Tecnologia

Startup Oya Care traz empoderamento feminino através da fertilidade

Enquanto cresce o número de mulheres que se tornam mães depois dos 30 anos no Brasil, a Oya Care garante seu espaço no mercado das femtechs com um produto que informa sobre a vida fértil

Stephanie von Staa Toledo, fundadora da Oya Care (Nathalie Artaxo/Reprodução)

Stephanie von Staa Toledo, fundadora da Oya Care (Nathalie Artaxo/Reprodução)

LP

Laura Pancini

Publicado em 7 de maio de 2021 às 06h00.

Última atualização em 7 de maio de 2021 às 14h52.

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Conhecimento também é empoderamento, e a Oya Care sabe disso. A primeira healthtech digital com foco na saúde feminina quer ajudar mulheres a entenderem mais sobre sua vida fértil e ter mais autonomia.

Mesmo com seu primeiro produto, a Descoberta da Fertilidade, chegando oficialmente no mercado só na metade de abril, a Oya já atingiu 800.000 dólares em sua primeira rodada de investimentos. Sua fundadora, Stephanie von Staa Toledo, contou em entrevista à EXAME sobre a trajetória da startup desde seu início em agosto de 2020. 

Após uma década em o que ela considera uma “carreira bem tradicional” no mercado financeiro e outras áreas de negócios, Toledo quis encontrar algo que conciliasse seu conhecimento em business com a pauta feminista. Passando a infância no interior do Paraná, a executiva se familiarizou cedo com a misoginia. Sua mãe, dona de uma fazenda, enfrentava o machismo regional diariamente para administrar seu trabalho.

“Já no mercado financeiro, me vi sempre inserida em um mundo de homens”, diz Toledo. Em mais de um emprego, a fundadora lidou com assédio sexual e outras inconveniências produtos de ambientes machistas, como não ter voz nas reuniões ou receber pedidos para fazer anotações ou pegar café. “Essas coisas que parecem que só acontecem em filmes, aconteceram na minha vida e na de mulheres próximas a mim.”

Foco na saúde digital

Acima de tudo, o produto da Oya foca em prevenção. “A ideia não é esperar a mulher ficar doente, e sim informar ela e trazer soluções hoje para realmente atingir nosso objetivo maior, que é autonomia feminina”, explica Toledo.

Sendo uma clínica totalmente digital, a startup consegue ser mais acessível para todo tipo de mulher. “Não faz sentido parar dois ou três dias para ter um diagnóstico se você não está doente”, avalia a fundadora. “A ideia é trazer conveniência e discrição, sem sair de casa e com uma clínica de alta qualidade.”

A Descoberta da Fertilidade

Ao olhar para o mercado exclusivo para mulheres no Brasil, a fundadora percebeu que nenhuma startup estava olhando para a saúde feminina com foco em autonomia e independência. “É assim que a Oya quer se posicionar no mercado”, comenta ela.

Seu primeiro produto promove justamente isso: a Descoberta da Fertilidade é um exame digital, avaliado em R$ 499 reais, que analisa estilo de vida, histórico familiar, ciclo menstrual, idade e o hormônio antimülleriano (HAM). Através dos resultados e uma teleorientação com um profissional de saúde, a mulher descobre em que estágio seu corpo se encontra em relação à sua vida fértil. 

O exame HAM, carro-chefe do produto, mede um hormônio produzido pelas células ovarianas, que regulam o crescimento e desenvolvimento dos folículos. De acordo com dossiê da Oya, a mulher nasce com 2 milhões de folículos que diminuem com o passar dos anos. Aos 30, sobram apenas 25.000 e as taxas de aborto espontâneo "aumentam significativamente".

Ao mesmo tempo, na última década, o número de mulheres que se tornaram mães pela primeira vez entre 30 e 34 anos aumentou 36% e mais de 50% entre 35 e 39 anos, de acordo com o IBGE, o que evidencia que o assunto da fertilidade só deve crescer no Brasil.

Para a executiva, saber mais sobre sua vida fértil traz mais liberdade e controle da própria vida, da mesma forma que a pílula anticoncepcional impactou a emancipação feminina algumas décadas atrás. "Segundo nossas próprias pesquisas, 70% das mulheres tinham dúvidas sobre sua fertilidade, mas só 7% fizeram algum exame relacionado", conta Toledo.

Em aproximadamente três semanas com o produto no ar, a startup já teve 55 oyanas, como são carinhosamente apelidadas pela fundadora. O resultado, de acordo com Toledo, as surpreende: "Muitas mulheres têm medo [do resultado], mas ele não é uma resposta binária."

Mesmo em seus primeiros meses, a Oya já está testando outros produtos relacionados a corrimento e coceiras vaginais, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), prazer sexual e microbioma e nutrição.

Mercado das femtechs

Além da Oya Care, existem outros exemplos de femtechs, nome dado para startups de tecnologia com foco na saúde feminina, ganhando espaço no Brasil.

Mesmo relativamente novo no país, o mercado já está avaliado em cerca de 5,8 bilhões de dólares. Globalmente, a tendência é movimentar cerca de 50 bilhões de dólares até 2025, segundo pesquisa da Frost & Sullivan.

De acordo com Toledo, existem ondas no mundo femtech: a primeira revolução foi no traqueamento da menstruação, seguindo para gravidez e fertilidade, para depois surgirem inúmeras outras soluções. “No Brasil, acredito que estamos nesse processo também”, comenta.

A Theia, clínica digital voltada para gestantes, faz parte desse processo e tem como missão “redefinir a experiência das mulheres com o sistema de saúde”. Sua abordagem foca em respeitar a decisão da grávida em todos os momentos, desde a primeira consulta até o parto. Em uma entrevista à EXAME em 2019, antes do site ser oficialmente lançado ao ar, a startup já contava com aporte de 7 milhões de reais.

Outras como a Canguru, aplicativo focado em ajudar mães no acompanhamento da própria gestação, e a Gestar, plataforma que conecta mães a profissionais humanizados focados na saúde materno-infantil, também vêm ganhando seu espaço no mercado.

“O que me impulsionou muito a fazer algo foi quando descobri que muitas das soluções de saúde foram pensadas e desenvolvidas por e para homens, considerando mulheres como ‘pequenos homens’”, comenta Toledo. “Muitos dos produtos e serviços que usamos hoje não usaram corpos femininos no processo de aprovação científica. Quando parei para pensar nisso, pensei que não é à toa que não estamos satisfeitas com as soluções que existem.”

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