Donald Trump: presidente dos EUA (Ludovic MARIN/AFP)
Redator
Publicado em 30 de junho de 2025 às 10h57.
Em todo o mundo, o consumo de energia tem aumentado significativamente nos últimos anos. Seja pelo crescimento econômico de países como China e Índia, pelo maior uso de dispositivos elétricos ou, no caso principalmente de nações avançadas, pela demanda crescente de data centers e inteligência artificial.
Nesse contexto, o projeto de lei orçamentário de Donald Trump, o "One Big Beautiful Bill", tem gerado vasta controvérsia por potencialmente aumentar a dívida nacional, a desigualdade de renda e, ainda, paradoxalmente, atacar o fornecimento de energia dos EUA.
Se versões anteriores do BBB eliminavam subsídios para energias solar e eólica, a nova proposta, em discussão no Senado, vai além e adiciona um imposto sobre essas fontes renováveis. Essa medida, aplicável a projetos futuros e até mesmo àqueles sem créditos fiscais, poderia aumentar os custos de 10% a 20%.
Assim como uma série de outras medidas tomadas pelo governo Trump, a justificativa é promover a produção doméstica e combater materiais chineses. Críticos, entretanto, apontam que a redação impõe exigências complexas e inviáveis, além de favorecer a indústria de combustíveis fósseis.
Se aprovado, o BBB taxaria energia nuclear, geotérmica e armazenamento de bateria, enquanto subsidia o carvão. Por isso, Michael Thomas, da Clearview Energy, projeta o cancelamento de mais de 500 gigawatts de fornecimento de energia nos EUA, o que levaria a aumentos substanciais nas contas de eletricidade para os americanos.
Estados como Oklahoma e Texas, por exemplo, poderiam ver seus custos subirem em 18% até 2035, segundo o Energy Innovation, pois teriam que depender mais do gás natural. Curiosamente, no republicano Texas, a expansão da energia solar e do armazenamento em baterias tem sido crucial para evitar blecautes em picos de demanda, um benefício que a política de Trump parece ignorar.
Por isso, pesquisas de opinião mostram que o projeto é amplamente impopular, inclusive sobre a base eleitoral do presidente. Restam poucas dúvidas de que o objetivo real é atacar as novas tecnologias de energia renovável, como confessou Chris Wright, Secretário de Energia dos EUA.
Recentemente, a Palantir Technologies e a Nuclear Company firmaram um acordo com o objetivo de usar inteligência artificial para acelerar e baratear a construção de usinas nucleares, visando competir com a crescente concorrência chinesa.
Em maio, Trump assinou ordens executivas prevendo a construção de 10 reatores nucleares de grande porte até 2030, buscando expandir a capacidade dessa fonte para 400 gigawatts até 2050. Big techs como Amazon, Google, Meta e Microsoft também têm investido ou feito acordos para compra de eletricidade de startups nucleares.
Entretanto, a construção de usinas nucleares é um processo lento. Enquanto não fica pronta, o governo Trump parece mais focado em atacar as fontes renováveis já existentes e defender os interesses da lucrativa indústria dos combustíveis fósseis.