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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h32.
Os representantes do consórcio ATSC, o padrão americano de TV digital, vão passar uma semana no Brasil, para conversar com governo e empresas e acreditam ter um trunfo para reverter a pobre imagem tecnológica do padrão, em relação aos dois concorrentes. Nós ouvimos o usuário e fizemos o dever de casa , afirma Robert Graves, presidente do consórcio. Recebemos há dois dias a confirmação de que temos recepção móvel como queríamos. Faremos uma demonstração em Las Vegas, em 7 de abril . Embora tragam informação relevante, os executivos vão encontrar um ambiente pouco aberto à discussão de novidades tecnológicas. As atenções em Brasília e entre os empresários, no momento, estão voltadas para a proposta do Ministério das Comunicações de desenvolver um padrão próprio de TV digital.
Graves tem argumentos engatilhados para combater essa idéia. A idéia é economizar em royalties? Mas eles estão em 12 dólares por aparelho. Para o Brasil, deverão custar menos de 10 dólares , afirma o executivo. Ele lembra que a falta de escala encarece até hoje os aparelhos de TV do Brasil, que têm padrão próprio. O preço dos royalties é uma preocupação sem motivo. Não tem sentido fazer uma TV 30% mais cara para economizar 10 dólares .
Os executivos da ATSC convidaram jornalistas para um jantar em Brasília, por onde iniciaram sua viagem. Graves estava acompanhado de Wayne Luplow, vice-presidente da Zenith (empresa de equipamentos que detém a maior parte das patentes do ATSC), que exibia um broche com as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos entrelaçadas. Junto com eles veio o consultor de comunicação Thomas Bruce, experiente em regulamentação de telecomunicações e no trato com governos. A empresa de Bruce, a CLS, prestou serviços à campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso em 1998.
Como já haviam feito em visitas anteriores, os executivos do ATSC insistem na possibilidade de as empresas e institutos do Brasil participarem do desenvolvimento de novos aplicativos, junto com o consórcio, em vez de dirigir recursos para a montagem de um novo padrão. Vamos distinguir: uma coisa é reinventar a roda, outra é pegar a roda e projetar um carro de corrida. É disso que encorajamos o Brasil a participar , afirma Graves. O maior campo para desenvolvimento de software novo é a interatividade e o envio de dados do usuário para a emissora. Há muitas possibilidades em aberto. No evento em Las Vegas, em três semanas, vamos encontrar coisas novas até para nós .
O evento ao qual Graves se refere é o encontro anual da NAB (Associação Nacional de Emissoras dos EUA), que ocorre de 5 a 10 de abril. No dia 7, haverá uma demonstração da Lynx, empresa de equipamentos que faz parte do consórcio ATSC. A Lynx anunciou, na terça-feira (11/3), que chegou à quinta geração de receptores móveis de TV digital. Finalmente, foi possível segundo os executivos da ATSC dar ao mesmo aparelho a robustez e a velocidade de recepção necessária para uma TV móvel digna do nome. O custo do novo chip é apenas 2% superior ao da geração anterior , diz Luplow, da Zenith. A Lynx teria desenvolvido o receptor principalmente por causa da demanda da América Latina, já que nos EUA não há procura por esse tipo de equipamento. Nunca vi um plano de negócio razoável para TV móvel. Se alguém no Brasil ou em outro lugar tiver um, não é da nossa conta. Só atendemos ao que foi pedido , afirma Luplow.
O executivo prega que, se o Brasil decidir por outro padrão que não o ATSC, a economia de escala se perderá. Ele aproveitou para questionar a idéia do padrão comum entre Brasil e China. O Brasil exporta eletroeletrônicos para os Estados Unidos. Se tivermos um padrão comum, haverá um mercado aberto ao Brasil na América do Norte. O competidor potencial de vocês será o México , diz o vice-presidente da Zenith. Com a China, é diferente. Quantos eletroeletrônicos o Brasil exporta para a China ou o Japão? Acho que a resposta é zero , afirma ele. Luplow acredita que, no caso de um padrão comum, a China venderia para o Brasil, e não o contrário.
A agenda do grupo passa por Brasília, São Paulo, Rio e Manaus, e está repleta: inclui encontros com a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), SET (Sociedade de Engenharia de Telecomunidações), LG, Instituto Genius e CPQD. No governo, a maratona vai passar por Anatel e Ministérios das Comunicações, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento, Educação e Fazenda. Graves e Luplow querem falar de aplicativos ATSC já existentes em tele-educação e telemedicina. Para uso corporativo, os executivos mencionam treinamento à distância e o trabalho original de uma companhia chamada I-Blast em interação com um grupo selecionado de espectadores. A I-Blast usa banda de emissoras de TV digital para transmitir, durante a noite, jogos eletrônicos acessíveis apenas a uma comunidade de assinantes. Esses usuários têm direito de testar os jogos por algum tempo, até que decidam pagar para ter um deles por período mais longo.