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Streaming do julgamento de Bo: espetáculo ou transparência?

Pequim, 23 ago (EFE).- Pela primeira vez na história, a China transmite um julgamento, do ex-dirigente comunista Bo Xilai, quase ao vivo através da internet, e embora...

xilai (Getty Images)

xilai (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h26.

Pequim, 23 ago (EFE).- Pela primeira vez na história, a China transmite um julgamento, do ex-dirigente comunista Bo Xilai, quase ao vivo através da internet, e embora isto pareça um sinal inédito de transparência, há quem questione se não é uma grande obra de ficção.

O processo contra o carismático Bo começou na quinta-feira em Jinan, com centenas de jornalistas na entrada do Tribunal Intermediário da cidade, que não puderam entrar na sala de audiências. Apenas 19 jornalistas chineses fazem parte do público de 110 pessoas que assistem ao julgamento.

A única maneira de descobrir o que acontece dentro da sala da audiência é através da rede social Weibo, uma espécie de Twitter chinês, na qual o tribunal criou uma conta que atualiza as novidades sobre o processo com uma quantidade inesperada de dados, desde a transcrição de testemunhos até fotografias e vídeos.

O processo monopoliza tanta atenção que nesta sexta-feira, no segundo dia do julgamento, a página do tribunal dobrou o número de seguidores em relação ao primeiro dia, já são 411 mil, apesar de ter levado algumas horas para postar algo significativo.

Essa quantidade de informação surpreendeu a todos os observadores do considerado "julgamento do século" na China, apesar de as opiniões divergirem sobre a efetividade do método.

"É a primeira vez que se publica no Weibo um julgamento desta maneira, e contra um alto dirigente do partido e do governo. É sinal de transparência comparado com outros casos", assinalou à Agência Efe Liu Xiaoyuan, reconhecido defensor dos direitos humanos na China.

Liu fez referência ao rápido e obscuro julgamento da esposa de Bo, Gu Kailai, que foi condenada à pena de morte suspensa - na prática, prisão perpétua - pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood, peça-chave do caso Bo.

O processo teve até agora poucos detalhes conhecidos contra Wang Lijun, chefe de polícia na cidade então governada por Bo, que cumpre 15 anos de prisão por corrupção e outros delitos, após divulgar o escândalo do assassinato e a "má prática" de Bo em seus anos de liderança.

A diferença é abissal em relação ao julgamento realizado nestes dias contra Bo, não só pelo volume de dados divulgados, mas também pelo comportamento do acusado, que, ao contrário de Wang e Gu, rebate todos as acusações, até a de suborno; o tribunal agora examina o desvio de fundos e terminará com o abuso de poder.

"Ele mostra o mesmo ar de arrogância que o acompanhava durante seus anos de glória. É uma montagem, porque sua sentença está decidida, mas é um avanço", disse à Agência Efe o professor da universidade de Georgetown (EUA) Francisco Nieto Guerrero, analista de política internacional.

Segundo Nieto, a transparência que rodeia o julgamento é ficção. "Mas se estão montando este teatro é porque se deram conta de que era necessário, porque já não podem fazer as coisas como antes, sem nenhum tipo de abertura".

Para o docente e ex-diplomata, o presidente Xi Jinping e seu governo "entenderam que não podem continuar com os métodos maoístas de segredo absoluto", embora lembre que "no sistema chinês tudo seja excessivamente lento".

No entanto, Bo tem "limites", diz outro analista político de Pequim. "Ele se expressa livremente, mas com limitações: se sai do estabelecido, o censurarão", diz o analista, convencido de que as declarações de Bo também fazem parte da encenação previamente combinada.

Com o recesso registrado nesta quinta, aconteceu uma parada brusca nas atualizações do julgamento na internet durante a manhã. "Pode ser que tenham dado alguma advertência", destaca a fonte, que prefere ficar o anonimato.

"As autoridades ainda têm medo de que algo saia do roteiro do julgamento, cuja sentença já está escrita. E se a transparência fosse total, por que não transmiti-lo ao vivo?", se pergunta o especialista. "E mesmo se fosse, isso não seria garantia de transparência".

A porta-voz de uma organização de direitos humanos, Maya Wang, lembra que "o julgamento do Bando dos Quatro foi televisado em 1980 e não foi um sinal de abertura. O de Bo continua sendo parte do mesmo espetáculo".

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