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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Imagine chegar em casa depois de um dia de trabalho, ligar a TV e, em vez de rodar a lista de canais, ir diretamente para um vídeo do YouTube. Seu aliado é o controle remoto, capaz de levar também a centenas de filmes, seriados e clipes de música. Você é quem escolhe o que e quando vai ver, já que a programação não está mais somente na grade da TV paga. O televisor, agora, é mais uma porta de entrada para a internet. Conectar a TV ao computador e à web ainda é uma experiência restrita aos mais afeitos à tecnologia, mas não vai demorar muito para que uma nova geração de eletrônicos invada a sala de estar e transforme para sempre a experiência do entretenimento doméstico. No começo, eram alguns poucos canais abertos, captados pelo ar. Depois veio a TV paga, com uma quantidade de opções que se conta às dezenas. Agora, o televisor será uma janela para a internet e seu mundo de conteúdo virtualmente infinito. Os telespectadores estão finalmente às portas da verdadeira televisão digital, e as emissoras e as empresas de TV paga, também. A limitação de canais imposta pelas tecnologias do século passado está prestes a cair.- e pode levar consigo o modelo de negócios da TV como o conhecemos.
A web está chegando à sala de estar pelos mais diferentes meios. A nova geração de consoles de videogame já nasceu conectada à internet. A intenção inicial era oferecer jogos online, mas no último ano começaram a surgir serviços que permitem comprar e assistir nos consoles filmes e programas de TV. Aparelhos reprodutores de Blu-ray que serão lançados neste ano também contam com funções semelhantes. Além dos filmes contidos nos discos, os tocadores agora também servem como cabeça de ponte para que serviços online possam deixar de aparecer somente na tela do computador e tomem de assalto o lugar mais nobre das casas. O movimento é semelhante ao que ocorreu na indústria da música. O formato MP3 já existia havia alguns anos, mas foi só com a popularização dos tocadores portáteis, no começo dos anos 2000, que a música digital ganhou a dimensão que tem hoje. Da mesma forma, a comodidade e a infinidade de opções de vídeos que existem na internet ainda têm de ser desfrutadas na frente do computador - mas, se depender dessa nova onda tecnológica que vem por aí, as coisas não vão permanecer assim por muito tempo.
"Queremos dar ao usuário sentado diante da TV uma experiência parecida com a que ele tem hoje no PC", diz Andrew Kippen, vice-presidente de marketing da Boxee. A empresa, cuja sede fica em Nova York e foi fundada há um ano e meio por engenheiros israelenses, é apontada como o modelo da TV do futuro. O Boxee é um programa que pode rodar no computador ou num equipamento específico, acoplado ao televisor. Quando acessado pela TV, com um controle remoto nas mãos, o Boxee lembra um sistema de TV paga. Mas logo as diferenças começam a aparecer. Em vez de uma grade de canais fixos e programação pay-per-view, o Boxee é uma central de mídia completa. Há dezenas de canais que reproduzem vídeos da internet, como os canais da liga de basquete americana, a NBA, redes como CNN e Comedy Central e mais dezenas de sites de menor porte. Além dos conteúdos da web, o Boxee exibe vídeos armazenados no computador (baixados da web ou gravados pelo usuário), fotografias e reproduz músicas.
Equipamentos como o Boxee não vão simplesmente enxotar os receptores da TV paga da sala, é claro. A demanda por conteúdo original, como telenovelas e minisséries, e programas de alto valor noticioso ou cultural - pense nas grandes coberturas jornalísticas ou em eventos como Copa do Mundo e Olimpíada - não podem ser transmitidos pela web pela simples razão de que a conta não se paga. Mas pouca gente duvida que o cerco está se fechando ao acesso quase exclusivo aos televisores desfrutado pelos grandes produtores e distribuidores de conteúdo. Em média, nos Estados Unidos, os consumidores gastam 200 dólares por mês com pacotes de telefonia fixa, banda larga e canais por assinatura. Por ano, a conta chega a 2 400 dólares. Boa parte desse dinheiro acaba sendo desperdiçada, afinal de contas o dia tem apenas 24 horas. Mesmo com a possibilidade de gravação dos programas favoritos, paga-se muito por conteúdo que jamais será assistido. "Até agora as empresas de TV paga não quiseram pensar na internet, apenas empacotavam a oferta de canais e vendiam", diz James McQuivey, vice-presidente de pesquisas da Forrester Research. "Mas agora o consumidor está mais exigente e tem mais opções de controlar o que vai ver, e quando. As empresas de TV paga precisarão começar a pensar no assunto."
O BRASIL AINDA ESTÁ DISTANTE desse novo desenho no mercado de vídeo online. Ainda são poucas as opções de conteúdo. Embora haja uma base instalada considerável de videogames por aqui, por exemplo, ainda não é possível alugar ou comprar filmes para assisti-los pelo console. Mas, no computador, os internautas assistem a muita coisa. Segundo o Ibope Nielsen Online, em novembro, 25,8 milhões de pessoas navegaram em sites de vídeos, ou sete de cada dez internautas brasileiros. Cada um desses internautas consumiu, em média, 58 minutos de vídeo por mês, desde sites como YouTube e Joost.tv até conteúdos profissionais de Globo.com, Terra TV e TV UOL. De olho nessa fatia de interessados nos vídeos da web, os fabricantes de TVs estão cada vez mais empenhados em criar produtos conectados. A Samsung lançou em junho uma linha com oito aparelhos - entre plasma, LCD e LED - com possibilidade de conexão à internet. As TVs, com preço entre 4 800 e 16 000 reais, têm ícones (widgets) para acesso a vídeos do YouTube e também notícias e previsão do tempo fornecidas pelo portal Terra. Pelo aparelho também é possível visualizar fotos e vídeos armazenados num PC. "Para manter a TV como o centro da casa, vimos a necessidade de conectá-la à internet", afirma Rafael Cintra, gerente-sênior da área de TVs da Samsung. Para 2010, a empresa pretende ampliar o escopo de vídeos online oferecidos. A ideia é aproveitar a Copa do Mundo para fechar novas parcerias em vídeo, além de acordos com redes sociais, como Facebook e Orkut.
"Por enquanto, os vídeos online não devem representar uma concorrência tão grande às TVs por assinatura. A velocidade de banda larga no Brasil ainda é muito inferior à dos Estados Unidos e com isso a visualização é comprometida", afirma Julio Puschel, analista de telecomunicações do Yankee Group. Enquanto ainda não há respostas sobre o futuro do vídeo online e das operadoras de TV por assinatura, a única certeza é que a briga está cada vez mais acirrada. E o espectador, cada vez mais poderoso.
Da internet para a sala de estar
Crescem os softwares e os equipamentos que levam a variedade e a comodidade dos vídeos do computador para a TV. Conheça alguns deles
YouTube XL: Versão do site para telas grandes, tem navegação simplificada e não traz publicidade para facilitar a visualização dos vídeos
Xbox Live (1): O Xbox Live, serviço de jogos online da Microsoft para o console Xbox, permite também ver séries e filmes, como o do serviço da locadora Netflix, com quase 20 000 títulos
Vudu (1): O serviço de vídeos em alta definição pode ser acessado com um equipamento específico, semelhante ao conversor de TV paga, ou em alguns televisores mais novos
Boxee: Cria uma central de vídeos para a TV, mesclando conteúdos da web (como o YouTube) com arquivos no computador do usuário. Pode rodar num PC ou em um aparelho ligado à televisão
Apple TV: Lançado em 2007, o aparelho armazena, reproduz e baixa vídeos e filmes digitais em alta definição da loja online iTunes
(1) Disponível apenas para os Estados Unidos