Facebook: companhia americana rastreia 28,6% do tráfego da web em 59,5% dos sites da Internet (Andrew Harrer/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 23 de abril de 2018 às 17h15.
Os dados pessoais de dezenas de milhões de usuários do Facebook caíram nas mãos erradas e preocupam os políticos, mas o principal órgão regulador da concorrência na Alemanha está questionando o grande volume de informações que a rede social colhe.
Andreas Mundt, presidente do Federal Cartel Office, aguarda a resposta do Facebook às constatações do órgão, publicadas em dezembro, de que a empresa abusa de seu domínio no mercado ao reunir dados sobre pessoas sem o devido consentimento.
Isso inclui o rastreamento de visitantes para sites com um botão 'curtir' ou 'compartilhar' do Facebook - e páginas nas quais ele observa as pessoas, mesmo que não haja nenhum sinal óbvio de que a rede social esteja presente.
A investigação de Mundt ganhou nova relevância desde as revelações de que os dados de 87 milhões de usuários do Facebook, reunidos por meio de um questionário de personalidade online, foram passados à Cambridge Analytica, uma consultoria que assessorou a campanha presidencial de Donald Trump.
"Para o Facebook coletar dados quando eu, como usuário, estou no Facebook, isso está claro. O usuário sabe e já deve esperar isso", disse Mundt à Reuters em uma entrevista.
"O que é problemático é a coleta de dados em lugares e momentos em que o usuário não pode realmente esperar que os dados sejam coletados pelo Facebook".
O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, em depoimento perante o Congresso dos EUA, disse que a rede social rastreava as pessoas conectadas ou não à rede social - algo que a empresa disse ser "fundamental sobre como funciona a internet".
O Facebook rastreia cerca de 28,6 por cento do tráfego da web em 59,5 por cento dos sites da Internet, o que torna a empresa a quinta mais predominante do mundo atrás de várias propriedades do Google, de acordo com o WhoTracks.me.
O caso de Mundt se baseia em sua análise de que o Facebook tem uma participação de mercado de mídia social na Alemanha de mais de 90 por cento - a empresa vê o Google+ como seu único concorrente direto - tornando-se dominante em termos antitruste e não apenas popular, como o Facebook argumenta.
"Se o Facebook tem uma posição dominante no mercado, o consentimento que o usuário dá para que seus dados sejam usados não é mais voluntário", disse Mundt, 57 anos, jurista que dirige o escritório desde 2013.
"Isso porque ele não tem alternativa - ele precisa usar o Facebook se quiser usar uma rede social".
O Facebook, que tem mais de 2 bilhões de usuários em todo o mundo, descreve a visão de Mundt como "imprecisa", mas disse que cooperará com a investigação, que não resultaria em multas, mas poderia levar à proibição de algumas práticas.