Gustavo Diament (Raoni Maddalena)
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2014 às 18h18.
Com mais de 30 milhões de músicas, sendo 20 mil adicionadas a cada dia na plataforma, o serviço de streaming musical Spotify finalmente chega ao Brasil.
Desde 2012 em negociações para começar a operar por aqui, o Brasil é o 57º país a receber as operações do Spotify e o 18º na América Latina. Hoje são 40 milhões de usuários no mundo sendo 10 milhões deles assinantes pagos.
Por aqui o serviço chega com duas opções de oferta: uma conta freemium de acesso gratuito que roda em computadores e dispositivos móveis, porém com anúncios publicitários, e outra premium de 14,90 reais por mês, que roda em qualquer dispositivo, sem propagandas e com acesso offline.
Em entrevista exclusiva para INFO, Gustavo Diament, diretor geral do Spotify para a América Latina, explicou como será a operação por aqui e quais serão as estratégias da empresa para conseguir seu espaço no mercado nacional de música digital.
Por qual motivo o serviço demorou a chegar aqui?
Importante ressaltar que o Brasil é o lançamento mais importante depois da chegada aos Estados Unidos. Outro ponto que vale reforçar é que quando o Spotify vai para algum país ele não simplesmente traduz sua plataforma e coloca a versão gringa no mercado. Existe toda uma datação, uma localização que é realmente importante para a gente. E tudo isso passa por uma curadoria local. E enquanto não sentirmos que estamos prontos para oferecer o mesmo serviço que entregamos em outros mercados a gente não lança. Não consideramos que houve um atraso para trazer o serviço para cá, mas sim uma preocupação em personalizar e localizar os conteúdos para o país. Não temos essa mentalidade de lançar uma experiência pior para ir melhorando ao longo do tempo. E só sentimos que estava pronto para lançar agora no Brasil. Nossa ambição aqui é bastante grande.
O que poderia destacar como relevante para o Brasil?
O serviço é exatamente igual o oferecido nos Estados Unidos e outros países. O Spotify é o serviço líder no mundo pela combinação de três fatores: algoritmo para recomendações, curadoria humana de conteúdos e plataforma social. Quanto mais você escuta, mais nós entendemos seus gostos e fazemos as recomendações mais relevantes. As playlists criadas pela equipe de curadores oferecem conteúdos com base em todos os estados de espírito e todas as ocasiões e também são a melhor maneira de se começar no Spotify. Nosso serviço também é uma plataforma social, porque se tem uma coisa que aproxima as pessoas é a música.
Lá fora é comum o Spotify ter parcerias com outras empresas e apps. Há planos similares para o Brasil?
As parcerias são importantes para o Spotify como as que temos com operadoras no México, Europa e Estados Unidos, por exemplo. É importante colocar que a parceria é resultado de um bom trabalho, mas não é nosso objetivo. A gente está aqui de verdade para fazer o consumidor ouvir cada vez mais músicas. Dessa forma, seguramente a vida dele vai ser melhor, porque música faz a vida melhor. E esse é nosso objetivo: um trabalho bem feito fortalece a nossa base de clientes, gera uma marca muito forte e acaba levando a parcerias. Mas sem dúvidas, pela importância do Brasil e pela crença de que teremos bons resultados por aqui, as parcerias serão um resultado natural da nossa entrada no mercado nacional.
O Spotify considera um problema o número de usuários gratuitos ser maior que o de assinantes? A empresa espera reverter esse quadro no Brasil?
Não, de jeito nenhum. Acho importante explicar que o Daniel Ek, nosso CEO e fundador, no começo da empresa ele conta a história e experiência que teve com o Napster na sua juventude na Suécia. Ele também é músico e percebeu algumas dificuldades no mercado quando praticamente 52% da indústria da música desapareceu por conta do Napster. Isso se tornou o embrião para o que o Spotify é hoje: ter todas as músicas do mundo e levá-las para o mundo todo em qualquer dispositivo e de maneira instantânea, gratuitamente e suportando os artistas. Então o grátis faz parte mesmo da proposta de valor da empresa e por isso essa opção tem publicidade incluída para poder suportar essa demanda.
Eu diria que nosso grande objetivo é fazer com que pessoas que hoje tenham experiências ilegais com música passem a ter uma experiência legal. E como os conteúdos ilegais normalmente não trazem qualidade, descobrimos com essa oportunidade que esse consumidor está disposto a pagar para ter algo melhor, mesmo que esse pagamento seja por meio de publicidade. Mas claro que também pode haver a conversão para a conta paga e hoje essa nossa taxa de upgrade está em 25%. Então não é problema algum termos a maioria dos nossos usuários na plataforma gratuita.
Vocês percebem muitas diferenças no mercado de streaming em cada região? É preciso adotar modelos diferentes ou é possível manter uma mesma proposta em todos os países?
O que acontece muitas vezes é que os estilos musicais que têm streaming são diferentes. Mas se parar para pensar, por exemplo, o músico Avicii teve sua música reproduzida mais de 260 milhões de vezes e foi nosso recordista no ano passado. Se observar a música dele Wake me up, foi a que mais teve streaming no México também. Então quando falamos de celebridades internacionais diria que não existem diferenças, o mundo está cada vez mais globalizado. Mas quando se entra em conteúdos mais nacionais, sem dúvidas há grandes diferenças. Quando você entra com uma conta americana, sueca ou brasileira você será impactado com muita coisa local dessa região. O conteúdo local é muito importante para o Spotify e em alguns países equivale a mais de 50% do que é consumido e por aqui acredito que não será diferente.
O streaming musical é uma boa fonte de renda para as gravadoras e artistas, mas foi difícil convencer essas partes a entrarem na digitalização. Sente que também falta popularizar esse tipo de serviço para o consumidor brasileiro?
Não tenho dúvidas que há apoio e suporte por parte dos consumidores, mas pode haver algum problema de conhecimento do serviço mesmo. Já há algo disseminado por aqui com relação aos serviços de streaming de vídeos, mas os de música são de fato mais novos e por isso estamos chegando aqui também para realizar um trabalho de aproximação com o brasileiro, com os anunciantes e com as agências de propaganda para mostrar a todos que existe essa plataforma e que ela é importante para o consumidor escutar mais música e para as agências e marcas usarem essa plataforma para se conectarem melhor com suas audiências.
Acredita que serviços musicais de streaming são atualmente a melhor opção para legalizar a música na internet e reduzir a pirataria? Por quê?
Sem dúvida, sim. E o exemplo da Suécia para mim é o melhor que tem: o Pirate Bay é sueco, por exemplo, e o país é um berço de tecnologia seja ela legal ou não. E desde o lançamento do Spotify na Suécia a pirataria despencou quase 30%. Ou seja, entregamos um serviço de qualidade superior que tem ubiquidade. E não é só a qualidade da música. Quando a gente traz a personalização via algoritmo, quando trago a curadoria humana e quando trago o social e isso tudo também está disponível no grátis, por que você vai continuar a usar torrent e estar exposto a tudo de ruim que há na pirataria? Não tem sentido.
Já está comprovado que o Spotify é quase em sua totalidade uma receita adicional pra indústria da música. No ano passado os serviços de streaming pagaram mais de 1 bilhão de dólares em direitos de reprodução para a indústria da música e metade disso veio do Spotify. A indústria musical agora está monetizando um mercado que antes não conseguia monetizar. O streaming se consolidou como um caminho que não tem mais volta.