sochi (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2014 às 06h29.
Cada ligação telefônica, mensagem em rede social, tuíte ou e-mail enviado durante os Jogos Olímpicos de Inverno, que estão sendo disputados em Sochi será detectado e armazenado pelo Serviço Federal de Segurança (FSB, antiga KGB) da Rússia.
"O controle total das comunicações em Sochi é uma violação dos direitos fundamentais. Além disso, não está justificado, já que atletas, torcedores e jornalistas não são terroristas", disse Irina Borogan, especialista em atividades de espionagem, à Agência Efe .
A Rússia está fazendo o que Pequim e Londres tentaram, respectivamente, nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2012, mas não conseguiram: implementar um avançado sistema tecnológico de escutas respaldado pela legislação.
Na opinião de Borogan e de outro especialista no setor, Andrei Soldatov, o Kremlin transformou a Rússia em um "Estado policial" a imagem e semelhança do descrito no romance "1984", de George Orwell, algo que não foi conseguido nem pela KGB.
Às vésperas do início dos Jogos de Sochi, o governo russo emitiu um decreto que permite aos serviços secretos armazenar informação privilegiada durante três anos, algo inédito em outros países.
"O FSB necessita de uma ordem judicial para escutar alguém, mas não tem por que informar disso ou requerer a autorização do operadora", afirmou Borogan, subdiretora de do portal "Agentura.ru", que investiga as atividades dos serviços secretos e a luta contra o terrorismo.
A escuta começa desde o momento em que o cidadão se registra na página oficial dos Jogos de Sochi para receber o "passaporte de torcedor", requisito obrigatório para qualquer visitante de mais de dois anos de idade.
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O FSB receberá toda a informação enviada ao site e quando a pessoa diz que concorda com os termos do contrato, pode inclusive ter suas conversas privadas gravadas.
"O sistema funciona há vários meses. Todos os gadgets serão transparentes para o FSB. Defender-se é tecnologicamente possível, mas muito difícil. A Rússia dispõe das últimas tecnologias de coleta de informação", afirmou Borogan.
"O Big Brother" russo conta com o SORM (Sistema Operacional de Atividades de Busca), que permite supervisionar as comunicações tanto por telefone como pela internet, e que os operadores estão obrigados por lei a instalar, assumindo os custos.
Além disso, a companhia estatal Rostelekom, que instalou o wi-fi mais rápido e barato da história das Olimpíadas, lançou a tecnologia DPI (Deep Packet Inspection Technology) para controlar o tráfego de informação e grampear telefones.
Com a ajuda de palavras-chave, em geral vinculadas com o terrorismo, a DPI permite identificar o usuário que acessa páginas extremistas.
A Rússia também utiliza drones (aviões espiões não tripulados) para supervisionar as instalações olímpicas de Sochi e Krasnaya Poliana.
Borogan assegurou que os drones não servem para prevenir atentados terroristas suicidas e que seu objetivo real é evitar manifestações de protesto.
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Além disso, a organização do evento instalou 5.500 câmaras digitais de tecnologia israelense para vigiar todo o parque olímpico, embora as autoridades neguem que estas ameacem a privacidade dos turistas nos hotéis.
"A Rússia é um país moderno. E essa história é absolutamente inventada", respondeu o vice-primeiro-ministro Dmitri Kozak.
O Ministério da Defesa também adquiriu dois sistemas de radares para equipar os submarinos que ficam no litoral do Mar Negro para prevenir um possível ataque marítimo durante os Jogos Olímpicos.
O Departamento de Estado americano advertiu seus cidadãos para que não esperem conservar sua privacidade durante a estadia em Sochi, embora o FSB assegure que as medidas são imperceptíveis.
Os ativistas consideram que o Kremlin deseja que os Jogos de Sochi, o projeto pessoal do presidente russo, Vladimir Putin, sejam perfeitos, mesmo que às custas da invasão da vida das delegações estrangeiras.
"Se os cidadãos não resistirem e protestarem, este sistema seguirá em vigor. O povo ainda não entende que isto é muito perigoso e não se dará conta até que ocorra algo grave", alertou Borogan.
A realidade é que os russos estão acostumados a que suas forças de segurança os espionem diariamente, já que em novembro do ano passado a Corte Suprema autorizou os serviços secretos escutar os opositores apenas em função de sua participação em protestos antigovernamentais.
Enquanto isso, Rússia segue dando asilo a Edward Snowden, o ex-analista de serviços da Agência de Segurança Nacional dos EUA que revelou a espionagem em massa dos serviços secretos americanos.