalha das Ardenas, em Pearl Harbor e em mais de uma dúzia de lugares – ainda não ter sido lançado oficialmente, ele já tem 8 milhões de jogadores de teste.

A Gaijin disse que cerca de 20 por cento deles compram atualizações e que eles gastam uma média de US$ 10 por mês.

A quantidade de usuários dos jogos on-line gratuitos com temática militar quase duplicou no ano passado e continuará crescendo, de acordo com a Gaijin.

A Wargaming diz que o número de jogadores registrados para seus títulos, que apresentam tanques e aviões de combate da Segunda Guerra, triplicou nos dois últimos anos, totalizando mais de 100 milhões de pessoas.

Perspectiva nostálgica

Os jogos da Segunda Guerra oferecem aos jogadores uma oportunidade de ver a guerra através de uma perspectiva nostálgica, de um modo que os títulos baseados em conflitos atuais não consegue, disse o CEO da Gaijin, Anton Yudintsev.

Ele também observa que a agitação na Ucrânia prejudicou os negócios porque muitas pessoas fugiram dos combates no leste e os cortes de energia em todo o país dificultam que as pessoas possam acessar a internet mesmo em zonas relativamente calmas.

“Perdemos uma grande quantidade de usuários ucranianos”, disse Yudintsev. “Honestamente, eles têm coisas muito mais importantes para fazer do que jogar. Seria muito melhor que as pessoas estivessem jogando ao invés de combatendo guerras reais”.

Acompanhe tudo sobre:ArmasÁsiaEuropaGamesGuerrasRússia

Mais de Tecnologia

Trump pode intensificar bloqueio a Huawei e ampliar liderança dos EUA em 5G e 6G, diz Eurasia Group

74,5% do brasileiros jogam videogames com frequência — e classe C está mais incluída no consumo

Startup aeroespacial chinesa se prepara para missões de recuperação de foguetes

Por que usar a IA generativa pode ser um diferencial para os advogados do futuro