Aedes aegypti: os resultados poderão servir de base, no futuro, para o desenvolvimento de uma vacina (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2016 às 11h21.
Pesquisadores brasileiros, ingleses e norte-americanos uniram forças em um projeto que tem como objetivo mapear a resposta imunológica humana contra o vírus Zika.
Os resultados poderão servir de base, no futuro, para o desenvolvimento de uma vacina.
No Brasil, o trabalho é apoiado pela Fapesp e coordenado pelo professor João Santana da Silva, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Os parceiros internacionais são Daniel Altmann, do Imperial College London (Reino Unido), e William Kwok, do Benaroya Research Institute (Estados Unidos).
A proposta foi selecionada recentemente em uma chamada de propostas de pesquisas lançada em parceria com o Medical Research Council (MRC), do Reino Unido.
“Um dos primeiros passos será identificar quais peptídeos virais são reconhecidos pelas células humanas de defesa e induzem uma resposta imunológica. Em seguida, temos de descobrir quais células são ativadas e quais substâncias – citocinas e quimiocinas – são induzidas pelo contato com o material do vírus”, contou Santana da Silva.
A equipe sediada em Londres ficará responsável pela seleção e o desenho de algumas dezenas de peptídeos presentes no envelope viral que serão usados nos ensaios – entre eles aqueles presentes na proteína NS1, cujo papel é modular a interação entre o Zika e o sistema imunológico humano.
Os peptídeos selecionados serão então sintetizados pelo grupo norte-americano na forma de tetrâmeros, ou seja, moléculas formadas por quatro diferentes peptídeos.
“Essa é uma estratégia para agilizar os ensaios de rastreamento, pois ao colocar a célula de defesa em contato com um desses tetrâmeros testamos quatro peptídeos ao mesmo tempo. Se houver resposta, fazemos novos ensaios com cada um dos quatro peptídeos isolados”, explicou Santana da Silva.
Os ensaios in vitro com células humanas serão conduzidos na FMRP-USP. Para isso, serão usados leucócitos (as células brancas do sangue) isolados do sangue de pessoas que já tiveram Zika e se curaram e também de pacientes que estão na fase aguda da doença.
“O contato entre o tetrâmero e o leucócito é feito sobre um papel absorvente e, se houver produção de citocinas, essas substâncias ficam aderidas ao papel. Podemos então fazer ensaios para caracterizar o que foi produzido”, contou o professor da FMRP-USP.
Os peptídeos que se mostrarem capazes de induzir a resposta imune serão testados em camundongos transgênicos, capazes de expressar proteínas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês) humano.
Essa modificação genética faz com que o sistema imune do animal mimetize o humano.
“Esse modelo foi desenvolvido em Londres e, a princípio, esses ensaios seriam feitos lá. Mas estamos tentando importar os animais porque temos todas as condições de fazer os testes aqui em Ribeirão Preto”, disse Santana da Silva.
No momento, o grupo da FMRP-USP já realiza testes com diferentes linhagens de camundongo para avaliar quais são suscetíveis à infecção pelo vírus Zika.
“Testamos na linhagem C57BL/6 geneticamente modificada para não expressar os receptores paras as citocinas interferon (INF) alfa e beta, que fazem parte da resposta imune inata contra o vírus. Todos os animais ficaram doentes e acabaram morrendo”, disse Santana da Silva.
“Já os animais da mesma linhagem sem a modificação genética também ficaram doente, mas conseguiram se curar, o que é mais interessante como modelo, pois nos permite estudar qual é o tipo de resposta que está protegendo o animal – avaliar se o mais importante são anticorpos ou linfócitos do tipo TCD4 ou TCD8”, disse.