X100T 1
Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2015 às 13h03.
Se eu precisasse definir a Fujifilm X100T com uma única palavra, ela seria íntima. Essa câmera induz o fotógrafo a chegar perto do objeto retratado e é pequena e silenciosa o bastante para capturar momentos que seriam constrangidos por outras máquinas. Com um conjunto de recursos único, a X100T é, para bem ou para mal, uma ilha solitária em um mercado cada vez mais convergente de máquinas fotográficas. Toda essa distinção a torna uma câmera interessante para fotógrafos experientes, mas como ela ainda não é vendida oficialmente no Brasil, será que vale a pena importar ou comprar de uma importadora?
Versão curta: O filtro de cor peculiar do X-Trans garante mais nitidez do que a média sem introduzir moiré, mas a resolução de 16 MP está começando a soar insuficiente. O sistema de autofoco se sai bem mesmo em baixa luminosidade, mas a qualidade de vídeo ainda é inferior à da concorrência.
As idiossincrasias das câmeras da X100T começam logo no sensor. Trata-se de um CMOS APS-C de 16 MP, o mesmo utilizado na X-T1 e na X100S. Embora a resolução do mesmo já comece a soar insuficiente para os padrões atuais, existe uma tecnologia por trás desse chip que compensa essa falta: um filtro de cor X-Trans fundamentalmente diferente da matriz de Bayer encontrada em quase todas as outras câmeras. Em vez de intercalar linhas de pixels vermelhos e verdes com linhas de pixels azuis e verdes, o X-Trans adota uma sequência mais aleatória de cores.
Essa alteração deu mais flexibilidade para o design do sensor, que pôde dispensar o filtro de passe baixo para capturar fotos mais nítidas. Marcas como a Nikon também decidiram eliminar esse mesmo filtro em algumas de suas câmeras (a D7200 e a D800E, por exemplo), mas isso torna essas máquinas suscetíveis ao efeito moiré. O mesmo não acontece com o X-Trans, cujo filtro de cor menos previsível é naturalmente adequado para reproduzir os detalhes de alta frequência (tecidos e paredes de tijolos, por exemplo) que causam o moiré em outros sensores.
Uma novidade em relação a sensores X-Trans anteriores é a presença de um sistema de autofoco por detecção de fase. No passado notamos que câmeras como a X-pro1 sofriam com um autofoco lento e impreciso mesmo quando comparadas com concorrentes que também só faziam autofoco por contraste. O novo X-Trans basicamente resolveu esse problema. Mais do que isso, ele atualmente se compara bem com outras câmeras quando assunto é foco contínuo e focagem em cenas de baixa luminosidade. Existem híbridas melhores nesse sentido, como é o caso da Sony A6000 e da Samsung NX1 (sem mencionar as várias DSLR), mas pelo menos a Fuji não está mais significativamente atrás do restante na corrida do foco.
Trabalhando em conjunto com a CPU EXR II, o X-Trans mais recente se sai excepcionalmente bem no escuro. O ruído começa a se tornar perceptível a partir do ISO 1600, mas na verdade a qualidade de imagem continua aceitável até o ISO 6 400, o último na escala nativa. Fotografando em JPEG, também é possível usar dois valores de ISO estendido mais sensíveis (12 800 e 51 200), mas eles excluem a informação de cor e perdem muita gama dinâmica. Algo a se notar é que parece que a Fuji infla um pouco os valores de ISO, o que significa que seu ISO base 200 é muito similar ao ISO base 100 de outras câmeras. De qualquer maneira, valores incorretos de ISO são comuns desde o início da era digital.
O processador também ajuda a melhorar os recursos de vídeo. No papel, a X100T parece oferecer um bom repertório nesse sentido: ela filma em 1 080p a 60 quadros por segundo, grava as sequências com uma bitrate relativamente alta (36 Mbps) e, pela primeira vez, oferece uma entrada estéreo para microfones. Os resultados práticos, no entanto, são medíocres.
Possuir um sensor incomum pode ser vantajoso por uma série de razões, mas também limita o suporte da câmera para os algoritmos de subsampling que geram vídeo, por exemplo. Essa mesma realidade se reflete no número restrito de programas que conseguem processar as imagens em RAW da X100T. Contudo, isso não é um problema tão sério por causa do relacionamento próximo da Adobe com a Fuji. Até os modos de simulação de filme (que analisaremos adiante) são suportados pelo Lightroom.
Falando estritamente em processamento de imagem, existe algum motivo para escolher a X100T em vez da X100S? Sim, mas trata-se de uma diferença muito sutil. A engine de JPEG da X100T é mais avançada, de modo que o preset Normal da nova câmera equivale ao Fine da X100S.
Versão curta: A lente é impecável exceto quando se fotografa objetos próximos na abertura máxima. O obturador permite sincronizar flash em velocidades superiores a 1/250 s.
A lente utilizada na X100T é exatamente a mesma da X100S. Na verdade, pouco mudou desde a X100 original e a razão para isso é clara: a lente sempre foi excelente. Estamos falando de uma 23 mm f/2, que, com o sensor APS-C da X100T equivale a mais ou menos 35 mm f/2.8 em formato Full Frame.
Testei a X100T em muitas condições diferentes de luminosidade e em nenhuma detectei o menor sinal de aberração cromática introduzida pela lente. O nível de distorção geométrica também é admiravelmente baixo para uma grande angular. Ela apresenta bons níveis de contraste mesmo na abertura máxima e só notei um pouco de suavização quando o objeto em foco estava mais próximo.
O fato de que esta é uma lente fixa sem zoom pode fazer com que alguém questione a versatilidade de composição da X100T. Há um velho adágio que diz que o melhor zoom são seus pés. Tecnicamente, essa afirmação está errada porque distâncias focais diferentes produzem efeitos de imagem diferentes sob composições similares (teleobjetivas magnificam o plano de fundo, por exemplo), mas isso não quer dizer que a lente da X100T é inflexível.
Usar uma única distância focal incentiva a criatividade e a abertura de f/2 é ampla o bastante para que de possa até introduzir um pouco de bokeh na imagem. Compor com uma lente grande angular é desafiador, mas pode render resultados inusitados porque é possível assumir um ponto de vista mais abrangente que o do olho humano. Não é por acaso que 35 mm é uma distância focal clássica do fotojornalismo e da fotografia de rua. Com um ângulo de visão mais amplo é possível retratar um personagem dentro de um contexto maior.
Quem precisar fotografar detalhes também pode usar um modo macro que permite focar a uma distância mínima de 10 cm. Ainda assim, seria interessante se a X100T oferecesse mais liberdade de crop com um sensor de resolução maior.
Se a lente evidencia a vocação da X100T para a fotografia de rua, o obturador só corrobora essa posição. Esta é a câmera APS-C mais silenciosa que já utilizei. Há uma razão muito simples para isso: ela usa um leaf shutter. Ao contrário dos obturadores de plano focal encontrados na maioria das câmeras, leaf shutters são compostos por várias lâminas (quatro no caso da X100T) que fecham a entrada de luz de uma maneira similar à da abertura da lente. Além de ser silencioso, esse mecanismo permite sincronizar flash em qualquer velocidade. Ou seja, é possível usar flash com tempos de exposição inferiores a 1/250 segundo, garantindo maior controle sobre a luz.
Mas ele também tem algumas desvantagens. A maior delas é o fato de que a velocidade máxima depende da apertura. Isso se traduz em 1/4 000 s de f/16 a f/8, 1/2 000 s de f/8 a f/4 e 1/1 000 s de f/4 a f/2. Mas a X100T é uma câmera digital e não precisa depender exclusivamente do obturador mecânico para controlar a exposição. Com o rolling shutter eletrônico, é possível realizar exposições tão curtas quanto 1/32 000 s (naturalmente, isso não funciona em sincronia com o flash).
Versão curta: O visor ocular hibrido ganhou um nodo modo de auxílio de foco manual e os controles continuam tão bons quanto antes
Outro ponto que não mudou radicalmente desde a X100 é a filosofia de controle. A X100T continua sendo uma câmera concentrada em controle manual. É difícil descrever a sensação de usar a X100T sem usar alguma variação de prazer tátil. A coroa de controle de abertura em torno da lente e a roda de tempo de exposição chegam a dar a impressão que estamos utilizando uma câmera mecânica. Gostei particularmente do fato de que é possível alterar a abertura em passos de 0,3 stop, o que proporciona um controle mais granular sobre a entrada de luz e a profundidade de campo.
O foco manual segue essa mesma linha e a Fuji inclui uma pletora de formas diferentes de auxílio de foco. Com o visor eletrônico, por exemplo, é possível apertar um botão para que a câmera realize um zoom digital no ponto de foco escolhido. De maneira similar a uma rangefinder (cujo estilo ela imita), a X100 também é capaz de sobrepor duas imagens no centro do quadro. Quando ambas coincidem, isso é uma indicação de que a lente está em foco.
Por fim, a grande novidade da X100T em relação à X100S é a habilidade que a primeira tem de ocupar apena uma pequena porção do canto inferior direito do visor ocular com o visor eletrônico. Dessa maneira, é possível observar o detalhe magnificado do ponto de foco ao mesmo tempo em que a cena completa continua à mostra no viewfinder óptico. Infelizmente, esse modo de auxílio só permite checar o foco do centro da imagem e, como ele foca no canto do quadro, é difícil se concentrar nele e na cena completa ao mesmo tempo.
Como em uma rangefinder, a câmera é capaz de exibir linhas de quadro que corrigem a paralaxe entre a lente o visor ocular. Configurando a câmera para usar apenas esse modo de visão poupa muita bateria, o que resolve pelo menos em parte o problema de baixa autonomia que limita quase todas as câmeras híbridas.
Como nas X100 anteriores, ela também pode substituir todo o visor ocular óptico por um visor ocular eletrônico que exibe exatamente o que o sensor vê. Esse tipo de flexibilidade de ponto de vista é um dos elementos que tornam o uso das câmeras X100 uma experiência única. No caso da X100T, o visor ocular de resolução mais alta só melhora essa impressão. O único problema é que o tempo de boot é considerável.
A customização também continua sendo um ponto forte. Sete botões podem ter sua função alterada e até o menu de configurações rápidas (para mudar compressão, ISO, balanço de branco, etc) pode ser alterado de acordo com o gosto pessoal do usuário. A interface em geral está mais limpa e acessível do que em modelos anteriores.
Como sempre, a o ponto alto do software é o modo de simulação filme. Um dos motivos por trás da recente popularidade das câmeras da Fuji é o visual particular das suas fotos e esse visual peculiar vem da simulação. Esses filtros de cor foram cuidadosamente criados para emular as várias linhas de filme produzidos pela Fuji. Eles podem ser especificados no RAW da máquina e são completamente compatíveis com os produtos da Adobe. Eis um link para um álbum do Flickr com variações de filme para a mesma cena. Os tons frios do Classic Chrome e o Monochrome básico são meus favoritos.
Com um visor ocular híbrido, um sensor peculiar e um obturador incomum, a X100T oferece uma experiência de uso sem igual. Ela incita a experimentação. A excelente qualidade de imagem também ajuda, é claro. Mas o preço disso tudo é um pouco de flexibilidade é difícil imagina-la como a câmera primária de um profissional generalista.
Esse cenário talvez seja viável para um fotógrafo de rua. A lente grande angular, o design compacto (apenas 440 g!), os controles acessíveis e a operação silenciosa certamente favorecem esse caso de uso. O novo sistema de foco também é uma ferramenta de alto valor nas ruas imprevisíveis. No entanto, qualquer fotógrafo encontraria algum valor nela como máquina secundária. Um profissional especializado em casamentos, por exemplo, pode utilizá-la para momentos mais íntimos. Quem tiver a verba necessária disponível não vai se decepcionar.
Eu só não a recomendaria para iniciantes. Além de cara, ela é idiossincrática demais para servir como plataforma de aprendizado. De qualquer maneira, nunca é uma boa ideia aprender com uma máquina que ainda não é vendida oficialmente no Brasil.
Existe ainda a questão de quem já possui outra câmera da série X100. Para quem tem a original, a X100T é uma opção óbvia de upgrade. Ela refina e aprimora quase todos os parâmetros da primeira máquina (sensor, interface, autofoco, visor ocular). No entanto, para quem é dono da X100S, eu diria que as melhorias não são tão substanciais. O novo recurso de imagem separada do viewfinder, por exemplo, é menos útil do que pode parecer à primeira vista.
Sensor | CMOS X-Trans; 16 MP (4896 x 3264); ISO 200-6400 |
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Objetiva | 23 mm f/2 |
Obturador | 1"-1/4000 (mecânico); 30"-32 000 (eletrônico), modo Bulb; 100 000 disparos |
Filmagem | 1080p@60 FPS |
Visor | Híbrido (óptico e eletrônico); 2,3 MP de resolução; 92% de cobertura; 0,5x de magnificação |
Tela | 3" e 1 MP de resolução |
Peso | 440 g |
Dimensões | 12,7 x 7,4 x 5,2 cm |
Prós | Excelente qualidade de imagem; Visor ocular único no mercado; Sistema de autofoco confiável; Controles manuais acessíveis; Personalizável; Faz sincronia com flash acima de 1/250s |
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Contras | Pode ser confusa ara iniciantes; Produz vídeos de qualidade inferior à média; Sensor peculiar limita as opções de pós-processamento; tempo de boot longo; 16 MP está começando a soar insuficiente para os padrões atuais |
Conclusão | Indicada para fotógrafos de rua ou como câmera secundária para qualquer usuário experiente |
Imagem | 8.7 |
Velocidade | 7.7 |
Objetiva | 8.3 |
Visor | 7.9 |
Recursos | 7.7 |
Design | 8.5 |
Média | 8.2 |
Preço | 6 350 |