Tecnologia

Steven Sinofsky, o polêmico candidato a CEO da Microsoft

Depois de liderar o desenvolvimento do Windows 8, Steven Sinofsky é o nome mais cotado para suceder Steve Ballmer no comando da Microsoft

Sinofsky usa blusa com decote V e camiseta nos eventos da Microsoft, maneira de ser vestir que lembra a de Steve Jobs (Getty Images / Microsoft)

Sinofsky usa blusa com decote V e camiseta nos eventos da Microsoft, maneira de ser vestir que lembra a de Steve Jobs (Getty Images / Microsoft)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 30 de outubro de 2012 às 13h06.

São Paulo — O Windows 8, produto de enorme importância para a Microsoft, também pode determinar o futuro de um de seus principais executivos. Steven Sinofsky, o presidente da divisão Windows, é apontado como o principal candidato a suceder Steve Ballmer no cargo de CEO. Mas isso depende de o Windows 8 ser bem sucedido.

Sinofsky começou a trabalhar na Microsoft há 23 anos e, desde então, teve uma trajetória sempre ascendente. Ele dirigiu a divisão responsável pelo pacote de aplicativos Office durante anos. Lá, conquistou fama de executivo realizador, capaz de tocar projetos complexos e de concluí-los no prazo. Também ganhou a imagem de profissional agressivo, sempre disposto a atropelar quem estivesse em seu caminho.

Em 2006, Sinofsky passou a comandar a divisão Windows. O momento era delicado. A Microsoft era vista como uma empresa perdida entre as pressões dos processos antitrust, a acomodação por ser líder do mercado de software para PCs e uma série de conflitos internos.

A empresa havia demorado seis longos anos para desenvolver um sucessor para o Windows XP. E esse sucessor, o Windows Vista, liberado em 2007, foi duramente criticado pelas inúmeras falhas. A missão de Sinovsky era levar, para a divisão Windows, a eficiência que ele havia demonstrado no grupo responsável pelo Office.

Sinofsky liderou o desenvolvimento e o lançamento do Windows 7, que, com sabemos, foi um sucesso. Em 2009, ele foi promovido a presidente da divisão Windows, cargo que havia sido de Steve Ballmer antes de ele se tornar CEO. Mas Sinofsky não passou muito tempo comemorando.

O site Business Insider conta que, em 2010, ele reuniu sua equipe para dizer que o Windows estava em perigo. A Apple acabara de anunciar o iPad. A empresa da maçã havia reinventado o tablet, um formato de computador que a Microsoft tentava promover, sem sucesso, desde 2001. 


Uma das grandes sacadas da Apple foi usar, no iPad, o sistema operacional do iPhone — não o do Mac. Graças a essa decisão, o iPad chegou às lojas com o enorme acervo de apps criados para o iPhone. Com processador de smartphone, o tablet consome pouca energia, trabalhando muitas horas sem recarga da bateria. Também como os smartphones, o iPad está sempre pronto para usar. E a simplicidade do iOS o torna seu manuseio muito fácil.

Hoje, tudo isso parece óbvio. Mas era uma estratégia muito diferente da que havia sido tentada pela Microsoft. Com um sistema operacional complexo, os tablets com Windows eram pesados, demoravam para ser ligados e drenavam velozmente a energia da bateria. O Windows parecia desajeitado na tela sensível ao toque. 

Em vista de tudo isso, o caminho estava traçado. O Windows 8 seria mais simples e mais leve que o Windows 7, e teria os tablets como foco. Mas Sinofsky ainda teve de vencer algumas disputas internas. Uma delas foi contra Ray Ozzie, o criador do Lotus Notes, que havia sido escolhido por Bill Gates para sucedê-lo na função de arquiteto chefe de software.

Ozzie liderava um grupo que desenvolvia uma tecnologia de sincronização de arquivos na nuvem, o Live Mesh. Hoje, esse tipo de sincronização está presente em produtos como Dropbox, iCloud e Google Drive. Mas, naquela época, era uma iniciativa pioneira.

Ocorre que a divisão Windows tinha um projeto similar para o serviço de armazenamento na nuvem SkyDrive. O choque com Ozzie era inevitável. O site Cnet conta que Sinofsky levou a briga até Steve Ballmer, que decidiu incorporar o projeto Live Mesh à divisão Windows. Logo em seguida, em outubro de 2010, Ozzie anunciou que estava deixando a Microsoft. 


Outro executivo que perdeu a briga contra Sinofsky foi J. Allard, vice-presidente da divisão de produtos de entretenimento da Microsoft. Allard liderou o desenvolvimento do player de mídia Zune, que fracassou, e do console para jogos Xbox 360, que fez enorme sucesso. Em 2009, sob seu comando, a Microsoft criou o Courier, um intrigante tablet com duas telas.

Fotos do Courier vazaram na internet e foram assunto nos noticiários. Mas, na época, Sinofsky já tinha sua visão para os futuros tablets com Windows. Eram duas visões conflitantes na mesma empresa. Em 2010, o projeto Courier foi cancelado. Segundo a Cnet, o próprio Bill Gates, que continua sendo o maior acionista da Microsoft, teria concluído que aquilo não se encaixava na estratégia da empresa. Em maio daquele ano, tanto Allard como Robbie Bach, que era o presidente da divisão de entretenimento, deixaram a Microsoft.

Sinofsky costuma aparecer nos eventos da Microsoft usando blusa com decote V e camiseta. As cores variam, mas são sempre sólidas. É uma maneira de se vestir que lembra a de Steve Jobs, com suas características blusas pretas com gola alta. O estilo de liderança autocrático de Sinofsky também tem seu paralelo no fundador da Apple.

Mas Jobs, como se sabe, muitas vezes demonstrou ter visão de futuro e capacidade de inovação excepcionais. Já Sinofsky tem mostrado, basicamente, que é capaz de entregar produtos no prazo e com os bugs corrigidos. Isso pode ser pouco para a Microsoft, que precisa de grandes inovações para recuperar seu posto de líder em tecnologia, perdido para rivais como Apple e Google.

Quais são as chances de Sinofsky, de fato, substituir Ballmer? O CEO já declarou que pretende seguir na direção da Microsoft pelo menos até 2017. Então, por enquanto, tudo não passa de especulação. Mas não há outra pessoa cotada para o cargo. Assim, ao menos no momento, Sinofsky é o nome mais provável para uma hipotética sucessão. E o que vai acontecer se o Windows 8 fracassar? Nesse caso, todos já sabem quem culpar pelo fracasso.

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