Tecnologia

Polo de pesquisas busca diversificação além do petróleo

Polo tecnológico, que juntamente com a UFRJ já recebeu estimados cerca de R$ 2 bilhões, agora aguarda a conclusão das obras da L'Oréal e da Ambev


	Petróleo: parque ganhou visibilidade entre 2007 e 2012
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Petróleo: parque ganhou visibilidade entre 2007 e 2012 (Arquivo)

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Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2016 às 18h48.

Rio de Janeiro - Em um dia quente típico de dezembro na cidade sede dos jogos olímpicos, a multinacional de tecnologia EMC lançou em 2011 a pedra fundamental de seu centro de pesquisas na área de petróleo, sem imaginar que poucos anos depois teria que diversificar devido a uma crise da indústria petrolífera, que reduziu vertiginosamente seus investimentos em inovação.

A surpresa não veio apenas para a EMC, mas também para diversas empresas gigantes de petróleo que se instalaram ao seu lado no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no embalo das descobertas do pré-sal e dos preços mais altos do petróleo no passado.

Mas o diretor-executivo do Parque Tecnológico, José Carlos Pinto, busca formas de evitar que o empreendimento seja mais uma das vítimas da crise do setor de óleo e gás e foca na diversificação, agora que a Petrobras enfrenta uma crise e investe bem menos e os preços do petróleo estão abaixo da metade do que valiam há dois anos.

"O foco inicial nesse setor (de petróleo) em particular...faz todo o sentindo do mundo... o setor foi importante, é importante... Mas eu entendo que desde o início o parque nunca foi pensado em um parque temático de óleo e gás", disse Pinto à Reuters.

O polo tecnológico, que juntamente com a UFRJ já recebeu estimados cerca de 2 bilhões de reais em investimentos, sendo a maior parte da indústria petrolífera, agora aguarda a conclusão das obras da empresa de cosméticos L'Oréal e da de bebidas Ambev, cujos prédios já começam a ganhar forma.

Além disso, há tratativas avançadas para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma das mais importantes instituições de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, arrendar uma das últimas áreas disponíveis no local.

Enquanto isso, empresas com foco em petróleo que lá se instalaram, como as norte-americanas Baker Hughes, Schlumberger, Halliburton e FMC, enfileiram-se em quarteirões recém-construídos e dividem o amargor da capacidade ociosa, pressionados pela cotação do petróleo, de acordo com especialistas ouvidos pela Reuters.

"Escolheu-se o Brasil pelas condições do pré-sal, pelo que a Petrobras representa para o setor... os eventos que estavam acontecendo no Rio, toda visibilidade que a cidade trazia justificava colocar o centro de pesquisa aqui", afirmou à Reuters o diretor de operações da EMC, Fred Arruda.

Fundado em 2003 e localizado em uma ilha na Baía de Guanabara, cartão postal do Rio, o parque ganhou visibilidade entre 2007 e 2012, após as descobertas do pré-sal, lembrou o ex-diretor e fundador do Parque Tecnológico, Maurício Guedes.

"Com o anúncio do pré-sal em 2007, a vocação foi acentuada, então recebemos um conjunto impressionante de grandes empresas, o parque tem hoje um número muito maior de empresas pequenas do que grandes, mas é famoso pelas empresas grandes", disse ele.

Mas os investimentos totais obrigatórios de petroleiras em pesquisa, desenvolvimento e inovação caíram quase 30 por cento, entre 2014 e 2015, para 1 bilhão de reais, com baixos preços do petróleo, crise financeira na Petrobras e falta de atratividade na regulação do setor no Brasil.

REIVENÇÃO

A EMC inaugurou seu prédio no parque em 2014 e logo precisou se reinventar, com prospecções também nas áreas financeira, de telecomunicações e de saúde.

Como um dos seus principais focos é estudar maneiras de compactar grande volume de dados, com a maior velocidade e a menor perda de qualidade possíveis, não foi difícil à EMC se readaptar às novas demandas --dezenas de patentes da companhia já foram depositadas a partir do centro.

"(O setor de petróleo) continua sendo prioridade, mas não tem mais exclusividade, porque as próprias demandas da EMC no Brasil e na América Latina pedem que a gente, enquanto área de inovação, olhe para outras indústrias", disse Arruda, da companhia de tecnologia da informação.

Nessa linha, o diretor do parque tecnológico ressaltou que a diversificação do centro, que atualmente tem cerca de 90 por cento das empresas instaladas voltadas ao setor de petróleo, é uma de suas principais missões.

"A diversificação do parque não é um movimento econômico é um movimento acadêmico", defendeu Pinto.

Exemplo disso é a GE, a primeira grande empresa a abrir as portas no local sem focar apenas o petróleo, em 2014.

Ela também atua em setores como energias renováveis, aviação e saúde.

Da mesma forma, a L'Oréal deverá concluir no primeiro semestre de 2017 um centro para o desenvolvimento de produtos para cabelos, prioritariamente, mas que também buscará soluções para pele, corpo, unhas e desodorantes.

A ideia é criar produtos com fórmulas adaptadas a especificidades do consumidor brasileiro, disse a empresa de cosméticos, que está instalando o seu polo de pesquisa em um bucólico local, avistado da Ponte Rio-Niterói, na chamada Ilha do Bom Jesus, por abrigar uma igreja do século 18 com o mesmo nome.

"Para nós, é sempre interessante estar rodeados de empresas que buscam a inovação, independentemente da área, afinal inovação está em nosso DNA! Teremos vizinhos de grande prestígio como GE e Ambev", disse a companhia à Reuters por e-mail, destacando ainda a parceria com a universidade.

A obra da Ambev também já está bastante adiantada. Seu prédio no parque será o principal centro de inovação e tecnologia cervejeiro na América Latina e um dos principais do mundo, informou a companhia.

Em uma área de aproximadamente 20 mil metros quadrados, o centro da Ambev deverá contratar diretamente cerca de 60 pessoas, com potencial para chegar a cem vagas nos anos seguintes.

O parque também trabalha para aumentar o número de empresas pequenas e médias e para implementar medidas de humanização, estimulando a interação das pessoas que lá trabalham. Um exemplo recente foi a realização de um evento de "food truck", atraindo estudantes de nutrição e gastronomia da UFRJ para o polo.

O local conta com aproximadamente 55 empresas, sendo 14 consideradas grandes, sete pequenas e médias, além de sete laboratórios e cerca de 25 startups.

Entre 2010, ano da instalação da primeira grande empresa, a Schlumberger, e 2015, os centros de pesquisa abrigados pelo parque realizaram 56 depósitos de propriedade intelectual no Brasil, sendo 15 deles no ano passado.

O FUTURO DO PETRÓLEO

Apesar do forte movimento para uma expansão do parque em outras direções, há a expectativa de uma recuperação dos investimentos no setor de petróleo, que sempre foi uma vocação do Estado do Rio de Janeiro.

"Você tem uma estrutura absurda, mas não tem justamente os projetos... é uma crise muito séria, tem que haver uma discussão sobre como não deixar morrer esse projeto do parque", afirmou o professor e pesquisador do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, Edmar de Almeida, citando o impacto dos problemas causados pela queda do preço do petróleo.

Por lei, as petroleiras devem direcionar 1 por cento da receita bruta de campos sob regime de concessão com alta produtividade para pesquisa, desenvolvimento e inovação. Pelo menos metade do volume de recursos deve ser aplicada em uma universidade ou instituição de pesquisa credenciada pela ANP.

"2016 foi um ano difícil no mercado como um todo, esse crescimento foi interrompido, mas a gente espera que, no momento que o país permitir, a gente volte a crescer com os negócios do mercado", afirmou Arruda, da EMC, ao receber a Reuters em seu centro de pesquisas, em um dos invernos mais frios da história recente da cidade.

O clima difere bastante do calor de 2011, quando no início da construção da unidade tecnológica da EMC ninguém poderia imaginar uma derrocada tão forte dos preços do petróleo, o tamanho do escândalo de corrupção da Petrobras ou mesmo a crise política do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

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