Tecnologia

EI utiliza redes sociais para recrutar e aterrorizar

Plataformas como o Twitter e o YouTube permitiram aos extremistas alcançar uma audiência sem precedentes

O repórter James Foley, em 5 de novembro de 2012, em Aleppo, na Síria (Nicole Tung/AFP)

O repórter James Foley, em 5 de novembro de 2012, em Aleppo, na Síria (Nicole Tung/AFP)

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Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2014 às 15h47.

Beirute - O vídeo mostrando o assassinato de um jornalista americano pelos jihadistas é o último episódio da guerra lançada pelos extremistas nas redes sociais para espalhar o terror, mas também atrair novos recrutas.

No passado, grupos jihadistas utilizaram seus próprios meios de comunicação para divulgar mensagens e vídeos, mas, recentemente, plataformas como o Twitter e o YouTube, permitiram aos extremistas alcançar uma audiência sem precedentes.

Apesar de suas contas serem frequentemente bloqueadas, eles rapidamente criam novas sob diferentes nomes.

O vídeo que mostra o assassinato brutal do jornalista James Foley por um jihadista do Estado Islâmico (EI) foi divulgado terça-feira à noite no YouTube.

A Casa Branca confirmou nesta quarta-feira a autenticidade do vídeo da execução de Foley, que trabalhava para o site de informações GlobalPost.

A gravação traz a marca registrada dos vídeos jihadistas, com Foley vestido com um uniforme laranja, semelhante aos utilizados pelos detentos islâmicos na prisão americana de Guantánamo.

Mas, ao contrário das terríveis imagens das execuções cometidas pelos jihadistas durante a guerra do Iraque (2003-2011) e da de Daniel Pearl em 2002 no Paquistão, este vídeo foi amplamente visto na internet.

O YouTube o retirou rapidamente de circulação, mas as imagens já haviam sido reproduzidas em outros sites e os screenshots circulam nas contas jihadistas e de seus simpatizantes.

Estes utilizaram o Twitter para transmitir essas imagens e, como justificativa, postaram ao mesmo tempo imagens de atos de humilhação e tortura cometidos por soldados americanos na prisão iraquiana de Abu Ghraib.

James Foley, de 40 anos, cobriu a guerra na Líbia, antes de viajar para a Síria, onde trabalhou como freelancer para o GlobalPost, Agence France-Presse e outros meios de comunicação.

Mas na internet, os jihadistas o acusaram de ser um espião ou afirmaram que merecia morrer simplesmente por ser um americano não-muçulmano.

'Medo, terror e ódio'

"A execução do jornalista americano pelo EI é uma estratégia deliberada. Ao mostrar a brutalidade de que é capaz, o EI quer assustar seus inimigos", tuitou Abu Bakr al-Janabi, que se apresenta como um "extremista". "A intenção é causar medo, terror e ódio", escreveu ele em inglês.

Sob a hashtag #AmessageToAmerica, 'KhalifaMedia' afirma que o "EI não deixará vivo nenhum cidadão americano que não seja muçulmano no mundo árabe por causa dos ataques (do presidente Barack) Obama."

Quando os ataques aéreos americanos contra posições do EI começaram no dia 8 de agosto, centenas de contas do Twitter postaram imagens destinadas a ameaçar os americanos com a hashtag #AMessageFromISSItoUS (Uma mensagem do EI aos Estados Unidos).

Os tuítes eram acompanhados de fotos de soldados americanos chorando, fotos do 11 de Setembro e as terríveis imagens de cadáveres e de corpos desmembrados.

Os jihadistas chegaram a utilizar hashtags como #Ferguson para aproveitar as notícias de maior importância relacionadas aos Estados Unidos.

"O terrorismo é, por definição, uma estratégia de comunicação", afirma Max Abrahms, professor de Ciência Política na Northeastern University (EUA).

Segundo ele, o uso que o EI faz das redes sociais supera o da Al-Qaeda.

Ele ressalta que os recrutas do EI são muitas vezes jovens que receberam uma educação ocidental. "Esses ocidentais têm a vantagem de estarem expostos às redes sociais e seu domínio de inglês ajuda muito", diz.

Para o EI, nascido das cinzas de um grupo iraquiano afiliado à Al-Qaeda, a publicação de imagens chocantes na rede tornou-se uma "demonstração de força" e uma forma de atrair mais recrutas, segundo Abrahms.

"Enquanto a maioria das pessoas no mundo fica consternada, isso atrai elementos radicalizados da sociedade", diz o analista.

Contas suspensas

Depois da divulgação do vídeo, o CEO do Twitter, Dick Costolo, anunciou que a empresa ia suspender as contas que postassem imagens chocantes do vídeo.

O YouTube também removeu o vídeo por violar seus termos de uso, embora ele permaneça on-line em outros sites.

Os próprios usuários do Twitter tentam impedir a disseminação das imagens usando a hashtag #ISISmediablackout (blackout midiático contra o EI) para instruir os usuários a evitar a publicidade para o grupo.

"Eu não vou compartilhar qualquer foto ou vídeo de violência gravado intencionalmente e publicado pelo EI para propaganda", escreveu uma pessoa sob o pseudônimo de Libya Liberty.

Mas nesta quarta-feira à tarde, várias contas tinham voltado com outros pseudônimos. "Esses terroristas continuam voltando", disse um usuário do Twitter.

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