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Professor de Harvard que ataca o Google vira xerife da web

Benjamin Edelman simboliza uma nova safra de detetives de aluguel que faz cumprir as normas de comportamento on-line


	Homem ao teclado: Edelman é “um assombroso estudioso da internet”, disse Alvin Roth, economista ganhador de um prêmio Nobel
 (Simon Stratford)

Homem ao teclado: Edelman é “um assombroso estudioso da internet”, disse Alvin Roth, economista ganhador de um prêmio Nobel (Simon Stratford)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 22h45.

Boston - Benjamin Edelman aprendeu a se mover pelos matagais éticos da internet desde muito jovem. Ele também descobriu como ser pago por esse conhecimento.

Aos 19 anos, no segundo ano em Harvard, ele ganhou US$ 400 por hora como perito para a Liga Nacional de Futebol Americano contra a difusão não autorizada pela internet. Em seu último ano na faculdade, a União Americana pelas Liberdades Civis o contratou, a US$ 300 por hora, para se opor à utilização pelo governo de filtros de informação nas bibliotecas.

Agora no corpo docente da Faculdade de Negócios de Harvard, Edelman simboliza uma nova safra de detetives de aluguel que faz cumprir as normas de comportamento on-line.

Edelman é “um assombroso estudioso da internet”, disse Alvin Roth, economista ganhador de um prêmio Nobel, que foi seu mentor e colega em Harvard. “Lá fora é o Velho Oeste e Ben é o xerife”.

Edelman, um professor-adjunto de 33 anos de idade, mescla bolsa de estudos, consultorias lucrativas e uma versão digital do ativismo estilo anos 1960 de sua família, inclusive o de sua tia, Marian Wright Edelman, defensora dos direitos civis e das crianças. Ao descobrir crimes na internet, suas várias funções colocaram seu próprio trabalho sob vigilância.

“A internet é o que fazemos dela”, disse Edelman, que chegou ao seu escritório na Ivy League usando jeans e tênis sneakers, nesta semana, após viajar de bicicleta pelas ruas nevadas de Boston. “Nós podemos dar forma a isso por meio de diligência, expondo as pessoas que a tornam pior do que deveria ser, como a vigilância de bairro ou o vizinho intrometido que grita com você quando você joga a ponta do cigarro na rua”.

Campanhas pagas

Diferentemente de blogueiros que há muito formaram uma força policial voluntária na internet, Edelman embarca em campanhas pagas que levantam questionamentos sobre se ele pode continuar sendo objetivo em suas funções acadêmicas como pesquisador e professor.


Em um movimento que aumentou sua fama no mercado de ações e levou a uma disputa a respeito de suas revelações financeiras, ele publicou um blog no dia 28 de janeiro que acusou a fornecedora de vídeos e anúncios de internet Blinkx Plc de usar um software camuflado para inflar as contagens de tráfego. Sua postagem fez com que as ações da Blinkx registrassem a maior queda na história da empresa.

A Blinkx respondeu ao ataque de Edelman com um comunicado em que diz que a empresa “refuta veementemente” suas afirmações e conclusões. Harvard pressionou Edelman a contar mais coisas sobre seus clientes, levando-o a revelar que entre eles havia dois investidores americanos. Seus nomes ainda são desconhecidos.

Embora se oponha a algumas gigantes, como a Google e a Facebook, Edelman trabalhou para outras, como a Microsoft. A Google disse que ele é tendencioso e que não foi franco o suficiente para divulgar que é um consultor pago pela Microsoft.

Investigação da FTC

Edelman ganha mais com atividades externas do que com seu salário de professor, o que não é incomum no corpo docente das faculdades de negócios, disse ele. Seu trabalho influenciou a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) e o Gabinete do Procurador-geral de Nova York, entre outros reguladores, em suas investigações às empresas.

“Ele é metade acadêmico e metade detetive cibernético”, disse Ken Dreifach, ex-diretor do escritório de internet do Gabinete da Procuradoria-geral de Nova York, cujos promotores acompanharam as postagens no blog de Edelman ao moverem processos contra empresas que usam softwares maliciosos.

Edelman deverá se tornar professor titular, garantia de um emprego seguro na universidade, no final de 2015. Embora ele tenha credenciais, como formação em Direito e doutorado em Economia, ambas por Harvard, seus ataques contra empresas não são comuns na Faculdade de Negócios, uma instituição mais conhecida por estudos de casos que celebram companhias de sucesso.

Quando sua promoção de professor-assistente para professor-adjunto foi avaliada, alguns anos atrás, Edelman disse que um examinador externo contactado pela instituição escreveu uma carta crítica: “Ben parece não gostar das empresas. Eu pensei que essa era uma faculdade de negócios”. Ele foi promovido assim mesmo.


Telefonemas de investidores

Cerca de duas vezes por mês, Edelman fala por telefone com investidores que buscam sua contribuição a respeito de empresas. Edelman recebe US$ 800 por hora e não pergunta se os investidores estão apostando a favor ou contra a empresa, disse ele.

Ele disse que seu principal trabalho externo não realizado para Wall Street é uma espécie de serviço de detecção automatizada de fraude para anunciantes.

Edelman coordena 150 computadores, 24 horas por dia, em 80 locais em nove países. Os computadores buscam softwares maliciosos, incluindo o tipo que faz com que os clientes paguem por um tráfego de internet inflado.

Seu sistema expõe truques como o de levar secretamente um consumidor para múltiplos sites ou mostrar a ele pop-ups não solicitados.

Edelman tem 30 a 40 clientes, que lhe pagam cada vez que seus computadores geram relatórios para eles -- cerca de 1.000 vezes por ano. Edelman não revela a tarifa que recebe por cada relatório.

Combatendo malwares

Um de seus clientes, a unidade de crimes digitais da Microsoft Corp., diz que suas técnicas ajudaram a empresa a combater softwares maliciosos e alertar a polícia.

“Ele é o Doogie Howser do trabalho de investigação on-line”, disse Richard Boscovich, da Microsoft, referindo-se ao médico adolescente fictício da TV. Boscovich, um ex-promotor federal, é conselheiro-geral assistente da unidade de crimes digitais da empresa.

Monitorando usuários

Em vários artigos e blogs ao longo dos anos, Edelman disse que o Google desestimulava os anunciantes a utilizarem os serviços dos concorrentes, privilegiando seus próprios serviços nas buscas, e que monitorava a navegação mesmo depois que os usuários desativavam o recurso.


Em 2010, depois que Edelman criticou a Google durante uma conferência da Associação dos Anunciantes Nacionais, o diretor da empresa mandou um e-mail aos participantes desculpando-se pelo fato de não ter revelado antes que o professor era um consultor pago pela Microsoft. No ano seguinte, a Google Inc. disse publicamente que Edelman era tendencioso por ser “há muito tempo um consultor pago pela Microsoft”.

“A única tendência de Edelman é na direção de proteger os consumidores de crimes cibernéticos e de outros obscuros personagens on-line”, disse Jack Evans, porta-voz da Microsoft. Edelman é “sem dúvida transparente” a respeito de ter a empresa como cliente, disse Evans.

Edelman publicou ontem uma postagem de blog chamada “Secret Ties in Google’s ‘Open’ Android”. Restrições contratuais pouco conhecidas mostram que, para obter aplicativos da Google para telefones celulares, as fabricantes “concordam em instalar todos os aplicativos” que a empresa especifica, “com o destaque” que ela exige, escreveu ele. No documento, ele diz: “eu trabalho como consultor para várias empresas que competem com Google”. A porta-voz da Google Inc., Niki Christoff, preferiu não comentar.

Divulgações do Facebook

Edelman também criticou o Facebook, revelando em 2010 que a rede social divulgou os nomes dos usuários e outros detalhes pessoais para anunciantes. Na época, a empresa disse que havia sido um “descuido” que foi “consertado rapidamente”. Um porta-voz do Facebook preferiu não fazer mais comentários.

Edelman disse que não vai moderar suas investigações corporativas com a proximidade de sua posse.

“Eu sou quem eu sou”, disse ele. “Não posso parar de ser eu mesmo”.

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