Tecnologia

Sistema detecta enchentes e emite alerta para celular

Rede de sensores sem fio pode alertar sobre eventuais riscos por meio de mensagens de SMS

Enchente no Rio de Janeiro: protótipos do sistema estão instalados e testados em São Carlos, interior de São Paulo (Rodrigo Esper/Wikimedia Commons)

Enchente no Rio de Janeiro: protótipos do sistema estão instalados e testados em São Carlos, interior de São Paulo (Rodrigo Esper/Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2012 às 10h03.

São Paulo - Um sistema que detecta enchentes e o nível de poluição de rios e córregos, e ainda pode avisar a população, via telefone celular (SMS), sobre os eventuais riscos vem sendo testado em São Carlos, no interior de São Paulo. O e-NOE, que funciona por meio de uma rede de sensores sem fio, foi desenvolvido no Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, pelo professor Jó Ueyama. Desde maio, o equipamento vem sendo testado em dois pontos de um córrego da cidade.

O protótipo do equipamento desenvolvido por Ueyama é menor do que uma caixa de fósforos, e custou cerca de R$ 400,00. O equipamento é composto por dois sensores analógicos, cada um com uma função específica — o primeiro mede a pressão do rio, enquanto que o segundo sensor mede a poluição da água. Um alerta é gerado para notificar quando o nível do córrego (ou da poluição) atinge níveis que necessitam de uma notificação.

“Se o primeiro sensor detectar uma elevação súbita na pressão do rio, significa que haverá enchente. É quando devemos tirar a população da região o mais rápido possível”, explica o professor.

O equipamento transmite os dados via wireless Zigbee (tecnologia de comunicação sem fio com baixo consumo de bateria e com transmissões de longa distância) para uma central, onde um software envia alerta via mensagens de SMS para telefones celulares de moradores cadastrados no sistema. A bateria, similar à utilizada em carros, é realimentada por paineis solares. A autonomia está em fase de avaliação, mas estima-se que possa ficar entre 3 e 6 meses.


Por meio de uma parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos, Ueyama instalou em maio de 2012 dois equipamentos com esse sistema em um córrego da cidade, o Monjolinho. Um deles foi colocado na Avenida Trabalhador São-carlense, próximo ao campus da USP, e o outro perto da rotatória do Shopping Iguatemi. O pesquisador obteve autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) de São Carlos para monitorar as águas do córrego.

Testes

No momento, o sistema encontra-se em fase de testes, e ainda não é possível se cadastrar para recebimento de alertas e as informações obtidas são armazenadas em um banco de dados. Além dos alertas, o protótipo permite que qualquer internauta tenha acesso a estes dados usando a interface do Google Maps.

Essa interface vai possibilitar aos sistemas de GPS criar rotas alternativas aos motoristas em caso de enchentes em uma determinada via. O professor acredita que com a colaboração da prefeitura da cidade de São Carlos, será possível viabilizar a criação de um cadastro de moradores e comerciantes para receber os alertas. “Uma nova parceria poderia ser criada com vistas a transformar São Carlos em uma cidade mais inteligente”, ressalta.

O equipamento sofreu uma reengenharia em relação ao primeiro protótipo, desenvolvido em 2010. A mudança foi implantada para melhorar a transmissão dos dados coletados do rio e diminuir o consumo de bateria. Diferentemente dos protótipos anteriores, este não armazena os dados coletados, mas os envia para o servidor assim que cada leitura é realizada.


Desta forma, é possível fornecer alertas de enchentes e nível de poluição em tempo real. “Espera-se que os transtornos e prejuízos causados pelas chuvas em São Carlos não se repitam, ou que ao menos possamos avisar a população e comerciantes para que se previnam antes que a enchente ocorra”, diz Ueyama.

O projeto teve início na Inglaterra, proposto pelos professores Daniel Hughes e Geoff Coulson. Este último foi o orientador de Ueyama entre 2002 e 2006, quando o pesquisador cursou doutorado na Universidade de Lancaster (Reino Unido). Na ocasião, o professor conheceu um projeto semelhante ao e-NOE e pensou em adaptá-lo ao Brasil.

Desde então o pesquisador tem aperfeiçoado o sistema com vistas a otimizá-lo para a realidade brasileira. “Além disso, é de interesse que o protótipo tenha um baixo custo para que as prefeituras possam replicá-lo”, destaca. Futuramente, Ueyama pretende disponibilizar o sistema como software livre para municípios que têm problemas com enchentes.

A pesquisa foi desenvolvida com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC), sediado no ICMC. O projeto teve a participação do professor João Porto Albuquerque Pereira do ICMC e dos bolsistas Murilo Marin e Fernando Santos.

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