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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h36.
Dez milhões de dólares. Esse é o valor que será dado ao vencedor do Automotive X Prize, uma competição para ver quem consegue inventar o carro ultraverde. Organizado pela mesma fundação que patrocinou o prêmio em que foi lançada primeira nave espacial particular tripulada SpaceShipOne, o Automotive X Prize quer encontrar uma nova solução para reduzir os efeitos do aquecimento global. A idéia é criar um automóvel mais eficiente e menos poluidor. As equipes concorrentes deverão fazer um carro capaz de rodar no mínimo 42 quilômetros com energia equivalente a um litro de gasolina, emitindo no máximo 125 gramas de dióxido de carbono por quilômetro rodado. O vencedor do prêmio será definido em uma corrida no estilo de rally. Mais de 50 equipes anunciaram interesse em participar do concurso, que deve ter sua primeira etapa de seleção feita no ano que vem e a corrida final em 2010. EXAME conversou com a diretora do prêmio Cristin Lindsay.
Exame - Por que a Fundação X Prize resolveu criar um prêmio para o setor automotivo?
Cristin - O objetivo do prêmio é introduzir no mercado um novo veículo que seja muito eficiente, para ajudar a diminuir nossa dependência ao petróleo e os efeitos das mudanças climáticas. A indústria automotiva hoje é responsável por 40% do consumo mundial de petróleo. Nos Estados Unidos, os carros e caminhões leves são responsáveis por 45% do CO2 emitido por automóveis no mundo. A Fundação X Prize teve muito sucesso com o prêmio Ansari (uma competição de vôo espacial) e isso nos encorajou a usar prêmios para estimular a inovação em outros setores.
Exame - De que forma o prêmio estimula a inovação?
Cristin - Os prêmios trazem à tona um tema específico e oferecem muita publicidade aos participantes. Com isso, conseguimos fazer com que pessoas, que normalmente não se arriscam e que não estão trabalhando diretamente na área, disponham-se a arriscar. Isso permite que surjam soluções variadas para o problema. Outro estímulo à inovação é pela educação do consumidor. Ao falar desses automóveis, nós apresentamos as vantagens desses carros aos consumidores que acompanham a competição na mídia e eles ficam mais propensos a comprar carros eficientes. Se há mais demanda, há mais produção.
Exame - As inovações hoje vêm de fora das grandes montadoras?
Cristin - As montadoras estão progredindo de forma mais lenta do que gostaríamos. Elas têm muitas questões com que se preocupar como produtividade, os investidores e o consumidor de hoje. Elas têm aversão ao risco e abordam esse problema de forma mais lenta. No prêmio, nós fornecemos um campo seguro para as equipes trabalharem nesse desafio. Assim, aceleramos o cronograma de inovações. Mas o vencedor do prêmio pode ser tanto uma empresa pequena como uma grande. A história dos prêmios mostra que a solução para um problema pode vir de vários lugares. As pequenas talvez participem em maior número porque elas têm mais disposição a se arriscar. Convidamos todas as grandes montadoras, mas ainda não tivemos uma resposta sobre suas participações.
Exame - Entre as equipes que participam do prêmio, há algumas em estágio mais avançado do que outras. Haverá mesmo uma competição?
Cristin - Ainda não sabemos como será o campo de disputa da competição. Algumas das equipes que estão concorrendo ainda estão buscando investimento para poder desenvolver seus projetos. Elas usam a competição como uma forma de atrair investidores. Ao mesmo tempo, as equipes mais adiantadas podem ter menos agilidade para inovar. Não posso prever quem será o vencedor, mas creio que será uma competição acirrada.
Exame - Com mais de 50 participantes, a competição deve chegar ao fim com uma série de tecnologias novas e apenas poucas vencedoras. Qual será o destino das demais?
Cristin - No final da competição, algumas equipes podem ser compradas por grandes montadoras. Também vamos ver sua tecnologia sendo integrada a outros veículos. Toda essa inovação é saudável para o mercado.
Exame - Como o prêmio vai garantir que as inovações saiam do papel?
Cristin - Antes da corrida final, em 2010, haverá uma pré-seleção dos concorrentes, que terão de apresentar um plano de negócios comprovando a possibilidade de se produzir o carro numa escala de 10 000 unidades. Especialistas da indústria vão avaliar o material dos carros para ver se poderiam ser feitos numa produção em massa. O que importa é que seja possível fazer o automóvel, que ele tenha um preço razoável e seja seguro.
Exame - Qual será o preço do carro?
Cristin - O preço ideal desse carro ainda está sendo discutido pela organização do X Prize. Não queremos que seja mais caro do que o mercado pode tolerar. Vamos usar os preços históricos dos carros no mercado. Talvez a gente defina um preço máximo, mas ainda não decidimos.
Exame - Que tipo de combustível esse carro deve usar?
Cristin - O carro pode ser abastecido com qualquer tipo de combustível desde que ele esteja disponível em quantidade suficiente para abastecer uma frota de dezenas de milhares de automóveis por ano. Não queremos apenas uma solução de carro. Queremos várias, porque cada pessoa dirige um veículo diferente, o que mais lhe agrada. É importante ter muitas opções.
Exame - Há dois tipos de categoria no prêmio: a convencional e a alternativa. Qual a diferença entre elas?
Cristin - O foco do prêmio é na classe convencional, que receberá um percentual de 75% do prêmio. Esse carro tem que ter espaço para quatro ou mais passageiros, quatro rodas e tem que poder viajar distâncias longas. Seriam os sedãs padrões ou SUVs pequenos. A classe alternativa servirá para abrir a cabeça dos consumidores. Essa classe é a de veículos para dois ou mais passageiros, com três ou mais rodas, voltados para as pessoas que usam o carro para ir ao trabalho. Nós queremos que os consumidores pensem como eles poderiam combinar suas opções de veículos, talvez com um carro para viagem e aquele que só usa para ir ao trabalho, um menor.