Indústria (sxc.hu)
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2014 às 16h21.
As siderúrgicas brasileiras voltaram a ter um horizonte mais difícil evidenciado pela diminuição da atividade econômica brasileira. Setores como automotivo e construção perderam ritmo, provocando queda de demanda por aço. Para tentar driblar esse cenário, as usinas estão mudando a estratégia de se concentrarem no mercado doméstico - onde as margens são maiores - e passam a destinar mais produtos ao mercado externo.
Além da menor demanda interna, analistas que acompanham o setor chamam a atenção para ajustes de preços do aço durante o segundo semestre do ano. "As siderúrgicas ainda estão relutantes em anunciarem corte de preços, mas os riscos estão aumentando", segundo relatório do BTG Pactual, enviado ao mercado. A percepção, destacam os analistas Leonardo Correa, Luiz Fornari e Antonio Heluany, que assinam o documento, é de um segundo semestre ainda mais fraco diante dos atuais indicadores da economia brasileira.
Uma fonte do setor consultada pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, disse que a tendência é de que o terceiro trimestre se mostre um pouco mais fraco do que o segundo em termos de tonelagem, mas que ainda não está desenhada uma necessidade de ajustes de preços por conta da importação, visto que os preços do aço no mercado externo estão estáveis. No entanto, exatamente devido à maior competição entre as usinas pelo mercado interno mais enxuto, a fonte destaca que se um desconto ocorrer será por uma decisão estratégia da empresa para conseguir abocanhar uma fatia maior do mercado. "Se houve queda de preços será mais por um disputado pelo mercado interno", destacou.
A Usiminas aumentou a sua fatia direcionada ao mercado externo no intervalo de abril a junho deste ano, passando de 11,8% no primeiro trimestre para 15,1%. Para o terceiro trimestre, a expectativa passada pela companhia é de que as vendas podem ficar em mesmo patamar em relação ao período anterior, mas com um aumento das exportações e diminuição no mercado doméstico. No caso da Gerdau, levando-se em conta os números da operação Brasil, que exclui aços especiais, a participação das exportações nas vendas totais também cresceu.
Já a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) observou suas vendas no segundo trimestre caírem 24,6% no mercado doméstico na relação anual, por conta de "menor ritmo da atividade econômica, impactado pelo menor número de dias úteis no trimestre". Já na comparação com o trimestre imediatamente anterior o recuo foi de 9,3%, para 918 mil toneladas.
O diretor-presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, disse, em teleconferência na semana passada, que é difícil prever como ficará a demanda de aço no segundo semestre deste ano, mas disse que o mercado passa por um período de ajuste de estoques. Um dado que corrobora para o atual panorama dos negócios no Brasil é que a companhia encerrou o trimestre passado operando com cerca de 70% de sua capacidade de produção de aço. "São números abaixo do que se esperava e estão abaixo do resto do mundo, o que é reflexo da demanda", disse Johannpeter. Por conta da demanda mais fraca, a companhia tem adotado férias coletivas em suas unidades no Brasil, dependendo do segmento e do mercado.
O cenário de aperto de margens é algo bem conhecido das siderúrgicas, que demoraram para começar a apresentar recuperação de rentabilidade após a crise financeira de 2008. Agora, depois de pouco tempo em que conseguiram respirar com mais tranquilidade, o sinal amarelo voltou a acender, trazendo até mesmo maior cautela para o desembolso de recursos. A Gerdau, por exemplo, reduziu em R$ 500 milhões o seu programa de investimentos para este ano. "De fato essa redução do desembolso deve-se, em parte, ao cenário, com pouca visibilidade. É prudente trabalhar com foco no balanço e reduzir o ritmo", disse em teleconferência o diretor de Relações com Investidores da Gerdau, André Pires.
O sentimento é o mesmo do lado da Usiminas, que assim como a Gerdau, apresentou um resultado referente ao segundo trimestre do ano pior do que o esperado por analistas. "O que está acontecendo nesse momento é que a maioria dos clientes está voltando das paradas, avaliando seus negócios. Nós, então, estamos aguardando as decisões de compra de nossos clientes, o que impacta nas vendas da metade do terceiro trimestre", disse o diretor comercial da siderúrgica mineira, Sérgio Leite. Ele citou a expectativa da Anfavea de um segundo semestre melhor do que o primeiro nas vendas do setor automotivo. "Os demais setores estão sendo influenciados negativamente pela desaceleração da economia brasileira", completou.
A mais otimista na divulgação de resultados do segundo trimestre foi a CSN, que afirmou que aguarda um segundo semestre com o mercado mais aquecido, com o fim do ano podendo ser positivo. "Algumas cadeias (da indústria) estão em fase de recuperação de estoques", destacou hoje o diretor executivo comercial da siderúrgica, Luis Fernando Martinez. O executivo ainda espera que a redução dos compulsórios dos bancos deverá ampliar a oferta de crédito, o que pode influenciar o aumento da demanda de aço nos próximos meses.