Repórter
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 14h06.
“Neste século, os humanos poderão viver até 150 anos.” A frase, dita por Xi Jinping em um momento de bastidores com Vladimir Putin e Kim Jong-un, antes da parada militar em Pequim, parecia mais saída de ficção científica do que de um encontro entre três dos líderes mais poderosos do planeta. Mas o sonho de alongar a vida até limites quase inatingíveis está longe de ser novo.
Microfone aberto revelou Xi Jinping dizendo a Putin e Kim Jong-un que humanos poderão viver até 150 anos, em uma conversa sobre imortalidade e transplante de órgãos
A lenda conta que o Japão nasceu do desejo de derrotar a morte. No século III a.C., o alquimista Xu Fu teria partido da China em busca da fonte da imortalidade, levando milhares de jovens em uma expedição pelo Pacífico. Jamais retornou — e, segundo versões mitológicas, teria fincado raízes nas ilhas que dariam origem ao país que hoje ostenta a maior proporção de idosos do mundo. Ali, quase um em cada três habitantes já passou dos 60, e 10% têm mais de 80.
Do mito à biotecnologia, a busca pela longevidade atravessa a história humana. O americano Bryan Johnson, 48, desembolsa US$ 2 milhões por ano em dietas ultrarrestritivas, suplementação e transfusões de plasma para tentar reverter seu corpo ao estado de um jovem de 18 anos. Já a USP, no Brasil, investiga o genoma de superidosos acima dos 95 anos para entender se a chave da longevidade está no DNA ou nos hábitos.
A resposta até aqui: genes contam, mas pouco. Pesquisadores estimam que apenas 20% da longevidade depende da herança genética. Os outros 80% estão ligados ao ambiente, às escolhas de vida e, sobretudo, às condições sociais.
Foi essa perspectiva que levou o pesquisador Dan Buettner a percorrer as chamadas blue zones — regiões do mundo com alta concentração de centenários, como Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Ikaria (Grécia), Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda (EUA). Ali, as rotinas se repetem: laços sociais fortes, propósito de vida, alimentação majoritariamente vegetal, atividade física leve e constante, além de sono regular.
Cientistas ainda debatem se existe um teto biológico para a vida. A francesa Jeanne Calment chegou aos 122 anos, recorde mundial. Um estudo publicado na Nature Communications sugere que a barreira natural pode ser de 150 anos, número coincidentemente citado por Xi. Outra corrente é mais otimista: com avanços em genética e biotecnologia, talvez seja possível ultrapassar essa marca.
Por ora, a história mostra que o Homo sapiens vem empurrando esse limite com marcos civilizatórios: saneamento, vacinas, antibióticos, alimentos em escala. Em quatro séculos, a expectativa de vida quase quintuplicou, chegando a 72,8 anos em média. Hoje, mais de 1 bilhão de pessoas já têm mais de 60, número que deve dobrar até 2050.
Mas a grande questão talvez não seja se viveremos 150 anos, e sim como viveremos os anos extras. Estudos apontam que em muitos países se passa ao menos uma década a mais com doenças crônicas e limitações. Logo, a medicina pode prometer mais tempo, cabe à sociedade decidir o que fará com ele — e se estará disposta a transformar quantidade em qualidade